ANTÍTESE DO SAGRADO

Parte 1

*Por Antônio F. Bispo

Dizem os líderes religiosos e os “sábios” de toda religião que sobre as divindades não se pode comentar, redarguir ou duvidar, apenas deve-se obedecer.

Essa é a justa receita para a imbecilização das massas e fortalecimento do poder dos que dizem representar as divindades. É do silencio forçado e da servidão inconsciente que os tiranos de todos os povos tem se erguido desde sempre.

Há eras que os que se metem à questionar os fundamentos da servidão religiosa tem sido retratados como imorais, insuportáveis e sem escrúpulo algum. Além da chacota coletiva, várias outras penalidades podem lhe ser impostas, inclusive a tortura e a morte. Foi assim no passado e tem sido assim até hoje nos lugares “onde deus governa”.

Às ovelhas mudas, aos desesperados, aos iludidos e aos cafajestes reis da hipocrisia, cuja divindade reside apenas em seus lábios e em suas palavras vãs, à esses todo o mérito e respeito. Aos que agem como se fossem capitães do mato resgatando os “escravos fujões” aos seus antigos donos, sua recompensa será ainda maior. O troféu dos tolos será sempre o louvor vazio dos que os manipulam e os fazem ser sentir heróis de conquistas imaginárias ou de batalhas nunca combatidas. No pódio da insanidade eles sobem e a medalha da ignorância, do medo e da ganancia lhes será garantida sempre. Ordem do mérito será de acordo com o tamanho da besteira feita em nome da fé.

O confisco da razão ocorre toda vez que alguém decide ser um “servo de deus” numa suposta casa de deus, administrada por um “ungido do senhor”.

-Sai desse corpo. Ela não mais te pertence!

Essa é a voz inaudível que todo dono de igreja diz ao processo racional de um crente quando ele “se entrega aos caminhos do senhor”.

É preciso porem deixar claro (principalmente aos que permanecerão na servidão religiosa) que tudo o que foi dito a respeito dos deuses, dos seus supostos poderes e daqueles que dizem representa-los, pode ser questionado, repelido ou abandonado após elucidação e não há crime algum nisso. Se haverá castigo, isso só dependerá do seu nível de dependência dos “amados irmãos” ou de sua capacidade de suportar os tsunamis de maldições e ameaças que virão por aqueles que “estão cheios de deus no coração” após seu desligamento da igreja.

No campo religioso tudo é volúvel, dependendo apenas do observador e dos argumentos feitos contra ou à favor do observado (no caso, as divindades e os seus representantes). O conceito de deus nunca foi o mesmo em todos os povos ou todas ou lugares onde eles surgiram. Teólogos e pensadores capazes de redesenhá-los sempre que quiser. Reis e políticos também podem por meio de leis ou decretos aumentar ou diminuir o poder de abrangências deles. Deus nenhum nunca foi visto dizendo aprovar ou reprovar tais ações.

É na obediência cega que os deuses “crescem” e é na construção de argumentos sólidos que eles definham, deixam de existir ou tomam formas diferentes.

A esperança numa solução imediata vinda de uma divindade independe de fatos ou argumentos. É apenas uma das diferentes formas da manifestação do desespero humano diante da dor e do desconhecido, bem como um meio de exprimir um desejo oculto de ser (fantasiar) o que não se é. Propósitos ou induções diversas podem estar envolvido nesse ato e a paranoia de uma fiel em momento algum se permitiria assumir estar errado.

O processo religioso por sua vez requer algo simbolicamente mais sólido a exemplo de várias pessoas fazendo a mesma confissão por um longo período.

Com um número considerável de crédulos um rito é formado. Depois surge um culto e após isso nasce uma igreja com um líder.

Para que esta se torne uma religião, basta apenas o uso do terror físico ou psicológico nas pessoas, subjugando inclusive outros deuses, cultos ou ritos, bem como perseguir os livres pensadores e cientistas que não fazem parte da paranoia coletiva.

Diferente do que se prega, a paz, o amor e a compaixão nunca foram métodos válidos para fazer com a religião venha se expandir. A espada, o boicote, os falsos milagres e a criação de problemas para depois apresentar uma solução, sempre foram os meios pelos quais os “deuses” ganharam adeptos.

Se um homem “sem deus” é como um peixe sem uma bicicleta (ou seja, não faz diferença alguma), no universo do homem “com deus”, o mesmo peixe além da bike, dependerá também de um par de patins, empinar pipa, dirigir um carro e tocar piano para continuar existindo, senão dirão que sua existência está emaçada pelos tubarões do demônio. Nesse universo fantasioso, eles descreverão que o peixe conseguiu fazer tudo isso ao mesmo tempo de “olhos vendados e com as mãos amarradas atrás das costas”, pois pela fé, tudo é possível ao que crer.

Eu digo porém, que pelos olhos da fé, quase tudo é desnecessário, inoportuno, tendencioso e mirabolante. Os “olhos da fé” não é uma capacidade física ou intelectual que o fiel adquire ao “receber o espirito de deus em sua vida”. Pode ser apenas um estado de burrice consentida para que por meio desta mesma (burrice), possa ser inserido e “amado” no grupo qual decidiu adentrar. Não tem serventia alguma, e na hora do aperto, todos esses que dizem possuir tal aparato dos deuses, irão correr para os hospitais, farmácia, delegacia ou recursos que outros humanos “falhos, pecadores e sem fé” correrão.

O tempo que perdemos aprendendo boas maneiras para nos portamos diante dos deuses, teria melhor resultados se o aproveitássemos melhorando nossa diplomacia com uma pessoa apenas ou com uma nação inteira, afinal se vivemos com humanos “falhos e pecadores”, por quer desperdiçarmos tempo ensaiando bons modos para nos apresentarmos diante de “seres perfeitos e imortais”? Sem falar, que boa parte desses ensaios dizem respeito a não comer, beber ou vestir algo, bem como a guarda de dias santos. Isso seria irrelevante se levados diante de seres que não possuem um corpo físico e já superaram todos os estágios primitivos das emoções humanas.

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Nessa série de textos curtos pretendo abordar os assuntos que mais perturbam o âmago de alguns crédulos e os fazem perder o sono quando pensam em deixar o meio que frequentam. Me refiro àqueles cuja lucidez tenta sair por algum “buraco” do corpo, mas o medo do inferno os trazem de volta ao universo sombrio onde o diabo domina e estraga tudo e deus sem fazer nada, apenas assiste o sofrimento dos seus servos como se fosse um voyeur pervertido.

Ao polarizar o mundo (constructo físico) e todas as ações dos homens com termos do tipo certo ou errado; bom ou mal; sagrado ou profano e tantos outros rótulos simplórios, a religião faz com que o todo processo de pensamento humano fique travado e o fiel não mais reflita, compare ou indague o que está ao seu redor, passando a aceitar ou rejeitar tudo de forma mecânica e instantânea.

Nesse ponto, o deglutir de ideias já não existe e qualquer conflito interno será reprimido com sussurros de “o sangue jesus tem poder”, “tá repreendido satanás” ou “o meu lugar nos céus você não tira, demônio”!

Isso não é nada mais é que o cérebro tentando pegar no tranco, querendo funcionar outra vez e a não deixa. Pensa que o demônio está tentando possuí-la, mas não é.

O conhecimento modifica as ações e os pensamentos dos homens. Logo quem o adquirir poderá ser expulso de algum paraíso se não corresponder aos padrões de burrice socialmente aceitos.

Se pensar fosse um crime, o próprio “criador” não nos teria feito um ser pensante, não acham?

Tão perigosa quanto a polarização eclesiástica é o ato preguiçoso de querer resumir milhares de anos de experiências sociais e evolução do pensamento com uma curta frase do tipo DEUS NÃO EXISTE, achando que com isso encerrou-se tudo o que se tinha pra falar sobre o assunto e um impasse milenar fora resolvido com essa “palavra mágica”.

Em vista disso, resolvi abordar de maneira resumida os principais pontos da fé cristã (e outras em alguns casos), de modo que o leitor (ainda preso em laços) consiga obter por si mesmos a resposta que procura (caso esteja procurando).

O mesmo tema poderá ainda aclimatar ainda mais o diálogo entre pessoas inteligentes, com opiniões divergentes sobre um assunto, que na falta de argumentos partem para ofensas mútuas.

Nem todos desejam bater boca ou sair do tom em um debate sobre assuntos delicados, mas em alguns casos o fazem por falta de estrutura emocional ou argumentos convincentes. Alguns acham que perder um debate é como perder a própria vida, a moral ou a honra. Em alguns casos, um debate é apenas um conflito de egos. Em outros é uma ponte para um estado evolutivo quando pelo conflito de ideias, o assunto debatido abriu portas para um outro tipo de entendimento.

Para os “donos da verdade” porém, não há nada que se possa ser feito sendo este um religioso ou não. A vontade de humilhar o outro ou torná-lo um ser vil após “humilhado”, supera o desejo de viver harmoniosamente com todas as criaturas.

As pessoas que mais deixaram suas marcas no mundo não o fizeram por meio de violência física ou verbal, antes sim, a sobriedade de suas palavras e a racionalidade de suas ideias fizeram com que novos horizontes pudessem ser visto além daqueles das limitações de sua época.

Lembrado sempre que não existe assunto polêmico. Existem pessoas emocionalmente comprometidas ou despreparadas para debatê-los e existe também o que se beneficia da ignorância alheia e desse modo tornará vil e condenatório qualquer abordagem ao assunto que o libertará.

Vamos então aos tópicos:

1. Deus não é o nome um ser! É uma ideia coletiva. É um título místico atribuído àquilo que para um povo representa o sobrenatural, o metafisico ou tudo o que uma mentalidade tacanha não consegue explicar. Deus é um conceito. É um consenso público forjado por povos de uma mesma época e local, cujos atributos podem ser adaptados, adicionados ou subtraídos por outras gentes de acordo com os interesses de quem o usa. Quanto mais oprimida, faminta, indefesa e sofredora for uma comunidade, mais enraizada estará o conceito de deus no âmago desta gente. Por consequência disso, mais explorada e manipulável esta será pelos líderes religiosos e políticos que as regem. Apontar soluções inexistentes para problemas reais é o princípio básico para tornar cativa toda sociedade. O “reino de deus” em alguns casos pode ser semelhante ao “reino do tráfico”: eles aumentam com a omissão do estado! Ambos os “reinos” poderão servir de entrave ou de auxílio aos políticos locais à depender das negociações feitas de modo que um não interfira nos negócios dos outros. Tão nefasto quanto um estado opressor, é um estado omisso que deixa que forças malignas explorem os seus cidadãos, principalmente quando esse mal vem transvestido de anjo de luz (princípios religiosos).

CONTINUA...

Texto escrito em 01/01/2022

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 01/01/2022
Código do texto: T7419651
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