NATAL
Então é natal - todos disseram - enfeitados com seus sorrisos de pura hipocrisia. Ele considerava o natal mero atrativo para os cegos de humanidade. Ninguém os via, todos os ignoravam. Pelas calçadas deste natal promiscuo e excludente havia inúmeras famílias sem dentes. Pai, mãe, filho, tio, sobrinho todos à exposição desta grande desumanidade. Ele via um natal pobre em todos os cantos da cidade. Ignorados, isolados e com frio era todo ano o pobre rico natal vazio. A mercê de sua existência se viu resgatado pelos excluídos da sarjeta. A pobreza que circundava os natais daquela época se apregoava em pratos finos e talheres caros. Quando a hipocrisia do urbano deixará o cotidiano? O natal mais lindo que recebeu foi doado pelo sorriso de um banguela. Porque ali sim existia vontade de sorrir.