As mitologias subjetivas e os ensejos embriagados que vagavam por caminhos sinuosos

Há momentos que precisam ser estudados devido a intensa transformação que trazem intrínsecos. Encontrei uma saída para a angústia torpe que por vezes se instalava sorrateiramente como um monstro voraz que devorava o tempo com uma ansiedade latente e uma falsidade, uma vertente de sentimentos. Tudo surgiu como um estalo e sem motivo certo, algo que fora uma distração encontrada onde não havia propósito. Parado em um ponto de uma das artérias de concreto da selva de pedra pude observar que tudo agia como máquina, como um ser que era agitado e que nunca descansava. Essa máquina era movida a um combustivo humano, a um senso de propósito que obedecia a sua própria regra e que era benéfico, mas que também carregava suas intempéries e que isso cegava os participantes, seres que como combustível vivo se moviam rapidamente e ferozmente em direção a afazeres diversos. Essa máquina, meio viva, meio ser automático, regurgitava uma vez ou outra seus excedentes, eram nada mais que acidentes de um ciclo chapante que ignorava as próprias causas. Depois pude notar que tudo era rotina, tudo era um hábito imposto e muito bem arbitrado numa sucessão de causas sem um frêmito de luz que exalasse um ou outro relance poético. Com o tempo fui percebendo que havia subterfúgios, haviam escapes, haviam fugas e meios de contornar frestas de luz no que era uma rotina escura e monótona em um emaranhado de significados subjetivos que poderiam ser uma nova expressão. Existiam muitos caminhos circundantes, pequenas estradas que podiam ser percorridas de vários modos que poderiam produzir um escape a essa monotonia.

Mas depois de um tempo isso não era só caminhos esparsos que abundavam em todas as direções. Eles teriam que ter um sentido. Vagar por eles deveria ter um sentido, objetivo e subjetivo. Teria que ter uma paixão, um significado, isso deveria ter um conteúdo, não uma filosofia ou outra teoria, mas um misto de paixão e poesia e filosofia e vários outros substantivos que traduzissem sua essência em algo mais, em um mundo a mais, que trouxesse também inspiração e uma nova forma de ver horizontes e ver que haviam linguagens a serem descobertas. Tudo isso se traduzia numa forma de pensar e imaginar mundos e aprender a lê-los em sua forma correta, adicionando significados com numa filosofia que encontrou um lugar de ser onde seria uma nova abordagem, algo que seria um caldo poético extraído das entranhas da terra, do corrente fluxo místico do curso das águas, da leveza sutil dos ventos em suas diversas direções e do calor do fogo que aquecia e abafava. Seria isso pequenas fugas da realidade monótona da máquina bestial que imolava mentes em sacrifício dentro da rotina pulsante. Como uma filosofia isso era um objeto que dialogava com suas partes dando sentido à um todo mais orgânico, criando sua própria linguagem e adormecendo pensamentos numa aquarela de significados sutis. Era a filosofia de um dia ensolarado e ao mesmo era sobre descobrir caminhos e entender uma linguagem do tempo e a soma de infinitas possibilidades de uma poesia latente. Era sobre vagar sem sentido e sem rumo definido, era sobre caminhos que levavam a um ponto, mas que também era alimento de uma poética pulsante, latente e verborrágica que queria se transmutar numa aquarela de significados e sons que aguardavam seu momento de se propulsar em milhões de direções buscando encontrar sentidos diversos.

Sempre temos histórias para contar que fizeram uma nova versão de si mesmos, para fazer de um simples fato algo novo que se interpõe em nossa pequenez diante do mundo e uma mitologia pessoal onde somos mais que simples seres pensantes que abundam por aí. Falo aqui de uma mitologia subjetiva, uma narrativa solitária e fantástica de elementos sutis e grandiosos que causaram uma revolução não no mundo, mas dentro de si.

Essa narrativa, essa história, essa suscetibilidade de eventos singulares que estremeceram os corações pro via de sua infindável complacência emocional. Não falo aqui de grandes eventos, mas de uma estória pessoal, as descobertas, as paixões, as miríades de entrelaçamentos feitos e de uma metafisica de uma aventura solitária. Como um conto sofisticado de significados que bailavam em pensamentos sobre uma revelação pessoal, uma revelação subjetiva que deu a alguém um novo nome, uma nova aura mística e que se transformou numa narrativa cheia de importância pois ela, a história pessoal, se transformou, ganhou uma forma que fez cair a pele arcaica daquele ser em particular. Uma borboleta que brotou da lagarta.

Um ponto de partida de uma fábula pessoal que depois se integrou na intersubjetividade de um coletivismo social. Degraus percorridos um a um ou uma estrada cheia de efemérides infindáveis que deram a si um nome, uma magia pessoal que se desenrolou através de um tempo. Tornar-se um fenômeno sobrenatural fruto de uma simbiose com momentos que deram uma guinada em uma direção desconhecida em uma jornada mítica. A história de um ser que entrou em um momento de escolha e a partir dali começou-se a contar uma narrativa singular. Quem foi, quem é, para onde vai, o que houve. Tantas perguntas sobre o presente o passado e o futuro se entrelaçavam a fatos verdadeiros e falsos dessa personagem que se perdeu em mundos pseudo realistas até então nunca explorados. A lenda pessoal que percorreu universos desconhecidos em busca apenas da aventura. A lenda subatômica de um grão de areia em um deserto exercitando sua singularidade bêbada que vagava em caminhos sinuosos contando a nova versão da mitologia subjetiva.

Luiz Revell
Enviado por Luiz Revell em 16/12/2021
Reeditado em 18/09/2022
Código do texto: T7408702
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