VAMOS ACABAR COM ELE, ANTES QUE ACABE CONNOSCO
“VAMOS ACABAR COM ELE, ANTES QUE ACABE CONNOSCO.”
A sede de matar era tanta, quanto a de ser feliz. Acabar com um homem, cujo nome não constava dos registos das instituições de ensino por si estabelecidas e tuteladas, onde licenciavam os mestres, doutores e oradores públicos. Mas que ganhava a confiança do povo e, quando se levanta para ensinar, seja lá onde for: à beira-mar, nos vales revestidos de vivas relva, nas sombras de robustas árvores, no pátio do templo ou em qualquer lugar, que apresentasse condições para ensino e aprendizagem e, quando for: ao alvorecer com a frescura da manhã, ao meio-dia com brilhante sol, ou ao entardecer, que as pessoas vinham de todas partes da cidade, e iam ao do homem.
˗˗˗ Quem é este homem? Será um activista dos direitos humanos? Um revolucionista político? Será um intruso? Donde veio? Quem são seus progenitores? Em que escola frequentou para convencer tanta gente? O quê que ele ensina de especial, para que multidões afluem ao seu encontro? Qual o fim último de seus ensinos? Como e quando acabar com ele? ˗˗˗ Muitas eram as questões penduradas, mas que resumiram-mas se em apenas uma resposta disseram: ˗˗˗ Vamos acabar com ele, antes que acabe connosco.
Como raciocinou o filósofo inglês Thomas Hobbes, que “o homem é o lobo de outro homem, quando a questão é prosperidade” olhando rigorosamente para seus homens disse:
˗˗˗ Olhem que o número de nossos membros está cada vez mais declinando. Não se esqueçam que é de seus dízimos e ofertas, donde vêm o vosso sustento. E que não temos outras fontes de rendimento ˗˗˗ Excitando assim, a raiva dos conselheiros, para que a todo custo e recursos disponíveis e indisponíveis devorassem o homem que conquistava o coração do povo. Parecia como quem dizia o provérbio popular, que “o mal cortar-se pela raiz”.
Ou ainda como disse Maquiavel, que “os fins justificam os meios”, pese embora o autor referia-se na obtenção e manutenção do poder político, nota-se que o maquiavelismo estava presente nos dentes e palavras do sacerdote, na luta contra este indefeso homem. Confira mais em síntese algumas de suas ideias, na sua obra “O Príncipe”, publicada em 1513:
• O rei (líder ou chefe) deve ser homem e animal, na insuficiência da lei, vigora a força;
• Tudo o que for necessário para manter o poder será considerado legítimo. Em outras palavras, os fins justificam os meios;
• O rei (líder ou chefe) deve-se fazer-se temer mais do que fazer-se amar, porque existe a tendência dos homens respeitar mais quem se faz temer;
• A hipocrisia, a brutalidade e dissimulação serão as ferramentas do rei (líder ou chefe) conforme as circunstâncias para satisfazer os interesses de quem está no poder.”
Estavam prontos à pagar por mais alto que fosse o preço, para silenciar a voz daquele homem. Todavia, não bastava apenas atacar, como refletiu Montesquieu: “que aquele que fala sem pensar assemelhasse ao caçador que dispara sem apontar” assim também era necessário que se planeasse sabiamente para atingir o objectivo. Ou seguindo a frese que diz: “se quiser pegar bagre, não mecha à água”. Assim, começaram a investigação secretamente, “sem mexerem à água”:
˗˗˗ Quem são seus progenitores, qual é seu passado? ˗˗˗ Para respostas às questões, recorreram aos livros de registo de nascimento e, não só constava deste, assim como também do censo populacional, realizado pelo rei, lá encontraram seu nome, data de nascimento, local de nascimento, bem como seus progenitores.
Ainda sobre seu passado, recordam-se de um adolescente, que fazia muitas questões sobre assuntos teológicos e que já desde a tenra-idade, mostrava uma mente robusta, um conhecimento profundo sobre as coisas, inteligente, educado, génio, com características cognitivas extraordinária, em comparação com outras crianças da mesma faixa-etária, estava muito além. Logo descartava a possibilidade de ser um intruso, pois tinha um passado natural, era um cidadão nacional.
Enquanto decorriam as investigações, o tempo avançava e o povo gostava cada vez mais dele e de seus ensinos. Bastasse saber do lugar onde se encontrasse, em pouco tempo, via-se toda classe da sociedade; rico e pobres, esclarecido ou incultos e faixa-etárias; crianças, jovem, adultos e velhos caminharem ao seu encontro e naturalmente, sua fama ia cada vez mais longe.
Mas o que tinha de tanta importância, que fazia com que multidões se apertassem para ir ao seu encontro? Será um rico, que estava corrompendo as pessoas com promessas de melhoria de vida? Negativo.
Não passava de um humilde operário, experimentado em todos sofrimentos, trabalhando arduamente. Não era rico. Mas como conseguiu criar um público-alvo tão grande? O natural é que o homem, como um ente social, não segue ninguém por nada. Tem de ter um objectivo, que satisfaça suas necessidades. Se até para os peixes (animais irracionais), é necessário colocar minhoca ou qualquer coisa, para atraí-los ao anzol, quanto mais o homem que é um ser racional? Tem de ter um interesse.
Uma vez que o povo era o objecto, o conteúdo de disputa, ou o motivo de ódio dos sacerdotes contra ele, é necessário que se responda às questões: o que é o homem, que constitui o povo? E mais: Qual é sua natureza? O que o povo, espera de uma entidade seja lá qual for: política, ou religiosa, de natureza, económica ou filantrópica, quando por livre vontade os aceita que sejam seus dirigentes?
Cabe à Antropologia Filosófica perguntar “o que é o homem”? Como frisou Sérgio Alves Gomes. E às demais ciências sociais outras questões relacionadas à legitimidade, manuseio e manutenção do poder.
A lista de respostas para a questão: “o que o homem” seria tão longa e complexa quanto o da estatística da população mundial, pois que cada um daria uma resposta diferente de outro, em virtude de os homens não pensarem da mesma forma sob um mesmo objecto ou realidade. Não obstante, trazemos aqui, algumas das muitas existentes:
Erich Fromm sustenta que "o homem não é uma coisa; é um ser envolvido num processo contínuo de desenvolvimento.”
Acrescenta Thomas Hobbes: “o homem é uma obra inacabada, que se completa na sociedade”. Poderia aumentar-se mais conceitos, todavia, para o assunto em causa, estes, ainda nos bastam. Ora, os dois autores, nas suas definições anátropo-filosóficas sobre o homem tem algo em comum: que o homem é um ser em processo contínuo de desenvolvimento.
Desenvolvimento, eis a palavra-chave. O homem caminha para o desenvolvimento. Neste processo precisa de outro homem que o ajude e, este ajudando aquele, desenvolve-se, assim caminham todos para o sentido da existência. Para um desenvolvimento pleno. Será isso que fazia aquele homem alvo de ódio do conselho superior dos rabinos? Conhecia a natureza e as necessidades do homem?
Como se sabe, o homem como um ser racional, espiritual e social, vive em presença de variadas necessidades por ele experimentadas e que clamam por satisfação. E naturalmente a instituição que lutava contra este homem existia para satisfazer as necessidades homem, pese embora tinha uma como prioritária: a espiritual.
˗˗˗ Em quê estamos a falhar? Perdemos o foco da missão? Será que ainda tempos aquele respeito que o povo teve de nós? Temos que acabar com ele ou temos de mudar a nossa forma de liderança? ˗˗˗ Questionavam-se outros membros do conselho superior dos rabinos, uns de forma secreta, para não serem considerados traidores, pois o orgulho do chefe dos sacerdotes tinha inflamado tanto, que só tinha um pensamento: vingança, sangue, morte.
Por;
João Buazeca Domingos