O movimento, a inércia e a revolução introspectiva de um dia isolado no tempo ou a perda da inocência.
Uma ideia me perseguiu. Ela estava sempre incólume em um recôndito que devorava velozmente o sentido de ser de uma visão que adormeceu em meu peito. Fico pensando se, como na filosofia, o que antecede as coisas. O que cria o movimento. Vem a ideia ou a coisa concreta. Vem a essência ou a existência. O movimento é a causa que envolve o laço de uma ideia, depois dela ela acorda, pulsa, se torna som, abocanha caminhos tortuosos em busca do seu lugar de honra.
E antes de tudo, tudo é torpor. É inércia. Adormece em nós uma fonte inesgotável de simbioses errantes. Nessa inércia tudo é pensamento, é viagem da imaginação. Basta um estalo e será a causa de um tremor. Começa o movimento, o coração que pulsa em direção a uma paixão que leva consigo um séquito de amantes vorazes, mas tudo isso pode ser também o Ser da introspecção.
Um dia chuvoso em que a ideia palpitou por alguns segundos fazendo um alvoroço singular e frenético. Crise ansiosa que resvala subitamente o peito por um estalo produzido pelo pensamento. O que ainda não foi quer nascer, quer reverberar, quer se tornar uma efeméride de significados que pulsará com exaustão frenética para todos os lugares, inspiração que derrama sobre si mesma uma glória que ninguém nunca soube, foi um pensamento do vazio. Ele não toma corpo nem se satisfaz, ele apenas é. Ele tem toda razão de ser e nenhuma de existir e é impossível de acreditar: ele é apenas um frêmito febril de uma manhã ou uma tarde.
Uma revolução introspectiva de um movimento que surgiu da inércia de um dia isolado no tempo. Um isolamento, uma memória, um espasmo que rebola em seu séquito de virtude. Mais que uma simples ideia, ela pode transformar o mundo. Idealismo que se perdeu no tempo pra depois se calar após uma verborragia, um derrame de significados em um tempo que nunca se transformou em ato palpável. O movimento é a chave dos dias que se fez longe da introspecção e da verdade dessa aquarela de significados sutis. Perdido e isolado no tempo ficaram miríades de significados nunca ditos e infielmente assombrados por ter sempre um conteúdo febril, torpe, malfadado ao fracasso e sem nenhum ponto de partida, era o idealismo que nunca houve movimento, que se transformou em inércia de um dia perdido de sol na revolução introspectiva de um flash do passado. Inocência.
Era uma chama. Um fogo sutil que logo embarcou em uma missão. Tinha seu propósito, mas logo iria a vir desvanecer. Esse era o objetivo dos dias cinzentos. Na selva de concreto onde a máquina de realidade solapava o tempo e tudo era cinzento, tudo era propositalmente encaixado em seu molde e tudo ia sendo moído dia após dia. Dentro dessa bestialidade bruta, em momentos esparsos, brandavam lampejos escondidos do tempo que faziam do seu propósito fugaz um jogo de luz e sombra onde luzes repentinas coloriam momentos nessa teia de concreto. Haviam momentos, lugares sem natureza palpável, como flashes de luz que iam e vinham dentro dessa rotina que ia corroendo o tempo deixando a nostalgia presente que se fosse um rosto teria um sorriso esparso no canto da boca. Como uma chama queimava esse propósito, em meio a embriaguez, em meio ao torpor, em meio a um séquito de ideias, lampejos de uma poética adormecida. Um mundo criado na imaginação que aparecia e sumia enquanto a horda barulhenta sucumbia ao trabalho maçante. Nesse momento, nessa imagem de caótica ordem minimalista as ideias vinham aos montes, era pobre e inocente também, achava que poderia ser um mundo ou o ser no mundo ou, loucamente, o ser do mundo.
As coisas iam e vinham. Reluziam em seu momento, mas tudo não passava de uma rede desconexa de um cotidiano opaco que dormia na sua própria cama, no próprio quarto, uma alcova de significados que acordava, por vezes, em uma voz publica rouca ou se transformava numa agitação frenética de ordem ofegante e voraz. mas havia também esses recônditos solitários ou grupos esparsos relegados ao esquecimento que se não se integravam à esse todo míope que caminhava em sua própria direção.
Embalado em torpes e tristes melodias de cores balsâmicas e instalado fugazmente em uma nuvem de eventos onde uma elucubração trouxe em reflexos poéticos uma nova vertente singular de ideias. Uma prole significativa de novos mundos, novas mensagens, um paradigma estético de uma fonte virtuosa que encheu com fugaz velocidade noites onde dormia visões contrastantes, de um visionarismo poético batendo a porta de uma realidade bruta, de uma constante realidade que avançava ferozmente com seus próprios atos, que se legitimava em seu próprio mundo. Aqui não havia espaços para estrelismos, aqui não havia espaço para uma mística de novos significados que instalasse uma nova história. Tudo estava inerte como um domingo de sol onde o tempo se arrastava de maneira monótona. Havia pouco movimento nesses dias perdidos e um sentimento de nostalgia levava a lugares onde se pudesse fantasiar novos dias embriagando-se onde o tempo e o movimento se namoravam. Andar horas buscando um novo ponto, uma nova aquarela de significados estava presente no propósito febril desses tempos. Embriagar-se e fazer mundos da imaginação em um ponto morto de significados era uma constante atividade regada a um ópio ilusório em meio a uma concretude bestial. Era uma solidão para onde nada convergia. Era um terreno em que nada crescia. Tudo era inércia. Não havia um movimento, ele ainda não nascera. Ele era apenas uma revolução introspectiva em um momento isolado no tempo que adormecera febrilmente em um dia fugaz.