OLHA O PASSARINHO!

*Por Antônio F. Bispo

Dois irmãos pequenos estão jantando sentados à mesa. Um é mais velho que o outro.

Em ambos os pratos há comida suficiente para saciar a fome dos dois.

Há harmonia entre eles, não apenas pela farta comida, mas acima de tudo pelo sentimento de fraternidade.

O irmão mais novo vê o mais velho como exemplo, amigo e protetor. Este outro por sua vez trata o seu pupilo com muito carinho e diz todos os dias que o ama e vai protege-lo sempre.

Nesse cenário de paz perfeita, de repente o irmão mais velho aponta para trás das costas do seu irmãozinho e diz: “olha o passarinho”!

O menino vira-se para ver o que se passa e em menos de dois segundos ao olhar outra vez para o prato, percebe que o seu melhor pedaço de carne ou sobremesa sumira. Ele estava guardando o melhor para o final da refeição e do nada a comida desaparecera.

Com lábios semicerrados e cara de choro, ele olha para o irmão mais velho e antes que a pergunta fosse formulada, seu irmão antecipa: “Não fui eu. Foi o gato”!

Ele olha ao redor procurando em todos os cantos e embaixo da mesa. Não há gatos e nem passarinhos na sala ou em parte alguma da casa e mesmo se tivesse daria tempo vê-los fugir com a comida. Não foi isso que ocorreu.

O pequeno menino tenta justificar sua percepção rebatendo a justificativa pífia que recebera e outra vez, antes que a fala saísse seu o irmão o corta bruscamente dizendo: “foi o dinossauro”!

Aquela última resposta só fez aumentar a angústia do menino, afinal, poucas horas antes os dois estavam vendo imagens em um livro e ele mesmo (o seu irmão) havia dito que estes grandes répteis desaparecera do planeta milhares de anos atrás.

A conclusão era óbvia mas ele se recusava a acreditar.

O pupilo que até então via seu irmão como herói e defensor, sentia pela primeira vez na vida o sentimento de dúvida sobre o caráter de alguém e o pior: era o seu próprio irmão.

Aquele sentimento era horrível. Ele não queria deixar crescer pois o destruía por dentro. A ideia de que o seu irmão o estava enganando era uma dor que ele não estava preparado para suportar.

As lágrimas se formam em seu rosto. O soluço lhe vem à garganta. O sangue ferve em suas veias... Ele nunca havia se sentido assim antes. É como se todo o ar do planeta tivesse sumido e não mais houvesse oxigênio para respirar.

A sua dor não era pela perca do alimento. Ele costumeiramente alimentava cães e gatos de rua ou da vizinhança e isso era bom, lhe trazia um sentimento de paz e dever cumprido. Ele não choraria se visse um bichano comendo sua comida.

Ele também não se importaria em dividir o alimento com seu irmão. Fazia isso cotidianamente e gostava disso.

No fundo ele sabia que aquilo que o estava ferindo era o fingimento e manipulação daquele que jurara ser seu parceiro e amigo. A certeza dos fatos fazia seu coração partir. Ele lutava internamente para transformar a realidade em fantasia e desta feita sofrer menos. Queria estar no universo em que seu irmão continuaria sendo o mocinho e não o vilão.

Esses poucos segundos de processamento interno parecia ser uma eternidade. Ele se deu conta que seu irmão o encarava fixamente com um misto de pena e sacarmos. Ele ainda se recusava a acreditar naquilo apesar das evidencias dizer que sim.

Pra finalizar esse momento de tensão, o menino engole o choro, volta a comer, esboça um sorriso forçado e diz: “foi gato né? Foi o passarinho, não foi? Aquele dinossauro feio e malvado...

...

É bem provável que nessa estória você se sinta como vítima ou causador em um cenário semelhantes no que diz respeito a brincadeira entre irmãos.

Desde resenhas infantis como estas até situações mais graves, muitos terão de lidar com a dor de ferir ou ser ferido na vida, principalmente quando se trata de alguém próximo ou que confiamos. As experiências que acumulamos desses “pequenos traumas” poderão nos fazer aprimorar alguma habilidade, reparar um erro ou se tornar uma pessoa melhor no futuro (ou quem sabe pior).

Em poucos casos você poderá ver algum arrependimento vindo de quem lhe ferira. Em outros casos isso nunca ocorrerá e o “irmão mais velho” propositalmente continuará enganando o seu “irmão mais novo”, que conscientemente seguirá sendo iludido com receio de perder deste a “proteção”, “amor” e “carinho”.

Nesse tipo de relação doentia muitos pagam caro por um pouco de atenção e para os tais, um afeto de mentirinha é melhor que nada!

Valendo-se da alegoria acima, poderia relacionar essas questões (manipulação, quebra de confiança) à qualquer segmentos social em que temos que lidar com os mais variados tipos de pessoas, seja por necessidades financeiras (como um trabalho em que não gostamos) ou por necessidades físicas (carência, afeto) e nessa busca por acolhimento, permanecemos em ambientes ou relacionamentos hostis só para sermos parte de um grupo qualquer.

Levarei então o exemplo dessa estória ao campo das religiões para demonstrar o quanto preferimos acreditar em “passarinhos, gatos e dinossauros” a acreditar que aqueles que nos mete à mão no prato ou rouba a nossa comida, são justamente àqueles que juram diariamente estar ali para nos proteger e nos guiar.

Lembrando que não se faz preciso generalizar, pense que os líderes religiosos são esses irmãos mais velhos enquanto que e os crédulos são os irmãos mais novos, os ingênuos que acreditam estar sendo protegidos por esse outro.

A carne ou sobremesa que eles te roubam todos os dias no prato é os seus bens, sua obediência, sua vida e acima de tudo sua juventude.

Eles fazem tudo isso dizendo ser para deus ou a mando dele.

Você percebe que há algo errado pois nunca viu deus algum reclamar suas posses e que o próprio líder é quem faz uso pessoal de tudo. Para não se ferir com a veracidade das conclusões, você prefere manter-se eternamente na ilusão de que o seu líder é o irmão fiel e protetor, que zela pelo seu bem em todos os sentidos.

Com sua permissão silenciosa, o líder religioso sempre encontrará um “passarinho, um gato ou um dinossauro” para culpar cada vez que põe a mão em teu prato e te tira algo. E você todo choroso dirá: “foi o diabo, o devorador, o inimigo de deus...aquele feio!

Projetar uma falha (pessoal ou coletiva) em um inimigo imaginário é aquilo que um líder religioso se tornou perito em fazer, assim como o garoto mais velho na estória.

Mesmo morando em um mundo físico em que tudo tem uma causa e efeito oriundos do mundo real (ou por ações e sentimentos de pessoas físicas), o líder religioso (safado) sempre apontará uma causa espiritual para surrupiar aquilo que tu tens conquistado. Sempre pedirá um valor (exorbitante ou contínuo) para caçar esses “bichos” que entram pela sua porta ou janela para roubar o mais precioso de sua janta.

Enquanto de modo sínico metem a mão em seu bolso, dirão sempre: “OLHE O PASSARINHO”...

Enquanto tu te viras para olhar, em questão de segundos ele passarão a mão em seu bolso ou em sua bunda se você tiver uma que lhes cause interesse e depois fingirão demência.

Se algum dia por acaso o flagrares pegando sua esposa por exemplo (depois de você lhe empregar toda confiança do mundo), prontamente ele dirá: “foi o diabo, não fui eu”!

Se em um dia de “culto da prosperidade” você cair no papo deles e doar tudo o que é teu pra igreja com a promessa de que deus lhe dará em dobro, quando falido vieres cobrar a promessa eles dirão: “a culpa é sua, o dinossauro devorador passou em sua vida e levou tudo por sua falta de fé” ... E você aos prantos irá dormir na rua e comer do lixo se não tiver outros que se apiedem de ti.

Se deixares os teus filhos menores com alguns destes por alguns instantes, depois de os ferirem violentamente no corpo e na alma deixando-lhes marca pelo resto da vida, eles ainda dirão: “foi o passarinho quem fez isso, o mesmo que violou Maria. Não fui eu”!

Com medo de perder o “amor de deus”, assim como o menino da história acima, muitos tentarão se recompor fazendo de conta que nada aconteceu e dirão: “Xô diabo, sai satanás. Arreda-te daqui inimigo. Eu sei que é você seu coisa ruim. O sangue de Jesus tem poder” ... e continuarão de modo triste, vivendo uma vida de fantasia tendo que criar com frequência mais poderes e atributos aos seres venerados para que estes lhes confortem e lhes guardem ainda mais. Mas isso também é vão!

Esse sofrimento e conflito interior durará até o dia que durar a vida do fiel ou até que seus olhos venham se abrir para enxergar quem realmente é o devorador. A quantidade de ídolos físicos e metafísicos do mundo religioso provam que a dor só aumenta e o desespero também. Isso explica a construção mental (ou representação física) de miríades de santos e anjos para ajudar a um deus “todo poderoso” a fazer o seu trabalho. Como se isso não bastasse, milhões de pessoas todos os dias compra amuletos, oram, rezam e fazem mandingas para complementar a proteção do deus que tudo pode e nada faz.

O grande irmão da história acima tentar rir da situação ao mesmo tempo em que sente pena do seu irmãozinho. No caso dele a maldade não fora planeja. Era pra ser apenas uma brincadeira que saiu dos limites e confessar o óbvio ao seu pupilo o deixaria abatido. Manter a mentira parecia trazer menos dor.

Diferente deste, o seu líder religioso ou alguns de seus “irmãos em cristo” sabem muito bem o que estão fazendo. Nos gestos e ações destes jamais haverá piedade, antes sim eles sentem prazer em ver-te confuso, choramingando pelos cantos, atribuindo os males da vida a seres inexistentes quando são eles próprios os maiores causadores de certos males da humanidade a exemplo da segregação, do egoísmo, do falso moralismo, das guerras santas, da usura, da ganancia, da luxuria e de tantos outros males gerados pelo acumulo de poder e confiança pública ou pela quebra destes.

Do monopólio da fé nasce o controle massivo da opinião pública. E este por sua vez trará as regras que viabilizam o comportamento alienado das pessoas que, manipulados e oprimidos correrão atrás de qualquer coisa no universo que lhes proporcione nem que seja alguns segundo de prazer para suas mentes eternamente conflitante.

Esses irmãos com ares de vilões farão com que você desvie os olhos do que realmente importa para ter equilíbrio (administrar sua própria vida e sentimentos por exemplo) e dirão que o seu problema e os problemas do mundo inteiro existem por que deus está furioso por motivos banais a exemplos de uma tatuagem que alguém fizera no próprio corpo; por uma “música do mundo” que alguém cantou; por que alguém não guardou o sábado; por que outros não usam o véu durante o culto; por que fizeram carros, perfumes ou comidas com nomes de entidades pagãs....

Esse deus se irrita e quer punir os homens (desde o princípio dos tempos) pelo mais variados motivos, porém deus nunca se irrita (está irritado) com o padre que estupra criancinhas ou desvia milhões da igreja; com o cara que manda você vender tudo o que tem e dar pra ele; com o pastor que manda um obreiro da igreja pra uma longa missão fora da cidade à fim de flertar com a esposa ou filhos destes; e muito menos deus se irrita com parlamentares que usando o seu nome tornam a podridão dos homens ainda mais fétida ao se tornarem crentes políticos.

Todas essas crenças limitantes ou ensinamentos propositalmente distorcidos são formas disfarçada de dizer: “olha o passarinho, olha o gato, olha o dinossauro…”

A exemplo dos próprios termos utilizados por eles que se tornou banais e já não dizem coisa alguma, estes malandros costumam dar sentido novos a palavras velhas ou causar distopia com propósitos meramente manipuláveis e não sentem remorso algum em fazer isso.

Quando olhamos dentro de nós mesmos e temos a coragem de encarar nossos sentimentos e emoções mais escondidas e entender a causa do que somos ou como agimos, isso pode mudar radicalmente nossas vidas. Uma vez desperto e independente, o crente jamais irá culpar a deus, anjo, demônio ou qualquer criatura metafisica pelos males da existência pessoal ou coletiva.

A força da religião é o medo dos homens e não a graças dos deuses.

Diante de tal descoberta, o sujeito que antes agia como uma mula amarrada à um toco num dia quente de verão (e não fazia nada), decide libertar-se tais amarras e voar com asas de águias e nenhuma gaiola o aprisionará outra vez, a menos que seja vencido pelo orgulho do oprimido quando se torna o opressor. Nesse caso seu estado será ainda pior que antes.

Inclusive, é sobre essa estrutura que as maiorias das igrejas surgem todos os dias no mundo inteiro: um fiel roubado, iludido e enganado que ao invés de sair do cativeiro e libertar outros reféns, prefere fazer de conta que nada sabe, tornando-se um novo opressor, disputando territórios com seus antigos algozes, criando ainda mais “passarinhos, gatos e dinossauros” imaginários para enganar o povão.

Chave ungida, vassoura ungida, caneta ungida e até lixo de construção ungido...esses são apenas alguns dos milhares de itens que essa gente cria para distrair o povo enquanto lhe mete às mãos aos víveres.

Por mais duro que seja assumir, essa relação maldita entre ilusor e iludido só será quebrada quando o irmão mais novo tiver a coragem de dizer: VOCÊ ESTÁ ME ROUBANDO, ME ENGANANDO, ME ILUDINDO...

Enquanto isso não ocorrer, a situação será sempre essa: você doa tudo ou parte do que tens e em troca eles fingirão te amar.

Você pode mudar isso respeitando-se, amando-se e mandando às favas qualquer um que para te “gostar de ti” precisem te impor regras e termos que te defraudam, te humilham e te fazer sentir um eterno fracassado.

Reveja Sempre Seus Conceitos!

Saúde e Sanidade à Todos!

Texto escrito em 12/12/21

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 12/12/2021
Reeditado em 18/12/2021
Código do texto: T7405900
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