O GÊNIO APRISIONADO NA GARRAFA PET

*Por Antônio F. Bispo

Conta-se que Aladim, um menino pobre e sem poder bélico ou metafísico algum, derrotou um grande feiticeiro usando apenas sua inteligência.

O seu ato inteligente não fora demonstrado por meio da resolução de uma complexa equação matemática ou pela construção de algum aparato tecnológico avançado em pouquíssimo tempo.

Sua façanha segundo o conto popular, fora demonstrada ao fazer com que um ser egoísta caísse na armadilha do seu próprio ego, tornando-o diminuto até aprisioná-lo sem luta ou dano algum a si mesmo.

A vitória épica ocorreu quando encurralado pelo ser maligno que usurpara para si os poderes do cosmo, o moleque simplório usou a lógica disfarçada no poder das palavras contra o ser que embrutecido pela ganancia se achava a criatura mais sábia do universo.

Enquanto os outros o temiam e o reverenciava àquela altura, Aladim fingiu duvidar desse gigante, afirmando ser este apenas um mentiroso, um incapaz e inapto à certo feitos.

Enfurecido, o gênio do mal endossou que poderia fazer absolutamente qualquer coisa e que o menino lançasse o desafio para rapidamente ele supera-lo e depois destruir o garoto e sua insolência.

Aladim provocou-o dizendo que ele jamais conseguiria encolher ao ponto de caber na garrafa de vidro vazia que estava em suas mãos.

Embebido pela arrogância, o gênio prontamente aceitou o pedido, diminuiu sua forma e meteu-se na garrafa. O rapaz prontamente e sem esforço algum tampou-a, aprisionando para sempre no recipiente aquela criatura monstruosa.

Apesar de ser auto intitular o ser mais sábio e poderoso de todo o universo, o soberbo tirano fora vencido pela simples estratégia de um pobre órfão e o menino de rua foi condecorado com honrarias, pedras preciosas e parte do reino, além de casar-se com a filha do rei.

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Diferente do conto acima, nosso gênios do presente apesar de bons, eles é que estão sendo aprisionados numa garrafinha minúscula, não por uma mente estrategista ou por um combatente de uma justa causa, mas por gente medíocre e de intenções duvidosas.

Nossos gênios da atualidade pecam quando desafiados diretamente por um tolo, vão à luta contra os tais, lutando no território deles, usando suas regras de jogo, enquanto são ovacionados por uma plateia de gente sem rumo ou opinião própria, dispostos a ficar do lado daquilo que for mais favorável ao momento, ainda que isto seja mortífero ou altamente prejudicial.

Likes, grana, elogios dado por celebridades e político qualquer ou a possibilidade de ser o novo chefe dos tolos: esses são os principais motivadores tanto do líder quanto da alcateia dos bobos, que vivem tentando engarrafar qualquer um que pense ou discorde de suas ideias.

Não fale, não pense, não leia, não reflita, não use a razão, tenha sempre respostas (burras) instantâneas, haja igual a uma besta indomável, nunca assuma responsabilidade pelos seus atos e atribua sempre todo o mau do mundo à uma entidade mística ou política qualquer. Assim serás endeusado por outros que semelhantemente agem como imbecis. Se é fama e glória passageira o que queres, esse é o caminho para a “genialidade moderna”.

Pela mediocridade de muitos e pela ira irracional de outros, os bons gênios de nosso tempo estão sendo aprisionados pelo ego e a imbecilidade alheia e nem se dão conta disso.

Quem dera fosse como nos contos: o bem aprisionando os maus em sua própria teia de lorotas; a luz ofuscando as trevas pela aurora do conhecimento e os limpos de coração tendo domínio sobre as “bestas profanas da atualidade”.

Quem dera os indivíduos produtivos, justos e sóbrios que fazem a diferença por onde passam pudessem triunfar sobre os dementes e os que pouco ou nada produzem, mas querem à todo custo aparecer, seja posando de herói ou por meio de uma infame rotulação.

Oxalá que esses nossos gênios pudessem pelo menos ser aprisionados em uma garrafa de vidro transparente, pois ainda que presos, poderiam gesticular de dentro ou fazer algum movimento labial para que os de foram entendessem suas intenções.

Tomara que os tais fossem postos em uma luxuosa lamparina no modelo oriental, toda adornada e digna de ser tocada por mãos finíssimas que apreciam a beleza das artes e as formas das coisas, mas infelizmente nossos gênios estão sendo envasados numa garrafa pet, tipo pitchulinha, num minúsculo recipiente descartável, com intuitos igualmente destrutíveis, à fim de que suas obras sejam esquecidas ou condenadas por uma versão doentia dos fatos, posteriormente relatados por gente igualmente imunda, insana e desalmada.

Tais recipientes que os aprisionam, além de feito com material barato e reciclável, são escuros e como se não bastasse, enchem de títulos frios e mal feitos, apequenados, como se tudo sobre a vida ou obra de uma pessoa pudessem ser resumidas por um rótulo besta qualquer.

Os rótulos mais comuns usados por tais patrulhas são: ateu, esquerdista, direitista, gay, histérica, gordo, velho, feio, negro, pobre e mais algumas dezenas associadas de modo pejorativo à times esportivos.

Entre as infinitas habilidades que um ser humano pode ter ou adquirir ao longo de uma vida, os “sábios invertidos”, além de tentar aprisionar os verdadeiros gênios num minúsculo recipiente, tentam convertê-los na rotulação que eles mesmo criaram desmerecidamente, pondo-os sempre aos seus pés como capacho, caso estes se convertam ao seu modo tosco de ser.

O pior disso tudo é notar que os que possuem algo proveitoso a oferecer estão aceitando os desafios dessas “mulas-sem-cabeça” e estão entrando na garrafinha deles, para depois de aprisionados, servirem de objeto escárnio pela “patrulha lacradora” dos mais variados setores.

Essa patrulha é proveniente de todos os lados e gostos: político, religioso, do meio artístico, da velha ou nova mídia ou de qualquer pessoa de mente pequena e vocabulário curto, que polariza tudo, idolatra uns e endeusam tantos outros.

Hora eles se unem para caçar uma presa maior que eles, hora estarão em lados opostos, rosnando uns contra os outros pra ver quem late e intimida mais.

Eles agem como as gangues do passado, radicalizando qualquer conceito e tacando fogo e pedras em seus rivais ou em qualquer um que pareça não se dobrar ao chefe supremo de sua tribo.

Qualquer um que aceite um convite para debater com alguém de mentalidade tão ínfima pode ter certeza que na concepção destes já estará derrotado mesmo antes da conclusão do diálogo.

Quando não conseguem convencer o outro (ou a plateia) usando a lógica e os fatos (coisa que quase nunca ocorre), tentarão fazê-lo por meio de balburdias, chavões e adjetivos pejorativo, à fim de desmerecer não apenas as ideias do oponente, mas principalmente sua pessoa.

“Debater” diretamente como pessoas de mente tão pacata e personalidade tão primitiva é como aceitar de forma direta meter-se numa garrafinha para ser lacrado (tampado dentro dela) e depois ser jogado em algum “lixão da história” ou em alguma prateleira imunda, onde eles guardam suas próprias talhas.

Depois de “perderem” um debate para alguém assim, o indivíduo que realmente expressava alguma sabedoria poderá amargar o cancelamento e escarnio social, além de outros dissabores, sem falar que sua carreira, seu nome a obra de uma vida inteira poderão ser desdenhadas por pessoas cuja massa encefálica seja menor que a de uma ervilha, enquanto outros acéfalos aplaudirão.

Se a embarcação coletiva vai ficar à deriva em alto mar ou se vamos todos morrer, isso não importa: prendam o capitão do navio por que ele não sabe descrever se o céu era cinza ou “cinzo” ou se era menino ou “menine” quem fez xixi no convés.

Para que a lei e a ordem se todo mundo pode ser o que quiser a hora que quiser?

Toda sociedade humana, de plantas ou animais estão sujeitos as leis e ordens naturais ou convencionadas popularmente, menos a sociedade dos tolos. Para estes, a lei e a ordem só serão aclamadas para exigir seus direitos, nunca os deveres.

Houve uma época sociedades humanas em que o indivíduo mais apreciado era aquele cuja capacidade de sobrevivência, liderança, comunicação produtividade e reprodução eram as mais atrativas para o seu parceiro ou para toda a população.

Nos dias atuais, a depender de onde (qual bolha) você esteja inserido, o indivíduo mais notório e com maior poder de influência poderá ser aquele que capaz de decorar (isso, decorar, não aprender ou entender) em quantas letras e combinações alfabéticas se dividem a sexualidade (ou gênero) humana.

Os que possuem um alto grau de escolaridade, civilidade, produtividade e competência para conduzirem bem não apenas a própria vida, mas também a sua prole, a gestão de uma empresa ou a condução de uma grande nação, podem não ter tanta relevância se não souber identificar certas “combinações científicas”, políticas ou religiosas.

F*da-se as habilidades linguísticas de alguém, o seu controle emocional, sua honra, sua genialidade ou sua capacidade de criar produtos, serviços ou leis realmente úteis às sociedades do presente e do futuro, além de corrigir erros do passado.

Pouco importa se você, com suas habilidades diplomáticas acabou de evitar um holocausto nuclear entre duas potencias: Se você não é capaz de usar (ou compreender) certo linguajares ou apoiar certas “causas sociais”, você será considerado (para os tais) um lixo humano, um ser deplorável ou uma criatura cuja existência só traz dor e sofrimento à existência alheia, mesmo quando lhes salva o próprio rabo ou suas cabeças.

Aprisionar o outro numa garrafa pet é o auge do poder para a genialidade invertida que hora vivemos!

O mesmo vale para tantos outros segmentos humanos (não apenas os midiáticos).

Não importa se você esteja em um grupo com apenas 3 pessoas com 5 milhões delas: se todos do seu grupo estiverem presos em suas próprias verdades e avesso à realidade do outro, se tornarão sem perceber uma congregação de tolos, lutando contra moinhos de ventos como se fossem dragões ferozes. Irão distorcer qualquer fato em benefício próprio à fim de que suas crendices mirabolantes se tornem uma lei universal.

Numa igreja evangélica por exemplo, se você não é capaz de falar em línguas estranhas durante o culto, você poderá ser envasado por um babaca qualquer que esbanja “comunhão com deus” e acha que esse tipo de balburdia é um sinal de santidade, mesmo sendo um salafrário e vigarista confesso. O “selo do espirito” dirá que ele é uma pessoa de bem e que deus habita nele, por isso ele é digno de todo respeito e confiança dos de dentro e dos de fora de sua igreja, e quem não o fizer estará desafiando não a ele, mas ao próprio deus. Eles te aprisionarão no minúsculo mundo deles, se você permitir.

Se você for uma “pessoa sem deus” em um ambiente desse tipo...Vixi. Você nem gente é! Tu serás considerado uma pedra de tropeço, um filho do diabo e além de engarrafado, tu serás chutado, pisoteado, cuspido e depois queimado no fogo da igreja e no

do inferno por esses “escolhidos do senhor”.

Na política, se tu não fores capaz de gritar “mula livre” ou “amo meu mito”, tu serás rebaixado à categoria de neandertal e serás convidado e entrar numa garrafinha com destino à Cuba, às Bahamas ou à puta quem o pariu. A decisão comedida e racional na política quase nunca é permitida (ainda quando iludido) e o abandono ao seu ídolo (mesmo depois de provado ser ele um vigarista) também não. Fidelidade partidária é morrer defendendo seu corrupto de estimação, não importa de que lado ele esteja.

No futebol (e outros tipos de esportes que aglomerem fanáticos) nem é preciso falar muito: as reportagens diárias mostram que é na briga, na depredação do patrimônio público e privado e em assassinatos de oponentes que se resolve tudo. Nesse caso, nem seria engarrafar, seria envelopar mesmo, num caixão de madeira, para a terra dos pés juntos.

Indiretamente esse tipo de gente medíocre diz: meu time é o melhor e o seu não presta; posso zombar de você quantas vezes quiser e você jamais poderá zombar de mim; junte-se a nós ou os esmagaremos...

Lógico que isso não é o comportamento padrão de 100% de todo torcedor, de todo crente ou de todos os que dizem militar em causas políticas ou sociais. Porém é inegável que os que assim se comportam (de modo besta, improdutivo, lacrador e violento) ganham mais atenção e respeito do grupo e se tornam os machos ou fêmeas alfas do bando, intimidando não apenas os da própria trupe, como também os que de fora dela não se curvam ao seu mundo apequenado.

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Dizem que os anos 80 foi uma época marcada por idiotas, que o tempo inteiro tentava achincalhar o nerd, o gordo, o gay, o negro ou pegar todas mocinhas ingênuas da escola.

Muitos acreditam que esses idiotas morreram ou ficaram para trás. Mas a verdade é que esse tipo de gente evoluiu, se modernizou e integrou-se a meios bem mais abrangentes e persuasivos para expandir os domínios de suas babaquices.

Hoje eles tem (ganharam) canais no you tube, colunas em jornais, títulos políticos e eclesiásticos, bem como fundaram ou lideram certos movimentos para a “liberdade do pensamento humano”.

A grande diferença de hoje é que antes eles não se importavam e até se vangloriavam quando chamados ou reconhecidos como imbecis.

Hoje eles repudiam tal título e querem ser tratados como realezas, exigem que lhes beijem os pés e que todos, absolutamente todos lhes prestem fidelidade.

Apesar de propagarem a ideia de um mundo lindo, colorido, diverso e igualitário em todos os sentidos, suas ações, palavras e compreensões diminutas do outro, faz com que o mundo se torne um lugar cada vez mais cinzentos, a diversidade seja silenciada e a igualdade seja apenas na questão da burrice coletiva e subserviência generalizada.

Meu desejo é que você, com toda sua capacidade física, intelectual e emotiva jamais se deixe ser colocado numa garrafa pet por quem quer que seja. O mundo, a sua própria vida e a de outras pessoas são bem maiores que os rótulos neles colocados.

Revejam seus Conceitos! Saúde e Sanidade à Todos!

Texto escrito em 5/12/21.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 05/12/2021
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