um só
só parte#
Eu não sou um só mesmo sendo um. Disse-me sinceramente enquanto contava algo sério para alguém sério. De sobressalto anotei o que disse. Parecia-me genuinamente sincero. Verdade. Um indício é reconhecido de que somos todos juntos. Depois de guardadas as dimensões achei a frase brega. Brega, mas mantinha-se sincera. Sinto-me impelido a acreditar que a sinceridade é vista como algo brega e facilmente ridicularizada. Como o amor. Há quem ache o amor antiquado. Alegórico. Alergênico. Vendo e vivendo parece-me que o amor é acima de tudo. (Desculpe o bordão do “acima de”, sei que pode soar uma alusão à extrema direita. O fascínio é fascinante com o fascismo). Outro clichê é a multidão. Multidões são ninguéns. Digo sob o julgo das pedradas dos camaradas. Não ando armado. Não ando de lado. Nem mesmo de sobressalto. Ando parado como qualquer pessoa imóvel. Sei quem não sou. É fácil saber. Sou um sendo muitos. Eis a questão. Admiro-me saber sobre as redundâncias. Parece-me uma égide. Ouso os cantos como notícias passadas. Amo sustentar o amor. Mesmo sendo um em muitos. A m o r p a r a d o r.