NO LIMIAR DA MORALIDADE
Breve comentário sobre como surgem os salafrários da fé!
*Por Antônio F. Bispo
Todos nascem ateus até que as sociedades lhes digam em qual divindade acreditar.
Se esta sociedade é composta apenas por membros de uma mesma família, de uma igreja ou se por uma nação inteira, isso não importa: uma vez inculcada na mente de alguém a ideia de deus, o homem comum por ela viverá, matará, morrerá ou por ela será oprimido.
Por séculos a manutenção das religiões tem dado privilégios a uns e perturbação a outros.
Entender como “nascem os deuses” e como a mente humana responde a ideia do sagrado pode fazer toda diferença na saúde mental de alguém.
Se esta descoberta acontecer por meio do conhecimento cientifico ou por meio de respostas além dos cercadinhos da fé, essa pessoa poderá adentrar à um estado mais elevado de ser.
Porém, se tal experiência ocorrer em pleno exercício do serviço litúrgico, o desfecho poderá ser desastrosos para as pessoas que convivem com esse elemento.
Sob tais circunstancia o ingênuo crente morrerá e no lugar dele, um “demônio” nascerá para atormentar a todos. Sua aparência exterior pode até ser a mesma, mas suas ações e intenções jamais serão iguais.
Todos os que constroem o próprio senso de justiça e bondade baseados no “temor a deus” e não no respeito mútuo tendem a ser tornar criaturas abomináveis mediante tal constatação. Nesse caso a ideia de deus na vida deles serve cárcere para aprisionar o falso moralista que ele sempre foi.
Tão perigoso quanto ascender um fósforo em um depósito de pólvoras é o ato descobrir em pleno culto (na prática coletiva da fé) que deus não existe! Alguns tendem a demonstrar desilusão, nojo de si mesmo, vergonha por ter sido enganado por tanto e tempo e raiva de quem os enganou.
Esses com certeza se afastarão do recinto (ainda que com alguns traumas) e cada um ao seu modo poderá continuar sendo pessoas decentes sem se esconder atrás de nenhum deus. Será um novo recomeço, doloroso mas compensador, já que todo crescimento dói.
Outros porém, ao perceberem que o trono sempre esteve vazio, se tornarão pessoas dissimuladas só para tirar proveito da confiança dos outros membros do grupo e da sociedade em geral. Esconder-se atrás da ideia de deus é a melhor maneira de mascarar o próprio caráter. Sempre foi!
Nesse ponto eu digo que a pessoa que assim procede já cruzou o LIMIAR DA MORALIDADE e poucos são os que conseguem voltar atrás.
Dia após dia afundarão no próprio lamaçal, enganando e sendo enganados, negando a própria vida, liberdade e consciência enquanto faz o mesmo com a vida dos outros.
Ao ultrapassar essa linha invisível esse novo ser poderá apresentar as seguintes características: manipulação; oportunismo; exploração da sexualidade, do tempo, das finanças e da juventude dos outros; desprezo pelas leis humanas quando o intuito for não cumprir um dever social e busca recorrente pelas mesmas quando se é pra exigir benefício próprio.
Cada um que passou por essa experiência pode relatar de modo parecido os diferentes casos em que a “eureca” ocorreu. Geralmente tudo começa quando um pregador percebe que qualquer bobagem dita em nome de deus será bem recebida pelo público religioso.
É o princípio do caminho da perdição e alguns tropeçam nessa “pérola” mesmo sem querer. Outros perceberam isso naqueles momentos enfadonhos e repetitivo que todo culto tem em que o pregador tem de encher linguiça pra matar o tempo até a hora do culto acabar para o povo ir embora. Numa hora dessas ele diz uma bobagem qualquer fora do roteiro, o povo gosta e à partir daí a coisa começa fluir.
Apesar dos pesares, muitos dos que dizem ser “profeta de deus”, de fato acreditam que o são de verdade e julgam que tudo o que falam ou fazem provém do trono dos altos céus, como se tivessem uma antena wi-fi instalada em seus cérebros recebendo e transmitindo tudo ao vivo e a cores de acordo com o querer superior. A plateia em peso também pensa assim e eles se complementam.
Daí, ao falar bobagem e todo mundo aplaudir a pessoa percebe que deus nenhum usa ninguém, antes sim todo pregador usa a si próprio (ou segue uma pauta pré-estabelecida pela igreja). Nesse momento tudo muda. Ele notará que não importa o que diga em nome de deus, sempre haverá aprovação, principalmente se estiver no campo do pentecostalismo.
Morto o “velho homem”, a próxima fase para se tornar um grande picareta da fé será dividida em 3 passos: No primeiro é preciso saber referir-se a deus como um ser todo poderoso que além de suprir suas necessidades, também irá destruir seus inimigos (os inimigos podem ser qualquer um que discorde de ti ou dos ideais da tua igreja).
O segundo passo é convencer o povo de que esse ser riquíssimo e grandioso ao extremo, é uma criatura indefesa, que precisa do seu dinheiro, do seu tempo e acima de tudo que você o defenda de unhas e dentes diante dos “pecadores”. Em um instante ele é o cara que tudo pode e tudo faz, no outro ele nada tem, nada pode, não sabe se virar sozinho e ainda por cima exige de ti o dízimo, o trízimo e até o último centavo da viúva pobre. É preciso equilibrar bem esse discurso para que essa mistura fique sólida. Nada é tão prazeroso para um crédulo quanto a falsa sensação de estar ajudando deus, seja evangelizando, ofertando ou defendendo sua honra. Se você ajuda o criador do universo em alguma coisa, significa que você é maior que ele (ou não?). O ego humano fica todo massageado com essa perspectiva ilusória e oportunista.
Balanceado essa mistura, o terceiro passo será conhecer melhor seu público. Estudar sobre a psique humana, linguagem não verbal e técnicas de oratória. Sempre funciona em qualquer lugar, principalmente com os aflitos e gananciosos, que todos os dias vão à igreja para “ouvir deus falar”. Alguns desses os ouvintes chegam ter “orgasmos espirituais” sob tal estado. Se durante o discurso o pregador souber fazer caras e bocas, gesticular e fazer drama como se fosse um ator, parafraseando propositalmente o texto o personagem enquanto prega, o público irá à loucura! Um poder imensurável se esconde atrás dos que assim verbalizam suas ideias. No caso do discurso religioso, quem o faz sob tais circunstância chega a julgar ser o próprio deus em pessoa.
Ao atingir a êxtase coletiva, a plateia não vai ligar se você é a “pastora do gemidão” (disponível no you tube), fazendo conotações de orgias sexuais enquanto “prega a santa palavra”; não importará se você é o pastor comediante (também disponível para conferencia) que constrói fortunas falando o óbvio de forma cômica enquanto finge falar de deus; e também não importara se você é aquele sujeito, sem competência ou caráter para estar ali; nem tão pouco fará diferença se seu vocabulário inteiro não passa de 50 palavras e você passa o culto inteiro dizeno “têi, têi, têi” como se estivesse matando alguém com uma arma invisível. Estado hipnótico e “guiado por deus”, os crentes não lingam para esses detalhes. Querem mesmo é saí dali dizendo que deus falou com eles e fim de papo.
Fazer com que durante o culto o povo experiência drama, suspense e uma pitada de erotismo com simulacro de religiosidade fará de você um deus entre os mortais (para eles). Quem assim o fizer terá sempre agenda e bolsos cheios, além de respeito de todos os que admiram tais níveis de “espiritualidade”.
Como se não bastasse e por incrível que pareça, o lugar onde mais a ingenuidade rola solta, é justamente no local onde as pessoas afirmam ter a mente de cristo e serem as mais antenadas do mundo.
Dizem que com a unção do espirito santo elas conseguem enxergar qualquer cilada do capeta, mas não é assim. O oposto disso é o mais provável! A maioria são feitos de trouxas nesses recintos e não se dão conta.
Ser ingênuo não é bom. Pior que isso é ser malandro, mentiroso, oportunista e sanguessuga vivendo do suor alheio enquanto afirma ser funcionário de deus.
A ingenuidade é o ato de não perceber a maldade nas intenções dos outros.
A malandragem geralmente porém, é calculada e o malandro sabe exatamente o que está fazendo e o que espera obter à curto e longo prazo.
O abando da razão é uma constante em qualquer lugar em que “deus se manifesta”.
Dia após dia tais pessoas tendem a ficar ainda mais cegas e obedientes, até o ponto de se sujeitarem a qualquer “comando ungido” dentro ou fora do ambiente de culto.
Se o “profeta” diz que possui um “cajado ungido” capaz de curar qualquer doença penetrando ou borrifando as irmãs com o seu “liquido santo”, esse comando não será questionado; se ele pede para que você venda tudo, doe para a igreja e fique sem nada, isso também não será um incômodo; se a ordem é para você deixar o seu conjugue que tanto se dar bem para se juntar a algum malandro apontado pela liderança, isso também será visto como ordem divina...qualquer coisa solicitada por um ungido não será negada quando o fiel está convencido de que o guia. O perigo mora aí.
Apesar disso, o fiel explorado terá várias chances de se libertar desse mal. Já para o oportunista as chances são bem menores. Eles tendem a findar suas vidas nesse estado demoníaco de ser, sendo um oprimido que oprime outras pessoas. Ainda que seja um picareta confesso, o corpo eclesiástico o retratará como santo à fim de aumentar a cobrança de indulgencias sobre os que o veneram.
Será muito difícil de resgatar da perdição qualquer um que tenha cruzado esse LIMIAR. Eles percebem o quão frágil e indefeso é o homem que vive pela fé e ao invés de recuar, eles avançam mais no campo da exploração.
Ainda que preso em flagrante por crimes ou graves delito, este continuará dizendo que estava servindo a deus, que o diabo o enganou e seu público o defenderá, chamá-lo-á de mártir em sua biografia, para que assim ele seja lembrado e glorificados por toda a trupe do presente e do porvir.
É desse modo que nasce e vivem todos os “Joãos de Deus”.
Pior que eles só são descobertos (revelados) quando um número estrondoso de abusados decidem se rebelar, senão, partirão desta para outra sem que de fato as pessoas saibam quem realmente eles eram.
Os que descobrem como os deuses são montados poderiam sair da caverna e contar aos outros cativos sobre as sombras da vida projetadas na parede, mas não: preferiram manter seus companheiros no cárcere escuro e frio enquanto pagam de libertador, roubando-lhes a luz ao invés de compartilhá-la.
Não quero dizer com isso que todo obreiro, pastor ou representante da “palavra de deus” seja de fato um oportunista intencional com absoluto poder de decisão própria. A maior parte deles apenas reproduzem as falas e imposições do seus superiores. Outros apenas estimulam as crendices dos membros da igreja para receber destes algum tipo de afeto ou honraria. São almas penadas procurando uma luz para os guiar, enquanto finge conduzir os outros.
Outros destes estão apenas representando os sonhos dos seus genitores ou familiares que julgam que tendo um “representante de deus” na família terão mais moral com deus do mesmo modo que alguém consegue privilégios por ter alguém na política ou no judiciário.
É preciso deixar claro que há pessoas bem intencionadas em todos os lugares, inclusive nas igrejas. Porém, o que cruzou o limiar da moralidade foge a conceito. Este será apenas um comerciante da fé e um oportunista fdp.
Será um autodidata no quesito falsidade ideológica e mesmo não estando em posição de liderança, poderá se aliar a alguém que esteja, fingindo ser o que não é ou ter o que não tem para manipular os que “vivem sob as orientações divina”.
Assim como a merda fedida atrai moscas esse tipo de gente terá orbitando em volta de si, outros iguais a eles ou ainda piores, que valendo-se de tal percepção projetarão a sua queda para ocupar o seu lugar, caso este não queira compartilhar dos lucros e privilégios obtidos do pela ingenuidade alheia.
Como abutres e hienas, estes disputarão territórios, agindo como milícias, explorando os de dentro e fora das igrejas (se puderem).
Quando a caça (o lucro, a vantagem) for grande demais para um só abater, eles agirão em bandos (nas alianças políticas por exemplo). Quando esta for abatida eles brigarão para ver com quem fica a maior parte da presa.
Enquanto se digladiam entre si (secreta ou abertamente) como milicianos disputando espaço, eles pedirão ajuda a igreja aparentando humildade, e farão campanhas de orações pedindo ajuda aos fiéis, convencendo-os de que essa disputa é uma batalha espiritual e que o diabo deseja destruir a igreja de cristo e coisa e tal. Sempre assim....
Por milênios, os que põem em dúvida a existência dos deuses tem tido como paga humilhações, chacotas, perseguições e mortes, enquanto os que afirmam descaradamente ter falar com ele todo dia são tidos como heróis da fé ou profeta de deus.
Pelo instinto natural de sobrevivência, seria lógico seguir a multidão e não questionar os dogmas da fé. Por esse motivo, permanecer fingir-se de tolo ao fazer certas descobertas parece ser um ato de sabedoria e não de covardia. Eles dizem:
“Melhor encher os bolsos que perder a cabeça”!
Apesar da recompensa infame por manter-se fingido, o caminho da sanidade ainda é mais proveitoso.
- “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”!
Essa frase tem muita significância e pode servir de norte toda vez que alguém tentar prender-te por meio do oportunismo barato e da representatividade celestial (despois de descobrir que tudo é um blefe).
Além dos supostos privilégios obtidos pela vigarice, o sujeito estará acorrentado a uma legião de pessoas amedrontadas, inseguras, iludidas e problemáticas. Pessoas que apesar de vivas parecem estar vegetando, sem nenhum traço evolutivo evidente.
O mesmo vale para o opressor. Eles serão como o carcereiro e o encarcerado que apesar de estarem em lados opostos da cela, ambos estão dentro do mesmo presídio e cumprirão toda a pena juntos, atrelados um ao outro, convivendo diariamente, desconfiado mutuamente um do outro, cada um lutando pela própria sobrevivência depois de o estado os terem lançado alé naquele lugar deplorável. Um por merecimento (talvez) e o outro como vigia.
O preço da vigarice da fé é demasiadamente alto a ser pago. Não vale a pena!
Se a citação “fugi da aparência do mal” pode ser recomendada a alguém, eu recomendo à todos que um dia já tropeçaram ou tropeçarão nessa descoberta. E ainda digo mais:
-Sai do meio deles e escapa-te por tua vida!
Revejam Sempre Seus Conceitos! Saúde e Sanidade à Todos.
Texto escrito em 26/11/21
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com