enchente

Parte dele#

A dobra do tempo dobra quando há que dobrar. Dobro o tempo quando espero. Se recebo escolhas sei que as escolhas escolhem por mim. Faço par ou impar para ter o que dizer. Se perdi ou venci. Pouco importa. Mesmo que deixe as portas abertas só entro no obscuro. Observo com atenção os agudos das sirenes de fora do incontrolável ambiente interno. Quem se assusta segue vivo. Sou capaz de adormecer com sirenes gritando. Sozinho sonho em ser invisível. Curioso é o medo de que meu apartamento passe por uma enchente. Nesta dobra duvido sobre o que salvar. Se eu ou se os móveis. Os heróis não convencem se salvam os bons e derrotam os demônios. Talvez para alguns pode haver a salvação. Duvido muito. Saga Sagarana. Anti-herói não se salva. Morre afogado. Morre de pé. Não tem peito de aço. Corpo elástico. Talvez assim não me salve. Acostumei a me maltratar. O porteiro tem feito piada dos pets do edifício. Sei que ri de mim. Tenho vergonha de falar que fui abandonado. Não justifica minhas deficiências. Espero um dia conseguir rir mais. Sigo um cãozinho sem patas dentro de uma caixinha de areia. Não quero ser adotado. Nem ensinar nada. Dobro o horror. Analiso meus monstros. Degusto as impurezas entre o permitido e o proibido. Meu caos acalma. Dobra a ordem. Ando descoisificando. Liberdade de quem vive só.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 19/11/2021
Código do texto: T7388984
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