OS MALÉFICOS EMPINADORES DE PIPAS!
*Por Antônio F. Bispo
As divindades metafísicas são como pipas empinadas por garotinhos: foram adornadas para chamar a atenção, não tem vida própria, nem autonomia e acima de tudo precisam de mãos humanas para segurá-las enquanto procuram a melhor posição dos ventos!
Na calmaria a pipa declina.
Com o vento em polpa ela fica rente ao ar, pedindo mais linha como se fosse esta quem controlasse o menino e não o contrário.
Na tempestade ela arrebenta o fio, vai embora e quem a pegar será o próximo dono, enfeitando-a outra vez como bem entender, fantasiando-a como bem quiser, rebatizando-a com o nome mais imponente possível.
De igual mesmo modo, a angustia, desespero e opressão fazem o “valor de mercado” dos deuses ficar em alta, pois quando tudo estar em paz os deuses parecem nada valer.
O medo, o desespero e a ganancia dos fiéis é quem dá vida aos deuses. Quando o fio dessa pipa arrebenta (uma sociedade morre ou é subjugada por outra) o deus desse povo passará de mãos em mãos, de povo em povo e cada um que o pegar, o enfeitará com o fantástico à fim de que pareça mais atraente e poderoso.
Mesmo assim, com tantos adornos, enfeites e supostos poderes megalíticos, eles (os deuses) não passam de uma ideia coletiva cujos patriarcas da fé precisam usar da ameaça velada para que tal ideia permaneça na mente dos fiéis.
As pipas enfeitadas das crianças, apesar dos adereços e cores chamativas, continuará sendo apenas um brinquedo, um entretenimento temporário feito sob uma frágil estrutura de varetas, papéis finos e rabiolas coloridas.
Nesse contexto, além da pessoa que domina o brinquedo no ar, o mais perigoso será sempre a linha: o entretimento irresponsável de uma criança não supervisionada poderá custar a vida de outra pessoa, pois quando enrolada em cerol, tornar-se-á uma arma mortal para motociclistas ou qualquer transeunte desatento.
A mão que a empunha se dirá sempre neutra, afirmando não ter culpa alguma, que o viajante era quem estava no lugar e na hora errada, evadindo-se ou terceirizando a fatalidade.
Depois de um grave incidente estes sempre dizem:
- Eu não tenho culpa. Foi a pipa. Eu a apenas estava segurando a linha!
Caído e agonizando o viajante morrerá afogado no próprio sangue, rodeado de pessoas que nada poderão fazer para salvá-lo, enquanto em sua última visão dos céus contemplará no ar, o objeto cujo fio apontará o possível assassino.
Com os deuses não é muito diferente disso.
O religioso que se diverte praticando suas crendices poderá trazer a degola de muita gente que não tinha nada a ver com sua fé. Esta citação vale para o sentido figurado e literal. Dezenas de citações bíblicas e outras centenas de inferências históricas admoestam sobre esse fato.
Assim como pipas precisam ser empinadas por humanos, os deuses precisam de uma mão humana que os “empinem” para que eles possam estar sempre nas alturas, pairando sobre nossas cabeças, ganhando cada vez mais espaço enquanto durar os ventos da ganancia, arrogância ou ignorância de quem os porta.
Os veneradores de tais entidades são como adultos aprisionados num estado de infantilidade crônica, cujo prazer principal reside justamente em passar o dia inteiro, correndo ao vento, elevando às alturas os seus mitos, à fim de que estes lhes proporcionem algum tipo de benesse. Algo simples de conotação incomensurável, cujo valor reside apenas na perspectiva de quem está inserido no mesmo delírio. Assim é a aparência dos deus.
Diferente destas arraias que feitas por crianças, as linhas que ligam o homem aos deuses são os dogmas que cada igreja ou religião criou e por eles subsistem. Sem a imposição dos dogmas não há religião, assim como sem linha não se empina um papagaio. Uma coisa está intrinsicamente ligada a outra.
Algumas dessas linhas são como fios de aço que prendem o fiel ao seu deus de forma pessoal. Com essa linha ele “empinará” nos céus o deus que jurou servir, guiando-o para todos os lugares, enquanto mente para si mesmo dizendo que é deus quem o está empinando.
Em casos assim, o mal social terá um efeito menor, pois só o fiel poderá ser prejudicado nessa brincadeira. Se ele vier perder metade da vida ou a vida inteira nessa diversão, é problema é dele e ninguém tem nada a ver com isso, a não ser que a “pipa” entre no território alheio ( a pipa da religião sempre entra).
Ide e anunciai pra cá, salvai os pecadores pra lá... quando menos se espera eles estão brincando em todas as ruas, praças campos e áreas livres e sempre dirão que estão ali a mando do seu deus. Assim como um ventríloquo finge ouvir a voz do fantoche em suas mãos, esses dizem que são “empinados” pelos deuses.
Crianças não supervisionadas desconhecem limites e acham que podem fazer o que quiser, quando quiser e com quem quiser. Suas ações sempre irão pender para o lado da malvadeza. Quando o estado é omisso ou anda de mãos dadas com a religião em troca de apoio popular, esses “empinadores malvados” tornar-se-ão libertinos “passando o cerol” em qualquer outra linha de pensamento que que vá de encontro à deles.
Nesse balaio de gato, gastarão fortunas e tempo útil para converter outros cristão ao cristianismo sem nem sequer ter ideia do que isso significa (apenas convidarão uns aos outros a mudar de igreja). De igual modo perseguirão de culto africano, bem como ateus ou qualquer um que eles considerem à parte do “povo escolhido”.
Um cristão que tenta evangelizar outro cristão, num país cristão é algo extremamente ridículo além de ser desnecessário, provando apenas que as religiões são como jogos infantis onde cada um precisa formar um trupe para derrotar a concorrência, se tornando então o único centro das atenções.
A crença religiosa de alguém é algo que deveria ser vivido e praticado puramente pelo que nela crê. A imposição aos outros dessa fé, torna esse ato desprezível, descabível e desnecessária, base de quase todo conflito local e mundial ao longo das eras.
A crendice que deveria servir de alicerce ou trampolim para a evolução do praticante, servirá apenas para decapitar ou fazer sangrar os outros por pura maldade, tanto no sentido literal quanto no sentido metafórico.
Depois de “passar o cerol na fé e na vida alheia”, esse tipo de religioso dirá: “não fui eu, foi a bíblia, é o mandamento divino, é deus que está mandando...”
Que diga isso os quase 2 milhões de índios brasileiros dizimados por católicos e protestantes europeus nos primeiros 200 anos de colonização de nossas terras. Com a desculpa de que vieram evangelizar os nativos, estes usavam a cruz para escravizá-los e depois descartá-los como se lixo fossem.
Que digam o mesmo os incas, astecas, maias, africanos, aborígenes e qualquer povo onde a “luz do evangelho” já tenha chegado, trazendo as “boas novas da salvação” para os tais.
Prestem sempre atenção: toda vez que a figura de cristo ou a “palavra da salvação” for ofertada a alguém ou a um povo, sempre um cavalo de Tróia poderá está incluso nesse pacote, não importa o local ou época.
Não há filiação religiosa sem consequências: ou te roubarão sua vida presente ou o seu futuro estará comprometido.
Quando não te lesam no corpo, no bolso ou na moral, te fragilizam mentalmente, fazendo com que sejas um eterno “dependente químico” de pastores, bispos, padres, celebridades gospel ou de qualquer pessoa que usando uma bíblia diga fazer algo para deus. Depois escreverão em sua testa: R.I.P, fazendo alusão ao seu cérebro que terá sua utilidade reduzida.
Não tenham dúvidas: os mercadores da fé com suas linhas de cerol sempre irão degolar quem a eles se opuserem. Não importa se tu és de outra fé ou se da mesma com ritos distintos, a linha que tiver mais afiada vencerá o combate e se tornará o centro temporário das atenções, até ser mandada pelos are por outra “pipa da fé” mais adornada e com cordões mais resistentes, ad infinitum.
Como o menino irresponsável que após ver o motoqueiro sagrando diz que a culpa é da pipa, os arautos da verdade sempre dirão: “morreu por causa da fé”!
De fato! Muitos morrerão pela fé (sendo manipulados) ou morrerão por falta dela (por se recusar a recebe-la).
No final a culpa será sempre da linha ou da cunha (como dito no texto anterior). Eles sempre salvarão a pipa e o empinador para que a fantasia de suas crenças não desfaleçam.
Quando estes veem seus próprios líderes abusando e explorando os congregados dirão que a pipa (deus) não tem nada a ver com isso.
Quando seus colegas de competição estiverem matando, estuprando, enganando e roubando para se manterem na prova, dirão também que tais maldades foram cometidas pelos meninos que nem estavam na brincadeira (as pessoas sem deus) e não por eles mesmos, os praticantes do ato.
Os cúmplices dessas mentiras dirão: “é mesmo assim! Foram aqueles meninos feiosos sem deus que fizera sangrar e morrer tal transeunte e não o nosso povo ou nosso ungido!
Com os dedos e as linha cheias de sangue apontarão para àquelas outras crianças que desejam crescer e de tão ocupadas, estavam a estudar os primatas, à fim de entenderem sua própria natureza...
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Texto escrito em 18/11/21
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*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
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