Brevíssimo ensaio sobre Da honestidade histórica

Sei, que no dia seguinte ao da partida, restará só a lembrança. Não se remexerá na história, posto que só resta o que foi. Ter a honestidade de se contar os fatos tal como ocorreram; nada omitir, nem acrescentar. Se tentar entender nas "entre linhas", que assim se faça, porém, será preciso redobrar os cuidados, afinal, como quem joga dados, deverá saber que a cada "olhada", o objeto adquire outra forma. Todavia, se ainda asssim, optar por ler "nas entre linhas", deverá ter a mesma honestidade de tentar trazer à luz o que entender ser o sentido correto. Não lançar à exibição somente tênues lampejos de interpretação; eis o esforço necessário para não ser leviano. Se o que se busca é uma compreensão precisa, não será exigência de grande esforço tirar da análise os excessos. Isto é, tirar o excesso de expectativa, o excesso de acomodação (aos preceitos e desejos do observador/avaliador), excesso de ajustes aos valores pessoais. Isso posto, se presumirá que o julgador poderá proceder com chances de cometer menos erros. E talvez, e só talvez, o julgamento possa ter outro sentido; não da vingança ou revanche, mas da isenção. Nada mais simbólico que, ao fim do julgamento, possam as partes, julgador e julgado, sem modéstia e presunção, ambos, como duas pessoas probas e desprovidas do sentimento de vindeta, chegarem à conclusão de que tudo se deu tal qual julgado. E assim, àquele que se supunha o motivo da contenda, possa ser o prenúncio de que se precise repensar o método ou o modo de agir. Quem assim conseguir proceder, sem prejuízo de ser amigo da justiça, mais que qualquer outro e valioso bem, terá exercido o mister dignificante do Humano. Talvez, e só talvez, quem age com diligência e coberto pela razão, provavelmente nem perceba, terá contribuído para que não reste o rancor. Do contrário, para tristeza da evolução humana, não se poderá dizer, sob risco de se mentir às gerações vindouras, que sabemos o que significa a palavra Justiça.