A Morte da MPB

ENSAIO LITERÁRIO:

A MORTE DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA.

INTRODUÇÃO

O presente ensaio trata de um tema que está sendo ignorado por muitos e cujo as pessoas não encaram como um problema e outras até encaram, mas não o veem com a real proporção de sua gravidade.

A Música Popular Brasileira está desaparecendo aos poucos e dando lugar a uma agressão musical, que não fere apenas a cultura popular da nação, mas também à Língua Portuguesa como um todo.

A MORTE DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Ao correr os dedos por um botão de rádio, procurando uma estação que apresente a boa música, só decepção será obtida. Não se ouvem mais os clássicos de Caetano, Gal, Milton Nascimento ou mesmo Adriana Calcanhoto, ou Ana Carolina – que surgiram em tempo mais recente.

A música inteligente, e bem escrita, raramente aparece em rádios nacionais. É quase impossível presenciar tal acontecimento. Sequer existe um horário designado a elas. São cantores, bandas e canções literalmente esquecidos pela mídia, como se nunca houvessem existido.

É o enterro da Música Popular Brasileira (M. P. B.). O bom gosto saindo de cena, para dar lugar a versos ofensivos ou totalmente sem sentido.

Cantores e compositores que se preocupam apenas em escrever letras, que se enquadrem num ritmo, para tão somente provocar movimento do corpo, sem comunicar uma mensagem ou a essência de uma poesia.

São expressões esdrúxulas como: “arrocha”, “encaixa”, “alto, em cima”, “bara, bara, bará” ou “vem ni mim”, que dão o tiro de misericórdia na M. P. B. e tomam conta do país, como se fosse uma doença altamente contagiosa e mortal. A gripe “A” da música e da cultura.

É tudo tão carregado de promiscuidade, vãs repetições e desqualificação moral, que suborna as pessoas e desestimula os novos poetas a criarem e exporem suas obras, como forma (e fórmula) de combater esse vírus tão letal.

Isso está em todos os lugares: nos carros a circular pelas ruas, nas casas, nos computadores, na TV, festas, celulares e, até mesmo, nas escolas, contaminando, desde a infância toda uma nação.

E quais as consequências dessa abominável catástrofe?

Várias. Podem, até mesmo, ser transformadas em tópicos:

• Mutilação da Língua Portuguesa: a sociedade deixa de empregar, no seu cotidiano, a linguagem culta e passa a usar gírias e expressões grosseiras para se comunicar. Falam de forma errada e passam a escrever da mesma forma que pronunciam as palavras;

• Adultério: muitas letras dos ritmos funk e sertanejo exibem a traição como algo maravilhoso, fazendo parecer natural um homem deixar a esposa ou namorada em casa, para ir a uma festa ou boate com os amigos e lá se relacionar com outras mulheres. Assim também, ensinam a mesma prática ao público feminino;

• Pedofilia: letras como “Se eu mato, eu vou preso” mencionam o termo “novinha” e, até mesmo as idades abaixo de dezoito anos que os MCs - como os cantores dessas barbáries se definem - teriam relações. O assunto é tão sério, que se tornou motivo de investigação da Polícia Civil do estado de Pernambuco, a pedido do Ministério Público Estadual.

• Drogas: algumas músicas mencionam o uso de drogas de forma subjetiva. Outras, descaradamente. O ritmo sertanejo, por exemplo, usa expressões bastante explícitas quanto ao consumo do álcool como: “... vou beber até cair...”, “... eu bebo mesmo...”, “... beber, cair e levantar...”, “... eu danço e tomo cerveja, eu grito e subo na mesa...” . Tornam, assim, o excesso de álcool uma prática natural e cotidiana. Já o funk mostra a prostituição como uma bandeira, em muitas músicas, estimulam danças eróticas que desvalorizam a mulher, passando a ideia de que esta seja, unicamente, um objeto de prazer sexual.

Tudo isso invade, diariamente, os lares brasileiros, através das mais diversas formas e perpetua como preferência da maioria da população. “Eles vivem numa estrutura carente de tudo. Esse apartheid social faz com que esses jovens fiquem sem qualquer orientação e acabem gostando de músicas com essas conotações” - palavras da pedagoga Joseneide Barbosa.

O que se vê é uma sociedade desprovida de cultura e assim passa a ser influenciada, diretamente, por esses tipos de músicas.

Logo, essa prática passa a ser considerada, por alguns, como uma forma de expressão da cultura das classes menos favorecidas. Segundo o desembargador federal Cândido Alfredo Silva Leal Júnior: “Estamos falando de gêneros musicais como o funk e o pagode, que têm outras origens, se baseiam em outros princípios, são frutos de outra realidade. Estamos diante de gêneros musicais das camadas mais marginalizadas, de formas de expressão artística que não têm o refinamento da música erudita, mas que têm forte apelo popular. Não importa se gostamos ou não desses ritmos. Eles existem e são formas de expressão de mundos brasileiros, falam do Brasil de muitos brasileiros”. Mas na verdade atingem também a classe média, já que é comum ver pessoas dessa camada social freqüentando bailes funks.

Ainda que as escolas ensinem matérias como Literatura Luso-portuguesa, fazendo a sociedade conhecer a poesia ao longo dos tempos e a Gramática faça um trabalho de ensinar a boa fala e também a escrita correta, esses ensinamentos ficam limitados às paredes das escolas e não fazem parte da vida dos jovens que, por causa dessa imposição musical, esquecem-se do aprendizado e não se preocupam com a importância de conservá-lo.

Chamar esse lixo de expressão artística e considerá-lo parte da cultura nacional, apenas explica o porquê de o país ainda viver à mercê da corrupção política e da crescente violência. Sem Cultura, uma nação não é capaz de evoluir intelectualmente e torna-se escrava de formadores de opinião, que querem manter a sociedade estagnada no tempo e no espaço controlado e delimitado por eles.

Onde estão os grandes festivais, como da Record, movimentos como Jovem Guarda, que arrebatavam toda uma geração? Onde estão versos ricos como: “... Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”, que defendiam a causa de um povo que lutou tanto pela liberdade de expressão, para depois se tornar escravo da libertinagem e do mal gosto?

Também desapareceram letras boas, sem tom de protesto, mas com boa melodia, como por exemplo: “Nada ficou no lugar, eu quero entregar suas mentiras...”, “... Pois seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia amigo eu volto a te encontrar, qualquer dia amigo a gente vai se encontrar” e “Se um veleiro repousasse na palma da minha mão, sopraria com sentimento e deixaria seguir sempre rumo ao meu coração...”

É de umedecer os olhos pensar que não existe mais poesia ou canção e que as pessoas não podem mais fechar os olhos e sentir a voz de um cantor ou cantora adentrar os poros, dominar a alma e fazer mergulhar na melodia, se prendendo a cada nota e verso. Ou ainda comunicar uma mensagem que acrescente algo positivo e útil para uma sociedade tão carente de cultura.

Doravante, seremos dominados pela letra mesquinha, pelo desejo sórdido de ganhar dinheiro, sem se preocupar em participar as pessoas de uma mensagem, um ensinamento, uma reflexão, algo que totalize não só o amor e valorize o ser humano, mas que, sobretudo, purifique a mente das pessoas.

BIBLIOGRAFIA:

• Música: Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré);

• Música: Mentiras (Adriana Calcanhoto);

• Música: Porto Solidão (Jessé);

• Música: Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant);

• Música: O cara do arrocha (Israel Novaes);

• Música: Vem ni mim Dodge Ram (Israel Novaes);

• Música: Amor de chocolate (Naldo);

• Música: Bara bará, bere berê (Leo Rodriguez);

• Reportagem: A música que incita a violência nas ruas (D. N. Globo - 09 de Agosto de 2009;

• Artigo: Lista com as canções que estimulam a violência (site Oba Oba - obaoba.com.br);

• Artigo: Polícia investiga (Uol Notícias - noticias.uol.com.br - 17 de Agosto de 2011);

• Festivais da Record: T.V. Record.

AUTOR: DOUGLAS RENATO PALMEIRA.

Douglas Renato
Enviado por Douglas Renato em 15/11/2021
Código do texto: T7386060
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