Somos brasileiros e estrangeiros, Marina!

Somos estrangeiros porque a nossa verdadeira casa e a casa da nossa música não têm paredes nem teto nem cerca nem fronteiras. Não vegetamos nem precisamos de raízes.

Mas nascemos aqui, aqui trabalhamos e escolhemos ser brasileiros. Por quê? Porque este país é a nossa cara. A força dele, como a nossa, não pode vir de nenhuma fonte pura. Fontes puras não existem. O Brasil vem da fusão de todas as águas, de todas as correntes culturais, da miscigenação. Por isso ele realmente mete medo em todos os que sofrem de agorafobia.

Como a música é a expressão viva da cultura no Brasil, é justamente a ela que os caretas tentam impor a sua “ordem”. E a ordem dos caretas é e sempre foi a da fidelidade às tais “raízes” ou “purezas” ou sabemos lá o quê...

Já para nós, bom é ser contemporâneo ao mundo. Tomamos partido pelo presente e nele pelo mais full gas e mais fugaz. Se nossa música é política? Nossa música é a nossa política. Queremos descobrir novas possibilidades: não de fazer “arte”, mas de viver.

Chega de ideais repressivos, [...] fingindo estar acima do tempo e dizendo, por exemplo, [...] que devemos ou que não devemos ter ciúmes, ou que temos que gostar da bossa nova ou fazer samba ou ser new wave...

Melhor para nós são a descoberta e liberação dos desejos e gostos autênticos de cada um.

Nossa música é simples, deliberadamente simples e direta. Por isso mesmo ela é mais difícil para aqueles que se viciaram às velhas fórmulas. Sabemos que somos superficiais demais e profundos demais para essa gente.

Não há CAMINHO REAL para fazer algo que enriqueça o mundo. Por mais que certos setores da “vanguarda” sugiram uma evolução linear da Música, a verdade é que às vezes é do mais “vulgar” que vem o toque mais sutil. E é claro que o novo vem sempre de onde menos se espera. Assim somos nós. Assim é o que fazemos. Simples como fogo. Fullgás.