Unhas postiças

Parte dele #

Acordei de sobressalto. Era cedo. O sol derrotado. Desejava ceder ao cansaço do corpo. Imóvel. Não tem jeito. Do inerte ao móvel. Sem espaço procuro a liberdade. Bloco de notas. Noto o céu resplandecente. Anoto pequenas palavras sobreviventes de um sono perturbado. Caminho até a janela. O labirinto da labirintite está inflamado. Trato-me como um romântico cardiopata. Um diabetico excitado. Junto doenças. Coleciono juros. Acúmulo uma porção de talvez. Quase é também talvez. A estatística é inútil para ilustrar um caminho. Pelo menos no amor. Mesmo assim, no nosso universo particular, com ela sinto coragem. Convalesço. Desfaço e depois refaço as dobras para desviar do quando era antes. Evito a sabotagem. A autoconsciência do clichê é uma autosabotagem. Assumo clichês irritantes. Coloco minhas unhas postiças. Dissolução. Lenta. Progressiva. Debruço-me sobre os buracos. Deixo-os de lado. Preencho-os de recheios. Persevero. Severamente, preservei o que assevero. Caminho acidentado. A existência volta a algo semelhante ao normal? Corro dentro do apartamento lentofirmeforte.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 12/11/2021
Código do texto: T7384038
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