terapia
Só parte#
Não sei bem por onde começar a contar essa minha história confusa. Deve ser um velho clichê de sessão de terapia. Chegar até aqui foram anos de resistência. É essa palavra que vocês da psicanálise costumam usar, não é? Às vezes, continuo achando que conversar com você é perder tempo. Apesar de duvidar. Hoje vou falar do trabalho. Trabalho. Caos. Agora avesso do avesso do avesso do avesso. Permita-me o trocadilho caetánico. Já era turvo-ermo-sombrio ser mulher na polícia. Ser um homem trans, imagina? De duas, uma: saio ou subo. Não tem meio termo. Não quero sair. O trabalho é periclitante e as relações muito mais. Agora a farda é outra. Agora o inimigo é outro. Eu sei. Ando armado. Talvez até adoeça. Paranoia e tal. Mas se vi para ser dois, vou fazer dormir muita gente. Medo? Tenho. Quem não tem mente. Tenho medo. O perigo é não ter medo. Sou uma correia dentada. Sou uma tampa da válvula. Sou um sensor de rotação. Sou uma coifa com rolamento. Sou uma junta do carter. Sou um óleo do câmbio. Sou um mecânico engraçado com sorriso para o que há de vir. Sou um trabalho. Sou uma análise interminável.