Diário de bordo - JOGRAL
Nos primeiros momentos da aula me deparei com uma turma além de ativa e interessada, repleta de criatividade; ao passo que me sentia insegura quanto como seria a recepção deles em relação a mim, senti que agora estava um pouco mais madura quanto aos meus ideais, pontos de vistas e posicionamento do que estive no meu primeiro período, percebendo naquele exato momento que eu havia iniciado uma nova performance, a criação de uma nova persona que seria apresentada aquela turma de neófitos do curso.
Demos início então ao primeiro jogral ministrado pelo docente, não sei o nome da brincadeira, então irei intitulá-la de “Mais um”, o intuito desta brincadeira é trazer e manter o foco dos discentes dentro do nosso ambiente; a premissa era, o professor dizer um número e um nome, essa pessoa a qual ele chamou diria outro número e indicaria outro jogador para que assim se seguisse, pontuando nessa ação o que chamamos de “deixa teatral”, onde uma personagem tem em seu texto palavras chaves que ditam o momento correto para a outra personagem com quem divide o palco, possa iniciar sua fala e assim todo o espetáculo se segue, desenvolvendo um trabalho de parceria e troca; bem como nessa atividade em grupo que foi ministrada pelo docente, no ponto em que a criação da performance teatral e da persona teatral se desenvolve de maneira lúdica durante o brincar, no qual a interação traz um sentido com uma linguagem sinuosa e silenciosa onde o sujeito(docente) interage com um outro(discente) e este irá contribuir com a resolução da problemática, que nada mais é que a continuidade fluídica do próprio jogo, criando então um foco contínuo. O jogral seguinte se dá através da imitação de um bicho, irei nomeá-lo aqui de “que bicho sou eu?”,já que também não conheço o nome deste jogo em questão; foi nos orientado pelo docente que imitasse um bicho qualquer, que viesse em nossa mente a partir da palavra-chave: jogo. Nesse contexto mais uma vez além de trabalharmos, o foco, somos incentivados a trabalhar nossa criatividade e espontaneidade, afinal sabe-se que para um adulto, a imitação de um bicho ou o fazer coisas consideradas bobas para nossa idade, na realidade são a chave para a nossa criança interior, inventiva e livre de premissas limitantes, que possam impedir o desenvolver de nossa criatividade em seu estado pleno.
Iniciou-se uma pausa para que debatermos acerca do que esperávamos ou entendemos sobre esta disciplina de improvisação, ao observar o diálogo de meus colegas de turma percebi que eles mesmos já definiam o que seria a disciplina, porém talvez, sem antes vislumbrar que em suas falas estavam contidos os elementos do brincar realizado anteriormente, que incentivou nossa criatividade, liberdade de improvisação para a criação de algo novo partindo do pré estabelecido, tendo por base não só da escuta mas da espontaneidade, confiança e principalmente no desenvolvimento da autonomia no processo e intervenção do próprio jogar, utilizando o tudo e todos os ritos em função da arte.
Me remetendo assim a minha própria jornada como artista/Atriz que sou, desde meus 9 anos, brincando de ser menino de rua(minha primeira personagem) nos palcos da escola onde estudei, ou me fantasiando de Diana do pastoril, a persona taciturna criada para a prova da minha DRT, a coralista na ópera a Flauta Mágica de Mozart montada em 2006 pelo Coretfal, ou mesmo como a mulher com síndrome de Borderline em Peleja- Razão mutilada com a direção de Glauber Teixeira, como a Orixá dos ventos no grupo Aiê Orum ou ainda como a dualidade homem e mulher na personagem de Maranhão e Piauí na quadrilha Luar do Sertão, permitindo-me o vislumbre das brincadeiras inventivas que minha mãe incentivava em minha infância, os jograis que possibilitaram o desenvolvimento da minha espontaneidade criativa a partir do desejo da mulher que me deu a vida e a razão de acreditar que as artes estão para além de ser entretenimento, mas sim uma cura para a alma, coração, espírito e que isso precisa ser reverberado em meio aqueles que não tem essa mesma oportunidade, para construir ao menos um dia que seja, melhor.