Linguística : uma visão histórica
É perfeitamente evidente que as observações e conclusões a cerca da Lingüística variaram conforme o tempo tendo, a princípio, a filosofia como pano de fundo. Distintas foram as teorias que ao seu turno contribuíram necessariamente para o desenvolvimento e alargamento de seus conceitos. A linguagem, num dado momento, tornou-se objeto de estudo e as suas expressões o corolário de sua certeza.
Faz-se necessário estabelecer que a nossa tradição gramatical tem raízes no que chamamos de “Gramática Tradicional”. A partir dessa observação é possível que se inicie um estudo mais atento e extensivo uma vez que a história nos demonstra – em muitos casos – um retrato fidedigno na observação dos fatos enquanto idéias seguras e incólumes. A gramática tradicional foi fruto de pesquisas desenvolvidas por gregos e romanos como também por gramáticos da Idade Média e de períodos subseqüentes.
Não podemos discordar, portanto – embora no início não tenha sido encarada como objeto prioritário de análise – que o estudo acerca da língua deu seus primeiros passos com filósofos gregos do século V a.C. Destarte, foi comum encarar os estudos lingüísticos como parte inerente à filosofia.
Posteriormente, e não foi de surpreender, houve certa exigência sobre o estudo lingüístico na medida em que era necessário um aprofundamento da literatura. Assim, os alexandrinos tomaram a dianteira e proclamaram a prioridade da perspectivas literária sobre a língua.
É de se pensar, portanto, que a preocupação sobre o estudo da língua oscilou durante algum tempo ora entre as especulações filosóficas, ora entre as preocupações literárias. Talvez o contexto histórico tenha contribuído preponderantemente para essa oscilação uma vez que em muitos casos, os pensadores são o reflexo de muitas das idéias de seu tempo.
Se traçarmos uma linha reta tendo como ponto de partida a Idade Média que foi caracterizada pela especulação filosófica nos seus princípios universais e necessários acerca dos estudos lingüísticos, e se fixarmos o segundo ponto na segunda metade do século XVIII, caracterizada também pela retomada de muitos dos valores da filosofia especulativa, veremos que essa linha faz uma curva entre o final da Idade Média e o século XVI, isto é, durante o Renascimento para pensar a lingüística mais uma vez como aliada da literatura.
Durante a Idade Média com o advento divisório entre ciência e técnica, as conclusões sobre a gramática também ficou dividida. Asseverava-se por um lado o seu caráter prático, por outro a prioridade teórica.
Com o advento da filosofia escolástica, sobretudo, nos séculos XII e XIII foi pertinente a idéia de estabelecer uma gramática com fins filosóficos que por sua natureza tivesse consonância com princípios universais e necessários. Nesse período surgiu, duas gramáticas distintas. Uma geral de objetivos voltados para a análise das categorias universais, outra particular com objetivos pedagógicos.
Indubitavelmente, nos séculos posteriores, apareceram diversos lingüistas que não destoaram da busca por um melhor aprofundamento das teorias científicas de seu tempo. De fato, pensou-se com mais propriedade na linguagem como um produto das sociedades. Seria ela, por todas as suas características, um fato social?
A esse questionamento Saussure (1857-1913) responderia originalmente pela afirmativa. Foi ele, sem sombra de dúvidas, um dos principais lingüistas da modernidade. Estabelecendo as bases sistemáticas e objetivas do estruturalismo após ter partido das perspectivas científicas baseando-se em idéias de sociólogos e psicólogos de seu tempo, pensou a língua como produto das forças sociais. Uma espécie de “contrato assinado entre os membros de uma comunidade”.
Mais adiante, Bloomfield estabeleceria uma noção de estrutura não necessariamente distinta da de Saussure. No entanto, seguiu mais de perto as idéias da psicologia, sobretudo, as do behaviorismo que via o comportamento como produto essencial do que ficou conhecido como estímulo resposta. As idéias do empirismo também foi uma constante em seu método de análise. Via o ato lingüístico como comportamento humano e a experiência sensorial como ponto de partida para a aquisição de uma determinada língua.
Mas como o desenvolvimento das teorias acerca da língua faz parte da filosofia na medida em que se faz necessário uma busca intelectual para os questionamentos propostos pela necessidade humana de compreender e de se comunicar, a segunda metade do século XX nos apresenta o precursor de Gerativismo, Noam Chomsky.
Era outra perspectiva. Partia-se de uma outra análise sem, contudo, renegar de um todo a idéia de língua como estrutura.
O Gerativismo foi uma corrente lingüística do século XX que pode ser tida como não-saussuriana. Os lingüistas dessa escola se objetivaram em analisar as questões da língua segundo uma perspectiva especulativa, isto é, firmando a prioridade do tratamento matemático nas propriedades da língua.
De qualquer forma, com o estudo acerca do desenvolvimento das pesquisas sobre as línguas é comum encontrarmos divergências sobre esta sem, contudo, esgotá-la como objeto de estudo.
Baseado num texto de Lúcia Lobato.