Faloplastia
só parte #
Quando um demônio se dependura no trapézio das ideias é caso terminal. Veja o caso do Brás, Cubas. Pendurada a ideia no trapézio a história só poderia ser póstuma. Em nós foi a ideia de uma faloplastia fatal. Dependurou-se depois do pau (dele) ter ficado preso no fecho éclair (dela). Presos. Incidente resolvido com pinças (de sobrancelhas) e tesoura de cozinha. Pênis desvencilhado com alguma dor. Um quase nada de susto e ausência total de sangue. Mas o acontecimento durou em nós. Demônio da ideia fixa. Não dormia mais sem acordar com a certeza de que - mais dia, menos dia - numa hora imprevista ia precisar operar o pênis. Ideias para não desaparecerem. Preciso de reforço. Nunca perdia a mania de assistir os filmes ganhadores do Oscar. A Garota Dinamarquesa fez o serviço de legitimação em algum ano qualquer. Pronto fim seria assim. Ninguém sai ileso de querer ter um pau quando não tem. Ou aumentar o micro que possui. Ser dois e ter um pau só já bastaria para desejar uma cirurgia. Da faloplastia fatal até a mente (e seus demônios) a fantasia anda de rédeas soltas. Necrose. Infecção. Gangrena. Sepses. Intubação. Coma. Vida artificial. Cada dia (pós noites de pesadelos) acordava febril. Doente. Demente. Sentia as dores da queda. A ausência do membro. A mutilação irreparável. Levantei-me da cama. Imediatamente mãos a postos. Apalpava. Mudamente. Mutuamente. Nada de pus. Nada de corrimentos pútridos. Tudo obra dos demônios íntimos. Ele continuava com seu pau tímido e resistente. Eu - ele e ela - exuberante, fálico e castrado.