REFLEXÕES SOBRE A VIDA E A MORTE

    A pessoa toma conta que envelheceu quando passa a viver só de recordações. Nesse estado sente-se que as perspectivas acerca do futuro são de apenas pálidos momentos de minguada ternura. As ilusões se desvanecem, o sonho acaba. A realidade passa a preencher cada momento da vida, tornando-a cada vez mais entediante e rotineira. O tempo, então é vivido em torno de futilidades e nada mais importa.
    Não há mais emoção alguma. Acaba-se o mistério que move a vida.
    O amor, eterna essência que alimenta a alma, sobrevive arraigado em meio às lembranças de um tempo outrora feliz.
    Cessa-se a vontade da procura devido ao temor do desencanto. Não há mais esperança alguma. Vive-se apenas do passado e o amanhã é mera continuação de um 'flashback' interminável.
    Uma tênue chama de fé é o que ainda sustenta a vida, onde cada minuto vivido é uma eternidade.
    As satisfações são imediatas, cujas sensações servem apenas para que se faça comparações com sentimentos dantes experimentados.
    Nada é duradouro, não há liames com o mundo atual, e não existem medidas.
    O passado, como gigantesca teia, envolve tudo, encarcerando a vida, num espaço sem saídas e sem retorno. É o fim...

                    Sales Oliveira-SP, 30-05-1992