submersa
dela parte#
Talvez essa coisa toda do mar e tempestades tenha a ver com o naufrágio. Para falar a verdade, foi uma queda. Uma virada. Um caldo. Prefiro re-contar como um grave naufrágio. Afinal, foram exatos t-r-i-n-t-a e s-e-t-e infindáveis segundos submersa. Submetida ao peso líquido da água do mar sob as ondas num lugar equidistante da areia segura da praia. Talvez, por isso, sou mais do que eu. Sou tu. Sou ninguém perdida no mar sem fim. Sou o povo que quer o que é seu. Foi só um tombo do caiaque no raso de uma baía. Porém, com todos versos e demônios que me habitam temi a abissal linha do horizonte. Quem me dera as caravelas portuguesas. Arrastei-me até à praia. Fugi do mar de onde nunca saí. Vou ser forte. Deixar você falar. Escutar. Não direi uma palavra sequer. Afinal, meus demônios. Teus demônios. Não necessariamente nossos. Compartilhamos tanto. Fiquei dona de seu inferno pessoal intransferível. Diga. Apaguei a luz. Não quero ver nossos olhos agora. Te ouço. Tens medo de quê? A luz fica acesa à noite porque tu precisas. Não tenho medo do escuro. Te ouço. Te escrevo.