MITO E RELIGIÃO: A SOLIDÃO, A ANGÚSTIA E O MEDO. O SENTIMENTO DE FINITUDE

O surgimento espontâneo das religiões em absolutamente todos os povos indica, para muitos antropólogos e pesquisadores, uma necessidade de dar sentido ao mundo, à comunidade, à realidade aterradora e à própria finitude.

E mesmo hoje não existe nação que não tenha nas religiões (ou nos mitos) um dos pilares culturais de sua formação. Então, de forma alguma as religiões são um objeto de estudo superficial.

Sobre isso, a autora Maria Lúcia Aranha diz:

O mito é uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. (…) A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA & MARTINS, 2002)

Um dos mais conhecidos estudiosos dos mitos e das religiões, o filósofo romeno Mircea Eliade, afirma que uma das principais funções dos mitos é estabelecer modelos para as atividades mais importantes de qualquer comunidade, como os nascimentos e casamentos, inclusive dando um sentido existencial à morte. Vejamos o que diz Eliade sobre isso:

A forma sobrenatural de descrever a realidade é coerente com a maneira mágica pela qual o homem age sobre o mundo, como, por exemplo, com os inúmeros ritos de passagem do nascimento, do casamento, da finitude, da infância para a idade adulta. (…) Quando acaba de nascer, a criança só dispõe de uma existência física; não é ainda reconhecida pela família nem recebida pela comunidade. São os ritos que se efetuam imediatamente após o parto que conferem ao recém-nascido o estatuto de ‘vivo’ propriamente dito; é somente graças a estes ritos que ele fica integrado na comunidade dos vivos. (…) No que diz respeito à morte, os ritos são tanto mais complexos quanto se trata não somente de um ‘fenômeno natural’ , mas também de uma mudança social: o morto deve enfrentar certas provas post-mortem e ser reconhecido pela comunidade dos mortos e aceito entre eles (ELIADE, 1999).

Não podendo explicar nossa origem, o passado, o presente e o futuro,

na solidão. na angústia e no medo, com um enorme sentimento de fini

tude, buscamos o mito, a religião, enquanto aguardamos o sonho maior,

a eternidade. Não queremos a finitude.

ALMA GRANDE
Enviado por ALMA GRANDE em 16/10/2021
Reeditado em 16/10/2021
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