A EUGENIA DOS SANTOS

Por Antônio F. Bispo

Outro dia recebi em minha casa uma “ilustre pessoa de deus”.

Era pra ser apenas uma visita rápida de negócios e resolvemos conversar na minha biblioteca mesmo.

Entre uma conversa e outra notei que a pessoa olhava fixamente para um ponto em minha estante de livros com um certo olhar de espanto com se tivesse visto um fantasma.

Perguntei o que a atraia tanto e ela apontou para um objeto e em um tom de voz que mesclava o medo e o asco falou:

-Você tem ligações com as trevas, não é?

Eu lhe disse:

-Depende. Não sei o que você considera como trevas!

Ela retrucou:

-Você tem a cópia de um crânio humano em sua prateleira de livros. Isso é coisa de bruxo, de gente que mexe com o “coisa ruim”!

A minha primeira reação foi de surpresa e a segunda foi de risos!

Tive um crise de risos que cheguei a lacrimejar e a deixei muito desconfortável com sua “brilhante dedução” sobre minha pessoa.

Depois do riso, a minha terceira reação foi a de decepção!

Pois é....eu esperava tamanha bobagem de qualquer outra pessoa, menos daquela.

Eu julguei que pelo fato dela estar em conclusão do seu terceiro curso universitário, ela seria diferente dos demais abobalhados da fé, que andam procurando chifre em cabeça de cavalo ou que enxergam demônios em tudo e em todos que não faça parte do seu círculo místico de crenças.

Mas eu estava redondamente enganado. Ela era mais do mesmo apesar de tantos diplomas!

Eu estava confundindo graduação superior com inteligência e o frequentar de muitas escolas com sabedoria. Essa era mais uma experiência negativa à ser agregadas às tantas outras no que diz respeito a “sabedoria dos santos”.

O objeto em questão apontado por ela como símbolo demoníaco em minha estante, era apenas a parte inferior de um crânio humano em tamanho reduzido, feito de PVC, cujas partes colecionáveis eram vendidas separadamente em uma revista infantil.

Meu objetivo era montar todo o sistema ósseo humano, mas a revista saiu de circulação e mal consegui montar por completo a cabeça.

Para aquela pessoa que alegava ter a mente de cristo, aquele objeto era o suficiente para me associar ao satanismo ou a outra coisa semelhante, sempre no sentido pejorativo já que ela não conhece os fundamentos da própria fé, quanto mais da crença alheia.

Ela só estava sendo uma crente comum, demonizando o que desconhece enquanto tenta exaltar os valores morais distorcidos que sua igreja lhe impõe.

Tivemos de mudar de assunto, pois minha forma de resposta não verbal e não agressiva a deixou muito desconfortável.

Ao que parece, ao me afrontar ela esperava que eu entrasse na defensiva e que se justificasse perante ela, arguindo então o motivo pelo qual tinha em meu poder tão “macabro objeto”, para que assim, por meio de sua própria visão doentia de mundo, ela pudesse me dar “lições de vida”, ensinando-me ensinando os “caminhos da verdade segundo ela mesma. Só que eu estava em minha casa e mesmo se estivesse em erro, não caberia dar-lhe satisfação alguma.

Essa é uma tática muito usada pelos abobalhados inquisidores da fé: eles apontam algo em ti ou em sua posse que ao ponto de vista deles parece ser um erro, para depois te dar um sermão tosco, e independente do que você diga, ele vai lacrar em cima disso de qualquer jeito, fazendo com que você sinta culpa e inferior a ele. Nesses casos, mesmo te ofendendo desnecessariamente vão saí por ai achando que prestou um serviço público aos reinos dos céus e que vencera mas uma batalha contra o capeta que estava em sua vida.

Mas não foi isso que ocorreu comigo. Eu apenas ri descontroladamente e isso a desnorteou e ao invés de se achar superior, ela se sentiu patética com tal observação, principalmente por que não lhe pedi opinião à cerca de nenhum objeto em meu pertence e o instituto da conversa era apenas comercial.

...

Despois que ela saiu fiquei me perguntando o quão mentalmente perturbado um fanático religioso pode ser, ao ponto de julgar o caráter e a história de vida de outrem baseado num fútil descrição de um simples apetrecho decorativo.

Quanta presunção, quanto orgulho, quanta babaquice!

Me pergunto diariamente o quão corrosivo é a “verborragia de um salvo” quando estão à exaltar sua própria conduta e visão pífia de mundo. Sempre reflito sobre os males que isso traz ao ambiente em que eles vivem e interagem.

Nessa minha estante por exemplo, havia quase 2 mil livros e revistas abordando diversos campos do saber humano, mas ela não notou ou não quis notar nenhum deles.

Havia inclusive 8 bíblias em 5 idiomas diferentes. Ela também não quis destacar isso!

Além dos livros e do objeto de sua afeição, havia também outros itens que se destacavam à distância, a exemplo de um microscópio amador; duas daquelas balanças que a deusa Themis segura, simbolizando o direito e a justiça; um violão; um par de luvas de boxe; um skate e minha maleta do curso de jornalismo contendo um laboratório portátil com itens básicos para produção de pequenas produções.

Ela também não notou nenhum desses pertences.

Ela viu apenas o que queria ver e ainda por cima deu um sentido maligno a algo que poderia ser relacionado a qualquer outra coisa, menos à bruxaria ou ao satanismo naquele contexto.

Pela quantidade de bíblias que ali havia, ela poderia presumir que eu fosse uma pessoa boa, ou um devoto religioso, já que eles costumam dizer que é do bem quem porta ou fala da bíblia.

Pela quantidade de livros diversos, ela poderia dizer que eu era um grande estudioso.

Pelos objetos acima descrito enfeitando a mesma prateleira, ela poderia associar minha imagem à de um cientista, advogado, esportista, músico, jornalista e até mesmo a de um médico ortopedista ou neurocirurgião pois o único item que a interessou dava margem pra essa interpretação.

Porém, de livre espontânea vontade e com ar de superioridade ela preferiu me comparar a um ser tenebroso, que tinha ligação com o demônio, mesmo quando minhas palavras e ações não tinham nenhuma correlação com tal pressuposição e ela sabia disso por que nos conhecíamos há alguns anos.

Por um instante pensei que essa pessoa tinha lido algum de meus textos e os tinha interpretado de forma errada, já que isso é comum à nossa gente. Mas também não foi isso que ocorreu.

Ela nem sabia que eu escrevia textos como esses, voltados aos questionamentos da fé, da religião e das babaquices humanas no que dizem respeito a idolatria ou ao temor irracional por “pessoas de deus” ou seres mistificados.

Entre mais de 2 mil itens para ser analisado, ela escolheu um para tentar me diminuir segundo sua pobreza de espírito.

Lembrei-me que o único modo de um medíocre sentir-se grande é reduzindo ao nada outras pessoas ou suas obras.

Mas o caso dela ia além disso, pois ela dizia em outras ocasiões ter a mente de cristo, fazendo alusão ao fato de fazer parte de uma determinada igreja evangélica.

Lembrei de algo que particularmente chamo de A EUGENIA DOS SANTOS.

Trata-se do modo como cada grupo religioso faz suas próprias “seleções das espécies” criando qualidades para si e defeitos para os outros, e em cima dessas “virtudes e defeitos” passam a julgar a tudo e a todos sob sua ótica perversa, medonha e perturbada.

Este comportamento individual ou grupal é capaz de transformar qualquer paraíso em um inferno e qualquer relação pessoal pacífica em uma guerra infindável.

Me lembrei que não há “geneticista” melhor e mais conceituado no mundo que uma pessoa convicta de sua própria fé (religiosa), cujas fontes de inspiração e pesquisas são apenas suas “conversas particulares com deus” e sua própria interpretações bíblicas.

Estes são criadores natos de “fenótipos e genótipos espirituais”.

Quando não estão criando, estão fazendo suas “pesquisas científicas segundo a fé”, selecionando pessoas, suas crenças e seus pertences para assim averiguar quem por acaso se encaixa nos padrões de santidade segundo a sua débil perspectiva de vida.

É mais um menos assim: em um belo dia um deles acorda e diz que deus falou que o modo correto de agradá-lo é andar de lado como caranguejo.

Pronto: à partir daquele dia em diante quem andar para frente como comumente fazemos, será visto como alguém que resolveu afrontar diretamente ao criador do universo e todas as moléstias do mundo será fruto dessa rebeldia.

Eles então farão discursos, tratados, epopeias, salmos e provérbios baseados nesse tema e se dirão superiores à todos os que não seguem suas maluquices.

Se o movimento deles crescer e alcançar algum político poderoso ou autoridade jurídica, o que antes era visto como um movimento de gente maluca poderá se tornar um imposição social com direito a perseguir e exterminar quem se recusar a obedecer tal “ordem divina”.

Tem sido assim desde sempre em quase todos os movimentos religiosos. Quanto mais radicais, mas imposição farão a todos.

Que seja testemunha disso os mil anos de império das trevas promovido pela igreja católica romana o atual talibã, além todos os movimentos religiosos radicais de qualquer povo ou época.

Qualquer pessoa ou “movimento divino” que hoje é motivo de chacota, amanhã poderá estar ditando as regras do jogo se não nos dermos contas de suas intenções não expressas verbalmente.

A quem ainda não se deu conta, muito se fala sobre o eugenista que influenciou Hitler a destruir “povos inferiores” para que os humanos perfeitos (os alemães) pudessem florescer e dominar o mundo, mas pouco se relata que as principais formas de eugenia sempre ocorreu nos círculos religiosos.

O velho testamente por exemplo está abarrotado de citações em que “deus ordenou" invadir vilarejos ou cidades inteiras e matar a todos os habitantes por considera-los idolatras e voltados ao paganismos, sendo que o seu “próprio povo” era uma cópia exata dos povos que tentavam exterminar.

O eugenismo é o racismo disfarçado, e o “racismo santo” é o pior de todos os tipos que existe, pois vem sempre disfarçado de boas intenções e floreios em nome de uma divindade qualquer.

Em nome desse eugenismo mata-se e morre todos os dias desde que o mundo é mundo.

Quem o faz alegar ter boas intenções. Inclusive eles dizem estar à serviço de um ser superior da mais alta patente das hierarquias celestiais. Um embaixador dos céus é o que todo racista da fé atesta ser e quem o confrontar estará atiçando a ira do próprio deus e suas hostes celestiais.

Estas pessoas grotescas que alegam conhecer “o profundo e o escondido de deus”, olham para um ateu e o desprezam, o julgam como filho do demônio e chegam ao cúmulo de atribuírem as mazelas do mundo ao simples fato de uma pessoa ou um grupo não crer em deus.

Ser ateu é simplesmente não crer em deus e pronto! O fato de negar uma fé não torna uma pessoa boa ou má, apenas menos submissa a um “deus” ou a uma hierarquia eclesiástica.

O fato de afirmar uma fé também não. São apenas palavras vazias motivas por um anseio de aceitação social.

Na teoria, um cristão é um deísta. Na prática, ele é tão ateu quanto um ateu comum, com a única diferença que um “ateu raiz” prefere não crer em nenhum tipo divindade já fabricada pelos homens, enquanto que um “ateu cristão” desacredita em todos os outros deuses, menos um, que é o “dele”, qual ele chama de único e verdadeiro.

Seria muita sorte para alguém que em mais de 200 mil deuses já inventados, a pessoa pudesse selecionar um e dizer ter escolhido o certo.

O racismo santo cria essa ilusão.

Mas não é só isso! Esse tipo de preconceito faz com que o preconceituoso se ache no direito de invadir terreiros de cultos africanos com o intuito de destruí-los ou quebrar imagens de esculturas e objetos públicos ou particulares, cujos símbolos sejam por eles interpretados como sendo uma afronta ao seu deus ou às suas crenças religiosas.

Sem falar que além de atacar os que não são de sua fé, esse tipo de gente tem esse mesmo asco quando atacam os de sua própria religião, alegando que estes outros irmãos estão fora da vontade de deus e por isso precisam ser punidos.

Cada soberbo desse tipo olha para outro crente e diz (ainda que não seja com palavras): sou melhor que você por que uso o véu; por que guardo o sábado; por que não como certos alimentos; por que dou o dízimo; por que faço orações no monte; por que sou batizado com o espirito santo; por que tenho um cargo na igreja; por que sou casado no civil e por isso já me batizei nas águas; por que na minha família não tem gays; etc, etc, etc. Cada grupo ou pessoa toma para si um característica, a torna como objeto da estima divina e passa a desprezar a fé alheia, incluindo os de sua própria igreja.

Já vi inúmeras vezes gente à beira do manicômio por dar ouvidos a esses bobagentos.

Eles nada de proveitoso produzem para a sociedade, mas travam guerras hediondas entre eles mesmos valendo-se dessas premissas. E o pior: arrastam para esse conflito qualquer incauto que não esteja vigilantes quanto às suas reais intenções que é a de sentir-se superior aos outros.

Eles são como os “Arianos de Cristo”, por assim dizer!

No atual governo brasileiro esse tipo de gente tem ganhado destaque e qualquer um que saiba citar pelo menos um versículo bíblico publicamente, já se acha um JEDI, pronto para liderar uma batalha intergaláctica contra o império das trevas.

“E CONHECEREIS A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ”!

Já diz repetidamente nosso “amado presidente” com o intuito de convencer os de pouco cérebro de que seu governo é realmente regido por deus.

O “povo de deus” pira com uma citação dessa. Só falta botar um ovo de tanta alegria! É o suficiente para convencê-los de que o arcanjo Miguel e todo exército celestial está à frente do capitão, liderando-os nessa ilustre missão de tirar o país das forças das trevas.

É preciso ter mente apurada para não cair nesse tipo de falácia.

Devemos sempre usar o bom senso quando um crente fanático quiser impor a você as proibições da fé qual ele prega e defende.

Se isso não for o bastante, um “VTNC” pode ter um melhor efeito!

Outra coisa que os fazem “pirar na batatinha” e desejar que alguma entidade do culto africano os abençoe e os guarde sempre. Rsrsr. Eles morrem de medo dessas divindades e duvido que te perturbem outras vezes caso assim você os abençoe.

Brincadeiras à parte, é salutar que as más pessoas com suas más ideias e suas percepções distorcidas do mundo não interfiram na vossa paz, na de vossa família e nos seus negócios. Nunca bata palmas pra maluco dançar. Você poderá ser o próximo bobo da corte.

Revejam Sempre Seus Conceitos!

Saúde e Sanidade à Todos!

Texto escrito em 9/10/21.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 09/10/2021
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