Alegoria da vida
Alegoria da vida
27 de setembro de 2021
As dores contraiam o baixo ventre e as forças morriam ante o cansaço ofegante pelo fôlego curto. As pernas perdiam o poder e os quadris se abriam abruptamente para dar passagem a mais uma vida humana.
Na casa de _Suzane_ o quarto estava preparado e cheio de cores alegres. Todo o enxoval do bebê estava pronto e seu berço armado o aguardava para embalar aquela pequena vida que chegaria em pouco tempo. Embora o sonho de ser mãe fosse maior que as dores da pariçao, _Suzane_ sabia exatamente medir a intensidade do sofrimento que logo foi substituído pelo prazer de sentir seu filho recém embalado nos braços.
Enquanto isso a família de Herculano vive momentos tensos e angustiantes. Herculano entubado numa UTI, já inconsciente e a família sabe que se não for um milagre o pior pode acontecer, até que o hospital avisa à família que a covid venceu Herculano.
As lágrimas naquela casa já eram derramadas há dias por seus pais, esposa, filhos e netos, além de seus irmãos. Eram 8 ao todo e Herculano o segundo de nascimento sendo o primeiro a tombar.
Narciso vem do aniversário de casamento de seu cunhado junto com a esposa e dois filhos. Já era tarde da noite e o cansaço do dia associado ao álcool consumido no aniversário fizeram Narciso distrair e não perceber que avançava na contra mão vindo a colidir com um caminhão carregado de madeira.
Narciso acorda no hospital sem uma das pernas e ficou sabendo que a esposa e os filhos não resistiram.
Jéssica vinha de uma reunião da igreja e foi assaltada num ambiente esquisito de seu bairro. Apesar da tranquilidade do mesmo o perigo existe em todo lugar e aquela jovem foi violentada e depois assassinada sem ter sido levado nada dela além da sua preciosa vida.
Rony saira de moto depois do almoço para comprar uma sobremesa que desava naquele instante. O calçamento esburacado da avenida desestabilizou sua moto que foi parar na frente de um caminhão que esmagou sua cabeça.
A festa de casamento foi a mais linda possível e todos os convidados comemoravam o evento até que chegou uma mulher de meia idade com duas crianças ainda pequenas e se identificou com esposa do noivo cujos filhos dizia ser dele. Raquel entrou em pânico e ficou atordoada ante a triste revelação e a destruição de um sonho tão desejado.
Ermínia tinha 15 anos e estes dois últimos foram difíceis para ela. Teve de deixar de conviver com as pessoas que amava, amigos e familiares e se recrutou em casa como a maioria da humanidade nestes dois últimos anos.
Erminia foi encontrada morta no seu quarto. Ela cortou os pulsos e não resistiu.
O pânico tomou conta de sua família porque ninguém percebeu nenhum sentimento ou atitude nela que levassem a pensar nisso. Mas aconteceu.
Dona Jacinta de 95 anos faleceu de morte natural neste dia e apesar do ar tristonho ninguém chorava por ela. Havia cumprido seus dias na terra e que Deus conforte as famílias e que todos descansem em paz.
Se observarmos que a vida é tal e qual, qual é a nossa esperança? Em quem estamos depositando nossa fé e confiança?
Prof Carlos Jaime