sonho
Parte#
Acordo como se tivesse hora marcada. Precisão cirúrgica. Não tenho despertador, nem relógio. Minha mente acorda. Não importam o sonho. Ela gosta de horários inteiros. 07”00’. 08”00’. 09”00’. Anoto os sonhos em bloco. Milhares de fragmentos antes do precário momento de esquecê-los. Detalhes. Contexto. Absurdos. Tudo ilógico atrai meus demônios. Escrevo ainda dormindo-acordando. Distante. Alheio a julgamentos. Anoto os sonhos sem tecer julgamentos. Aceito a invenção. Tenho convicção. Sonho-ficção. Estarrecido bocejo. Esfrego os olhos. Sinto um gosto amargo na boca. Estou às voltas em torno de mim. Como estivesse no cais vendo os barcos passarem. Tudo é lindo de longe. Ando descritivo. Preso em fatos. Arrastando uma prosa vagarosa. Sonho mais do que devia. Não importa. Sonho não tem preço. As dobras dos livros. As folhas marcadas. São todas prosas silenciosas de sonhos dormidos. Acendo a folha. O sonho-instante toma instantaneidade e só assim volto a dormir. Incontrolável. Incontável. Durmo na quarta dimensão.