O CENTÉSIMO MACACO E A TEORIA DA RESSONÂNCIA MÓRFICA
Nesse texto falarei um pouco sobre uma teoria defendida por um biólogo, bioquímico, parapsicólogo e escritor inglês chamado Rupert Sheldrake, denominada de “Ressonância Mórfica”.
Mas antes de entrar na teoria desenvolvida por Sheldrake, vou falar um pouco sobre uma história conhecida pelo nome de O Centésimo Macaco.
Ela é contada por Lyall Watsom no livro “Lifetide: The Biology of the Unconscious” e por Ken Keyes Jr. no livro “The Hundredth Monkey” (editado em português com o título de “O Centésimo Macaco” pela Editora Pensamento), e fala a respeito de uma experiência realizada em uma ilha no Japão, onde havia uma colônia totalmente selvagem de uma espécie de macacos.
Durante esse trabalho os pesquisadores forneciam aos macacos batatas-doces atiradas na areia e isso atraia os animais para a praia onde, sem interferência da vegetação, podiam ser observados com clareza. Os macacos gostavam das batatas-doces, mas não da areia que grudavam nelas. Depois de algum tempo, uma jovem macaca, descobriu que podia resolver o problema lavando as batatas na agua do mar. Ela ensinou o truque à sua mãe. Suas colegas também aprenderam este procedimento e também ensinaram às suas mães. Em pouco tempo todos os macacos jovens e também os adultos, que imitavam os filhos, lavavam suas batatas. Estes eventos teriam sido registrados pelos cientistas entre 1952 e 1958.
No final do ano de 1958 os macacos da ilha que lavavam as batatas antes de comer atingiram uma determinada massa crítica, que o dr. Watson arbitrariamente calculou em cem. A partir daí observou-se que, praticamente, todos os macacos da ilha passaram a lavar suas batatas, sem interferência nenhuma, antes de comê-las.
Porém o mais incrível dessa experiência os pesquisadores descobririam logo em seguida:
Se aquilo tivesse acontecido apenas naquela ilha, provavelmente os cientistas teriam imaginado que haveria algum tipo de comunicação entre os animais locais e procurariam compreende-la. No entanto, segundo Watson, os macacos das ilhas vizinhas também começaram a lavar as batatas. Não havia um meio possível de que aqueles macacos tivessem se comunicado entre si por nenhuma maneira que conhecemos, pois, as ilhas eram totalmente isoladas uma da outra.
A conclusão que eles chegaram é, que deveria haver algum tipo de estrutura ou um sistema desconhecido de informações que se estendia por todas as ilhas, e pelo qual os macacos teriam a capacidade de se comunicar mesmo a grandes distâncias. Algo como uma energia gerada depois de ultrapassada determinada massa crítica de macacos e que teria a capacidade de atravessar o mar, a exemplo das ondas eletromagnéticas, espalhando o conhecimento.
Muito se refletiu e se falou sobre o fenômeno do centésimo macaco e alguns anos mais tarde uma equipe de cientistas da Austrália e Grã-Bretanha resolveram aplicar o mesmo conceito em seres humanos para testar se possuiriam uma rede de comunicação semelhante à dos macacos, fazendo o seguinte experimento que é descrito por Drunvalo Melchizedek em sua obra “O Antigo Segredo da Flor da Vida” editado no Brasil pela Editora Pensamento.
Eles fizeram uma montagem fotográfica contendo centenas de rostos humanos pequenos e grandes com faces até dentro dos olhos dos maiores. Tudo era feito de rostos, mas quando se olhava pela primeira vez, só se localizavam cerca de seis ou sete faces. Era preciso treinamento para ver as outras faces, e normalmente alguém que já conhecia a montagem precisaria indicar onde elas estavam para que fossem percebidas.
Na Austrália escolheram um determinado número de pessoas de um espectro da população e mostraram a fotografia a cada uma delas dando-lhes um determinado tempo para admirá-la e depois perguntavam: Quantos rostos você vê nesta fotografia? Durante esse determinado tempo que davam aos indivíduos, a maioria respondia seis, sete, oito, nove e no máximo dez rostos. Pouquíssimas pessoas viam mais.
Após submeterem uma centena de pessoas à amostra e registrar exatamente o que cada uma observou, os pesquisadores levaram a fotografia para a Inglaterra, e do outro lado do planeta a mostraram em uma emissora de tv a cabo da BBC, que transmitia exclusivamente para toda a Inglaterra, mostrando detalhada e cuidadosamente onde estava cada um dos rostos, todos eles. Logo em seguida, alguns minutos depois da foto ter sido mostrada na TV na Inglaterra, pesquisadores repetiram o experimento original na Austrália com novas pessoas que nunca tinham participado da pesquisa e não tinham visto a apresentação da foto na Inglaterra. Por incrível que pareça, as pessoas agora conseguiam ver sem dificuldade a maioria dos rostos.
Daquele momento em diante se soube com certeza que havia algo sobre nós que não era conhecido até então. Especula-se que os aborígenes da Austrália já há muito tempo sabiam sobre esse nosso aspecto “desconhecido” de que há um campo de energia conectando as pessoas.
Não raramente na nossa sociedade, observamos que alguém de um lado do planeta inventa algo muito complexo ao mesmo tempo em que alguém do outro lado inventa a mesma coisa com os mesmos princípios e ideias. Isso tem acontecido muitas e muitas vezes ao longo do tempo.
Depois destes experimentos, começamos a entender que alguma coisa liga os seres entre si de alguma maneira muito bem definida.
De certo modo já sabemos que, para onde dirigimos nosso pensamento, segue a nossa energia. A milenar Kabbalah afirma que qualquer coisa que aconteça onde quer que seja, reverbera por todo o universo. Não parece estranho que muitas vezes aconteçam eventos ou tragédias de grandes proporções chocando e comovendo multidões, e de imediato fatos semelhantes também aconteçam em diversos outros lugares com uma frequência fora do comum? Seria a força do coletivo ultrapassando a massa crítica (o centésimo macaco) ampliando assim esses acontecimentos para outros lugares?
Seguindo a linha de raciocínio até agora descrito, qualquer um de nós pode ser “o centésimo macaco” tanto para o bem, quanto para o mal. A força de nossas intenções e pensamento pode ser a gota d’agua que falte algum momento no oceano do bem ou do mal sem que tenhamos consciência disso. Em sendo assim, devemos estar sempre conscientes de como, e para onde direcionamos a nossa vontade e pensamentos.
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Voltemos agora ao Dr. Rupert Sheldrake e sua teoria que ele chamou de campo mórfico. Nela ele afirma que uma mudança no comportamento de uma espécie acontece quando uma massa crítica desse comportamento diferente é alcançada. Assim que esse exato e determinado número acontece os hábitos de todo o restante da espécie é alterado.
Segundo ele, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.
Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema funcione realmente como um sistema, isto é, numa totalidade articulada e não apenas um mero conjunto de partes sem interagirem entre si.
Ele diz que essa atuação é semelhante à dos campos magnéticos da física. Se colocarmos uma folha de papel sobre um ímã e espalharmos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados.
No entanto, a analogia termina aqui, porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacionais e eletromagnéticos. O que se transmite através deles é pura informação. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.
Sheldrake explica que por meio desse processo as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva muito parecido com a noção junguiana de inconsciente coletivo com uma diferença. A noção de “inconsciente coletivo” de Carl Gustav Jung é aplicado exclusivamente à experiência humana enquanto que a ressonância mórfica seria aplicada a todos os sistemas do mundo material. Pode parecer telepatia, mas não é, e segundo ele, pode haver alguns casos creditados à telepatia que na verdade seja efeito da ressonância mórfica. A telepatia é uma atividade mental superior focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos, enquanto a ressonância mórfica é um processo básico, difuso e não intencional que articula coletividades de qualquer tipo.
Como exemplo ele diz que quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Então por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva, e aí então a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.
Com afirmações como essa, não é de se espantar que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. A teoria, desde o início, tem sido recebida com entusiasmo por filósofos de mente aberta, porém quando publicou seu primeiro livro, “A New Science of Life” (Uma nova ciência da vida), duas das principais revistas científicas da Inglaterra a receberam de maneira totalmente opostas. A revista New Science a apontou como uma importante pesquisa científica, enquanto a Nature como sendo uma candidata à fogueira.
Existem algumas experiências tentando provar a teoria de Sheldrake e que podem ser encontradas na WEB. O fato é que a hipótese gerou um enorme desconforto na comunidade científica quando trombou de frente com a visão do mundo dominante. A corrente majoritária biológica, por exemplo, reduzia a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. No entanto a realidade da natureza é por demais exuberante para caber na “pequena e limitada caixa” do pensamento reducionista, diz esse pesquisador. Basta observar o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário.
Outro fenômeno que desafia a biologia reducionista é a regeneração de organismos simples que ocorre em espécies como a dos platelmintos. Se cortarmos esse animal em diversos pedaços, cada parte se transforma em um organismo completo com todas as funções do anterior que foi cortado. O paradigma científico mecanicista herdado de René Descartes desaba desastrosamente diante de um caso como esse. Descarte concebia os animais como como autômatos, uma máquina. Porém uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar adequadamente como antes, se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, no entanto, parece estar associado a uma rede invisível que lhe torna possível regenerar todas suas funções e formas originais mesmo quando partes importantes dele são retiradas.
Para Sheldrake o DNA é como tijolos de uma construção, no entanto as informações sobre a maneira de como esses tijolos deverão ser dispostos para efetuar, dar a forma e características da construção não estão no DNA e sim nas redes mofogenéticas. Desde o início de sua formação, um bebê elefante no útero da mãe já está em contato com as redes morfogenéticas dos elefantes que direciona seu desenvolvimento e preparação para a vida e assim continuará sendo enquanto viver, ao mesmo tempo que o próprio bebê elefante também alimentará essa rede por toda a sua existência passando suas experiências para os outros de sua espécie através da ressonância mórfica.
Fundamentado na sua teoria ele afirma que tudo que sabemos, nossas memórias e hábitos não são e nem ficam gravadas nos nossos cérebros e sim na nossa rede morfogenética. O cérebro seria apenas um sintonizador capaz de se conectar com o campo mórfico assim como faz os circuitos de rádio para sintonizar seus canais ou estações.
Fundamentado nisso ele questiona inclusive alguns casos atribuídos a reencarnações. Por exemplo, uma criança que, em um piano executa com perfeição uma obra de Mozart, não é necessariamente a reencarnação de algum famoso pianista. Para ele essa criança pode simplesmente estar acessando através da ressonância mórfica as informações que esse pianista que já se foi deixou gravadas na rede. Outro fenômeno que pode ser abordado pela teoria seria casos de telepatia onde uma pessoa poderia estar enviando informações para a rede morfogenética e outra sintonizada a essa rede, estar recebendo e interagindo com essas informações. Estaria aí sendo efetuada uma conversação através da ressonância mórfica o que explicaria de uma maneira muito simples o fenômeno da telepatia.
Essa fantástica teoria poderia explicar até como um cão pode perceber que seu dono está chegando, vários minutos antes da sua chegada quando ele ainda está a distancias impossíveis de sua presença ser percebida até pelo faro ou audição que são superiores nesses animais. Mesmo que a ressonância mórfica tenha redes exclusivas para cada espécie, o cão, que convive muito próximo aos humanos, chegando comumente a ser tratado como membros da família, no processo evolutivo pode estar no limite superior da cadeia animal, prestes a adquirir consciência. Nesse caso estariam começando a ter acessos à rede morfogenética de seus donos. Isso explicaria a sua capacidade de sentir a presença deles a grandes distâncias e saber exatamente quando eles estão a caminho de casa.
Não sabemos se a teoria da ressonância mórfica de Rupert Sheldrake ou algo parecido será um dia totalmente comprovada e aceita pela comunidade científica. O fato é que, a mecânica quântica tem comprovado fenômenos e princípios que a ciência convencional jamais admitiu ou sequer imaginou existir.
A comunidade científica precisa manter rigor em suas constatações, no entanto precisa também manter a mente aberta para novos conceitos, mesmo que a princípio pareçam improváveis. Nada pode ser descartado sem a contestação de todas as provas possíveis.
Voltando à experiência do “Centésimo Macaco”, vários relatos a apontam como uma história fictícia. O próprio Lyall Watson admitiu, mais tarde, tratar-se de uma metáfora criada por ele. Nesse caso ela estaria exemplificando e não provando a teoria da ressonância mórfica.
Porém se a considerarmos como um mito contemporâneo, uma coisa não pode ser negada: ela realmente carrega no seu bojo uma poderosa metáfora dizendo que, para se romper paradigmas ou criar novas culturas, é necessário que nossas intenções e pensamentos estejam focados nesse objetivo. No entanto, devemos estar conscientes que isso poderá funcionar tanto para o bem quanto para o mal. Se focarmos os nossos pensamentos no bem e divulgarmos isso, outros se juntarão a essa corrente até que atinja a massa crítica do “Centésimo Macaco” do lado do bem, vencendo os que estão do lado do mal antes que eles consigam o seu “Centésimo Macaco”.
Mesmo que essa história não comprove, também não tem o poder de descartar a teoria de Rupert Sheldrake. Alguns, por ceticismo ou simplesmente na tentativa de fazer prevalecer seus próprios pontos de vista tentam a qualquer custo desacredita-la, inclusive com alegações de que o próprio Watson admitiu que a história do Centésimo Macaco é uma metáfora. Esquecem-se que mito nunca foi sinônimo de mentira e sim, geralmente, arquétipo de verdade. Não é à toa que o renomado estudioso e que mais escreveu sobre mitos, o escritor Josef Campbell disse certa vez que achava a ressonância mórfica muito parecida com o conceito hindu de Maya – o campo do espaço-tempo que dá origem às formas do mundo.
Serão necessários rigorosos e controlados testes para aprova-la ou descarta-la cientificamente, mas para que isso aconteça os cientistas deverão manter suas mentes abertas e livres de velhos e arraigados dogmas comuns a muitos deles.
Desde os primórdios sempre houve uma grande distância entre ciência e espiritualidade. Em 1781 Immanuel Kant, em sua obra “A Crítica da Razão Pura” fez a seguinte pergunta: Pode haver uma ciência para a metafísica? A resposta pode estar sendo dada pela teoria da ressonância mórfica de Sheldrake, trazendo coisas intangíveis da metafísica, para o universo tangível da ciência, aproximando polaridades e ajudando a manter o pêndulo da nossa consciência mais próximo ao centro, galgando degraus de vibração nesta nossa fantástica jornada evolutiva através do universo em direção ao Todo, ao Uno.
(Francisco de Assis Góis)