Boneca

Certa vez, ouvi dizer, bem baixinho, de canto de ouvido, como se fosse pecado ou coisa parecida, que numa família havia um defeito. Tinha nome e o mesmo sobrenome. Nasceu asfixiada. Vivia num canto guardada. Nasceu menina. Era um pequeno monstro familiar. Passava dias e noites naquele quarto. Nenhum irmão ousava entrar. Nunca brincou com ninguém. Era alimentada pela mãe. O pai nunca dizia seu nome. Para ele era melhor ter nascido morta. Para a mãe era uma lembrança de culpa por ter feito um defeito. Para o bem de todos morreu menina. Aos 15 anos, no dia de ser debutante.