A CRUZADA DOS INOCENTES VS A CRUZADA DOS ILUDIDOS

*Por Antônio F. Bispo

A cruzada das criancinhas (dos pequeninos ou dos inocentes) é um episódio um tanto obscuro na história do cristianismo. Uma parte dos historiadores acreditam que esse evento não passa de um mito criado na idade média, enquanto que outra parte concorda que ele realmente ocorreu e que a igreja católica fez de tudo para “melar os fatos”, mesclando verdades com mentiras à fim de apagar esse desastre que ela mesma incentivou ou consentiu e que ceifou a vida de milhares de pequeninos em nome da fé.

O caso se deu no ano de 1212, cerca de 800 anos atrás, no norte da França.

Desde o ano de 1096 que algumas cruzadas católicas já haviam sido realizadas na tentativa de reconquistar Jerusalém das mãos dos “pecadores”. Todas elas haviam sido um desastre ou perderam-na da volta após cada reconquista.

Milhares de vidas e suprimentos haviam sido perdidos nessa empreitada e o bem mais precioso da fé cristã continuava lá sendo ocupada por “aquela gente sem deus”.

Cem anos de “guerra santa”, quatro cruzadas e o “povo de deus” continuava ali, apanhando e sendo duramente massacrado por “pagãos”.

De repente um jovem pastor de ovelhas de somente 12 anos se apresenta como a solução para o problema. Dizia ter tido uma revelação divina.

O nome deste menino era Estevão.

Conta-se que nessa visão, deus lhe havia dito que para retomar a cidade era preciso gente pura e de coração limpo. Ninguém mais puro e limpo que uma criancinha, segundo essa interpretação.

Desse modo ele convenceu as autoridades civis e religiosas a montarem uma caravana de “soldados pequeninos” para marcharem em direção à Jerusalém e acabar com os mulçumanos de uma vez por todas. Em outras versões dessa história dizem que foi o próprio papa quem teve a visão ou organizou a cruzada.

De qualquer jeito, segundo tais relatos, a caravana foi montada e a jornada iniciada passando por vilarejos, cidades e países. Em cada canto que passavam, mais crianças se juntavam à causa, todos acreditando piamente que deus, o deus cristão estava por trás de tudo aquilo, comandando tudo remotamente “como sempre faz”.

“DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA” também já se dizia naquela época!

Disseram para aquelas crianças que eles venceriam a guerra sem dar nenhum só golpe. Só precisavam acampar ao redor de Jerusalém e esperar pois a mão de deus faria o resto.

Eram cerca 4 mil quilômetros de distância desde o local da saída até o destino e o percurso era todo à pé.

No caminho havia morros, vales, pântanos, florestas, desertos e todos os tipos de perigos que se possa imaginar, incluindo feras e mercadores de escravos, além das dezenas de moléstias que afetavam a saúde de muitos na ocasião.

Cerca de 40 mil crianças foram iludidas a aceitaram esse “chamado de deus”.

Parte deles morreram no caminho de alguma doença ou por outro infortúnio.

Outras foram sequestradas e vendidas como escravas e as que conseguiram chegar ao litoral estavam diante do maior de todos os desafios: atravessas o mar mediterrâneo e chegar no outro continente onde estaria o alvo.

Fora-lhes dito que ao chegar diante do mar, deus iria abri-lo assim como fizera como Moisés diante do mar vermelho. As criancinhas acreditaram e a população local fez fila para assistir tal evento.

Estevão, o garotinho clamou por horas à fio e nada aconteceu. O mar continuava ali do mesmo jeitinho.

Dias se passaram e o mesmo ato de fé ocorrera repetidamente: ele pedia que em nome de deus o mar se abrisse e nada acontecia.

Cansados, humilhados e frustrados eles pensaram em voltar para os seus lares e dar a missão por encerrada.

Foi quando dois oportunistas de nome Hugo o Ferro e Guilherme o Porco se dispuseram a “ajudar”.

Eles possuíam barcos e prometeram levar gratuitamente ao outro lado do mar todas as crianças. Diziam também estar comovidos e crédulos de que tudo aquilo ali fazia parte dos grandes planos do criador e ofereceram algumas embarcações para conduzir os pequeninos.

Eles eram mercadores de escravos.

Até quem sabia disso não suspeitou de suas reais intenções pois “deus estava no controle de tudo” (como sempre se diz por aí).

Ao entrarem naqueles barcos, nunca mais aquelas crianças foram vistas. Ninguém sabia o paradeiro delas, nem o que realmente lhe sucedera depois daquele puro gesto de “bondade”.

Somente anos depois, sobreviventes daquele episódio puderam narrar que a maioria deles foram sequestradas e escravizadas e que outra parte morrera durante um naufrágio.

Não foi preciso comprar um só menino para depois revende-los pois “deus” enviou tantos de forma milagrosa e gratuita (diziam os mercadores). Eles tiveram um lucro estupendo com essas operações no mercado negro.

Os meninos foram enviados para trabalhos braçais enquanto que as meninas para servirem como prostitutas em bordeis (cuja igreja católica era dona de maior parte deles).

Assim, “segundo a vontade de deus”, encerrou-se com fracasso total mais uma cruzada para reconquistar a cidade de Davi.

De cerca de 40 mil crianças iludidas que saíram ou se juntaram ao grupo, menos de 2 mil retornaram para os seus lares, todas as demais tiveram suas vidas ceifadas ou escravizadas justamente por questões de fé, obediência a deus e amor à pátria!

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O CIRCO PEGOU FOGO O PALHAÇO DEU SINAL...

Algo semelhante à cruzada dos pequenino ocorreu entre os dias 7 e 9 de Setembro de 2021 nesse imenso país chamado Brasil num episódio que desvirtuou profundamente o dia em que comemorávamos o dia da pátria.

Alguns passaram a chamar esse feito de “a cruzada dos idiotas”, mas eu prefiro crer que fora uma cruzada dos iludidos mesmo.

Acredito que ali, a grande maioria eram pessoas de boa fé e boas intenções e assim como as crianças da história acima, foram enganadas por lideranças políticas e religiosas que manipulam as massas em benefício próprio.

Essa cruzada brasileira iniciou-se em 2017 com o lema “DEUS, PATRIA FAMÍLIA” e “BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS” e tem sido liderada desde então por um tal de messias, que fez inflamar em vários corações um sentimento patriota, ainda que invertido.

Com “arminha na mão”, palavreado chulo e muita bravata, ele convenceu os principais mercadores da fé desse país a juntar-se a ele pois sabiam que os mesmos “fariam tudo de graça, sem querer nada em troca”.

Fora prometido aos cruzados que o fim dessa “batalha” seria nesta semana que passou, e que triunfante, os cruzados tomariam de volta Brasília das mãos do “energúmenos” e instauraria para sempre um misto de teocracia, ditadura e dinastia.

Ao contrário disso, um dia depois de sitiar a “cidade sagrada”, os bravos soldados foram abandonados, humilhados e entregues à própria sorte diante de seus algozes.

Algumas dessas pessoas terão sua imagem e voz estampada por anos e quem sabe décadas, usadas como símbolo de chacota, de burrice e de fracasso. O messias que antes rugia como leão, fora pego no dia seguinte miando como um gatinho e lambendo a mão ao que antes lhe mostrou os dentes e as garras por mais de 30 meses seguidos.

Assim como nas antigas guerras santas, o “sentimento cristão” (sabe-se lá de fato o que isso significa) vinha sendo inflamado todos os dias desde o quinto mês de governo desse redentor.

Do mesmo modo que o garoto Estevão dizia ser guiado por deus para liderar os pequeninos, esse messias também tinha a mesma convicção de que fora escolhido à marchar até Brasília e “enquadrar todos os bandidos” e trazer para essa pátria um reino de justiça, moralidade equidade a todos os “cidadãos de bem”.

Por meio de “profecias e profetadas” de todos os tipos, o clero evangélico também confirmava tal unção na vida deste homem. Do cercadinho do planalto às grandes aglomerações religiosas realizadas por pastores endinheirados, os iludidos ovacionavam em nome de deus essa liderança.

As crianças de Estevam, foram convencidas de que só pelo fato de serem crianças eram puras o bastante para que deus fizesse seus inimigos se renderem apenas sitiando os muros da cidade.

As “crianças do Jair” foram convencidas de que apenas apertando 17 nas urnas, fazendo sinal de arminha, vestindo verde e amarelo e citando versículos bíblico aleatórios seriam capazes de tirar o “Xandão” e os outros “sarracenos” do congresso.

Elas foram iludidas de que o mal do Brasil inteiro estava ali na suprema corte e não na somatória das suas próprias ações individuais, cotidianamente repetida e emburrecidamente encobertas.

Diziam que devido aqueles 11 ministros, o presidente era impedido de governar e se o povo os tirasse dali e entregasse todo o poder do país ao seu supremo líder, o país inteiro seria um paraíso, com cordeirinhos correndo na grama, brincando com leões, semelhante as pinturas dos panfletos dos TJs.

“Todo poder ao nosso messias”! Eles diziam indiretamente.

Como os mulçumanos maculavam a cidade santa, os 11 de capa preta maculavam nossa capital federal (eles pensavam).

“Sitiai Jerusalém”, diziam os profetas da idade média!

“Sitiai Brasília”, disseram os nossos profetas!

Além de ser cômico, foi muito trágico!

Nunca mais o 7 de Setembro será visto sob a mesma ótica.

Por sorte a grande maioria sairá desta cruzada com vida, apesar de alguns já presos ou destinados certamente à prisão.

Além dos “barqueiros que amam a obra de deus”, havia também nessa nossa cruzada, alguns empresários financiando essa empreitada assim como naquela época. Boa parte desses eram massa de manobra e outra parte com poder de manobrar.

Os que acharam ter conquistado a cidade Santa durante a noite, pela manhã tiveram de enfrentar a dura realidade de que eles é quem foram conquistados (ou traídos).

Ainda tivemos entre os tais, alguns que agiram com violência contra os próprios colegas de profissão (mais lúcidos) que se recusaram a bloquear as estradas.

Do topo ao fundo do poço em questão de horas. Quanta decepção!

Como sempre, todo profeta místico é confuso e aleatório, para que quando acontecer (caso aconteça) o vidente leve crédito pelo que dissera mesmo sem nada ter dito, apenas insinuado. Esse messias tem o mesmo dom: depois de dizer algo ele “desdiz” ou então afirma ter dito uma coisa e seus seguidores (ou a impressa lixo-como ele diz) interpreta outra.

O golpe final viera na tarde de Quinta-Feira dia 9 quando ele declaradamente pedia desculpas àquele que há mais de dois anos acusava de abuso de autoridade e o ameaçava “pelas entre linhas” de prendê-lo à qualquer momento.

“Jaz aí o vosso messias diante do próprio carrasco implorando misericórdia depois de tê-lo afrontado”! A impressa retratava.

Esse momento ficará pra história!

Os que ainda continuam a florear tudo o que o messias diz, como sempre mudarão a versão do que fora dito anteriormente dizendo que isso é um gesto de nobreza pois até cristo se deu à crucificação diante do seu carrasco.

Os mais sensatos registrarão os fatos com maior lucidez e riqueza de detalhes. Os que fazem memes e humoristas terão conteúdos prontos por meses à fio sempre precisar cavar muito.

O melhor de tudo nessa história é que apesar do papelão à nível internacional, aquilo que os bravateiros juravam acontecer não aconteceu (para o bem de todos).

Bem verdade é que precisamos de paz, de harmonia e coesão entre os três poderes. Todos pareciam saber disso menos o nosso messias que só agora se deu conta desse detalhe.

Ainda bem! Melhor um leão que virou um gatinho que todo um país sofrer por esse delírio fascista. O povo do cercadinho não merece tanto. Não merece que ele reine como imperador sobre todos apenas para agradar a um punhado de imbecis!

Quem dera esse mesmo povo caísse na real e se enxergasse como parte principal desse fermento que leveda toda massa.

Mas eles não se enxergam! Acham que também estão dentro dos planos santos para apoiar “moralmente” o seu messias.

Os realmente fanáticos por esse homem não se importam quantas vezes o mesmo venha mudar o discurso, suas prioridades e seus ataques a quem quer que seja (inclusive aos próprios aliados): eles continuarão mesmo assim venerando o lado patético dessa figura.

Mais triste ainda é saber que o presidente eleito acredita que a bajulação 200 pessoas de um cercadinho diário corresponde a vontade total de 200 milhões de cidadãos desse país continental.

Que confusão, que mediocridade!

Sabe-se quem em todo agrupamento humano, onde há uma figura que se destaca o repúdio e a bajulação andarão lado a lado, contra ou à favor do objeto de apreço e isso é até certo ponto normal...mas acreditar piamente que um punhado de gente que cabe em 4 ónibus fala por toda uma nação, aí já é demais...

“Acudam, acudam, acudam a bandeira nacional...” Os mais sensatos estavam quase a gritar!

Só não se sabe ainda qual foi o palhaço que deu o sinal: se foi o que usa a faixa presidencial ou os que foram iludidos a saírem nessa cruzada insana em que um auto golpe era anunciado.

Sabe-se apenas que o fogo do circo foi apagou, ainda bem!

Tomara que não cheguemos na parte da música onde se diz: “um pacote de Bombril, só paga mil” ou “quem se mexeu, saiu”!

Aos bravateiros, aos fanáticos e aos que passam pano em tudo: é bom lembrar sempre que os barqueiros HUGO o ferro e GUILHERME o porco, estão doidinhos para atravessar de graça criancinhas inocentes ao outro lado do mar! Você pode ser uma delas se não se cuidar!

Saúde e Sanidade à Todos!

Revejam Sempre seus Conceitos!

Texto escrito em 11/9/21

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 11/09/2021
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