Livro infanto juvenil- Alê, Marcelo, Ju & Eu, de Jane Tutikian

Ensaio sobre o livro Alê, Marcelo, Ju & Eu, de Jane Tutikian

Este trabalho se propõe fazer uma analise do livro Alê, Marcelo, Ju & Eu de Jane Tutikian, essas considerações serão compostas da seguinte forma: síntese do livro na seqüência dos capítulos, personagens principais, estrutura narrativa e um comentário crítico embasado nas teorias estudadas nas aulas de Literatura Infantil Brasileira. A apreciação da obra seguirá de perto a maneira em que foram discutidas e analisadas as obras lidas durante o semestre.

1 Síntese

“Num mundo de agendas, roller, Shopping, muito gel nos cabelos, roupas pretas, vários brincos nas orelhas, rock, escola e, sobretudo, muitas perguntas” estão inseridas Bia, Alê e Ju três adolescentes de treze anos que moram no mesmo condomínio e estudam na mesma escola na sexta série. São amigas, como somente as adolescentes sabem ser, respondem a agenda uma da outra, o antigo questionário com os ares de modernidade do século XXI, dividem as crises e os sonhos. Bia e Alê se conhecem desde crianças, se gostam muito, mas brigam algumas vezes, pois Alê apresenta uma personalidade muito forte.

As duas adolescentes descobrem a personagem Ju mais tarde, quando ela se muda para o prédio e vai estudar no mesmo colégio de Bia e Alê. A personagem Bia, no inicio possuía muito ciúme de Ju, porque acreditava que Alê preferia a Ju a ela, no entanto com a convivência, Bia depois de algumas reflexões e analises, aceita Ju como amiga e se tornam inseparáveis, até que surge Marcelo na vida das meninas e então....

No segundo capìtulo com o sugestivo título: Gente nova sonho novo, entra o personagem Marcelo e cria certa desordem na vida das adolescentes, uma vez que as três amigas se apaixonam pelo garoto. Marcelo é aluno novo na escola, logo se torna popular entre os colegas, pois parece um pouco mais velho que os colegas da sala de aula, também sabe contar histórias da sua família e dos lugares pelos quais percorreu, é filho de militar, sempre está sendo transferido das escolas. Então se torna fascinante aos olhos das meninas que viviam entre condomínio, escola e shopping. Assim a personagem Bia o descrevia:Acho que essa é a palavra. Era lindo! Sabia a história da família. Sabia um monte de coisa que eu não sabia! Gostava de um monte de coisas que eu também gostava! Não pensava que pudesse existir um menino assim! E ele estava ali, na minha sala, atrás de mim, ao lado da Ju e da Alê.

Nesse capítulo, ao mesmo tempo, há a professora Aretê que leciona história, e segundo a personagem Bia, é diferente das outras professoras, pois conta os fatos de uma forma mais interessante torna-os diferentes dos livros de História, mostra a narração dos eventos históricos com mais vivacidade, faz com que os alunos sintam-se pertos da história. Além disso, era simpática e ajudava os alunos, promovia festas. Foi na aula da professora Arete que aconteceram as apresentações dos alunos para o personagem Marcelo e também o começo do encantamento das meninas pelo aluno novo.

No inusitado terceiro capitulo: Odeio shopping. Amo shopping, a personagem Bia precisa ir ao shopping com a mãe para fazer compras e essa ida induz a um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que a menina ama shopping, ela odeia ir ao shopping com a mãe. O que leva a personagem a algumas reflexões e imaginações, a principal delas é: a mãe a atormenta para comprar vestidos e sapatos de patricinha ao quais odeia, pois se acha gorda, feia enfim desengonçada. Entretanto, Bia tem uma surpresa encontra Marcelo, mas acontece, somente um oi, a personagem sente-se mal, afinal está com a mãe, uma figura normalmente figura paradoxal para os adolescentes. Assim Bia sente-se:Eu respondi oi, mas me odiei porque não estava arrumada nem nada e porque estava ao lado da minha mãe e porque não parei e não disse mais nada. Não verdade, não podia parar nem dizer. Mais um pouco e eu morria mesmo. E isso nunca tinha acontecido assim.

Ao termino desse capitulo surgem uma série de reflexões e questionamentos da personagem, em que Bia se define como esquisita e gosta de tudo ao avesso e é dada a extremos ou chora até alagar o mundo ou então dá grandes gargalhadas. Sente-se boba, na maioria das vezes, sente-se magoada, pois as amigas a acham egoísta. Termina esse capítulo sem muita certeza de nada.

No capitulo Sou Burra, mesmo! Ao voltar das compras com a mãe, vê as amigas andando de roller em frente ao condomínio em que moram, fala para Alê a Ju que encontrou O Marcelo, elas demonstram indiferença. Bia percebe o distanciamento entre amigas, mas não entende. No capítulo Coisas no ar, a personagem sente alguma coisa mudando na relação com as colegas, contudo não identifica os problemas. Na escola, já não senta ao lado das colegas, as meninas Alê a ju também estão discordando em tudo que falam ou fazem.

A professora Aretê nota as mudanças, então chama às meninas para conversar e tenta entender o que está sucedendo, discorre sobre as paixões na adolescência e importância das amizades, porém as meninas não falam nada, se mantém distantes. Assim a professora propõe uma festa em que a temática era amizade e pede a todos para escrever bilhetes com mensagem carinhosa para os colegas. Quando a personagem Bia chega em casa pede a agenda de Alê para modificar algumas respostas e, além disso, tentará descobrir os motivos pelos quais as amigas parecem tão afastadas. Então se desvenda as razões do alheamento entre amigas, Alê escreve na última página muitas vezes o nome de Marcelo. Assim, ao mesmo tempo deduz que Ju deve, igualmente, gostar de Marcelo e esse seria o motivo do distanciamento entre elas. Bia fica muito triste, decepcionada e escreve na agenda, várias vezes, que nunca mais quer vê-las.

Nos capítulos De coração para Coração e Ser é que é a aventura, são basicamente as preparações para a festa, a ansiedade da espera e o desencanto de Bia com as colegas, ao mesmo tempo a dor de vê-las somente de longe. Do mesmo modo, tem certeza que gosta de Marcelo, mas adora as amigas e sente muita a falta delas. Bia resolve não escrever muitos bilhetes para os amigos, faz um para Marcelo sem assinatura: “Tenho uma amiga, nesta aula, que gosta de ti”

No capítulo Ser é que é a aventura, são remiscências da personagem Bia sobre sua aparência e o que vai vestir na festa. Resolve ir de preto e com gel no cabelo. Fica fazendo considerações de como a mãe não consegue vê-la com uma adolescente e gostaria de conversar mais vezes com ela, porém não consegue falar, conclui os pensamentos com a certeza que os pais são importantes na sua vida. O capitulo termina com a personagem Bia pensando que nunca “ficou” ou beijou um garoto vai a festa, unicamente, para encontrar o Marcelo.

No capítulo Tudo o mundo menos eu! Aconteceu a festa, no entanto para a Bia não “aconteceu” nada, pois todos os colegas estavam iguais a ela, de preto e com gel no cabelo, Marcelo não a olhou e riu do seu bilhete, também mostrou aos colegas. A personagem se sentiu mal, porque recebeu vários bilhetes dos colegas com mensagens dizendo coisas boas a seu respeito. Então, julga-se muito egoísta, pois não fez nada para os colegas. Saiu cedo da festa e chorou na cama, uma vez que refletiu sobre seus erros, afinal tinha perdido até as melhores amigas.

No capítulo Que ressaca! Foram os dias após a festa, sem grandes novidades. O personagem Marcelo estava cada vez mais popular e Bia se tornava mais invisível para ele. Aparecem os novos amigos da personagem que são um grupo de intelectuais com poucas afinidades em comuns com ela, contudo, mesmo sem entendê-los, permanece no grupo. Bia começa a usar aparelho nos dentes, ao qual detesta.

No último capítulo Alê, Marcelo, Ju & eu, o adolescente Marcelo chega triste na aula e comunica a nova transferência do pai, sendo assim necessita mudar de escola, todos ficam abatidos com a notícia. Bia fica imensamente magoada, mas não quer chorar na frente dos outros, vai para o banheiro, ao mesmo tempo vão as duas amigas Alê e Ju, então choram abraçadas e retomam a amizade. A turma combina junto com a professora Aretê de levar Marcelo ao aeroporto. No final, fazem uma despedida alegre, contudo todos estão tristes Entretanto, assim que o avião levanta vôo, só havia mais uma história para ser contada, entretanto essa historia seria contada do jeito de cada adolescente. Quanto as adolescentes Alê, Bia e Ju estavam juntas novamente, afinal havia o roller, as agendas, o rock...E os meninos.Era o primeiro sonho, o que agora ele estava mais claro e mais nítido Não havia do que fugir, não havia o que conquistar. Lá de dentro, o Marcelo abanava para nós, para Alê, Ju e eu. Éramos, enfim, os quatro, amigos, e gritávamos que nos escreveríamos muitas e muitas e muitas cartas, como realmente fizemos.

1.1 Personagens

Os personagens do livro são delineados pela ótica do narrador, pois é texto em primeira pessoa. Assim, todas as apreciações das personagens serão vinculadas às percepções desse narrador, e a partir da visão de mundo inerente a ele. Bia constitui-se na personagem principal, então toda a história é retratada a partir das suas impressões, ponderações. Parece uma personagem estereotipada, já que reflete de uma forma muito simplificadora a figura de adolescentes em crise existencial.

É como se autora pasteurizasse na figura da Bia, todas as falhas dos adolescentes: ela é gorda, baixa, possui cabelo curto, também odeia se arrumar, também mostra um humor ácido e é egoísta, tímida. Essa personagem adolescente está sempre em processo de meditação solitária, contudo o que a faz inverossímil são as reflexões da personagem no decorrer do livro, são muito profundas, e acredita-se, dificilmente, uma adolescente de treze anos teria essas reflexões, por exemplo:Sou mesmo esquisita. Esta é a verdade. Parece que gosto de tudo às avessas. Tudo ao contrário. Quando alguém cai, na minha frente, não me controlo: eu rio. Quando alguém chora sempre acho que é muito pouco. Mas. Em compensação, quando eu choro, quase alago o mundo, fico mais infeliz do que o maior das infelizes.

O restante das personagens aparecem superficialmente descritas. Há algumas informações sobre a adolescente Alê como: independente, bonita, divertida e alguns dados sobre sua família e também que era uma menina atípica para a idade de treze anos, pois adorava a família de Bia, porque havia perdido o pai, a mãe trabalhava muito e irmão mais velho não possuía interesse por ela. Entretanto, não existe uma descrição mais minuciosa sobre essa personagem. A personagem Ju possui o perfil pouco desenvolvido no livro, é, em síntese, delicada, chora bastante, tem cabelos longos devido à religião (testemunha de Jeová), mora com a avó, uma vez que os pais moram no interior. A avó aparece levemente descrita como uma pessoa jovem e amiga da neta. Os outros personagens surgem com uma apreciação superficial nos diferentes capítulos do livro analisado, conforme o interesse do narrador.

1.2 Estrutura Narrativa

O livro é composto de treze capítulos, geralmente curtos, todos interligados, mas com uma certa independência, pois podem ser lidos individualmente sem prejudicar a interpretação. Os títulos dos capítulos são conectados a temática tratada e possuem nomes originais. A narração constitui-se em primeira pessoa feita pela personagem Bia. Há, um mínimo, de diálogos entre as personagens, toda a narrativa parte das considerações do narrador. Não há definição de espaço geográfico e a localização temporal se faz pelas marcas sociais implícitas no texto, por exemplo: roller, shopping, gel nos cabelos, vários brincos nas orelhas, que leva a pressuposição que se trata de um texto do final século XX e início do século XXI.

1.3 Comentário crítico

O livro é classificado como uma novela infanto-juvenil datado de 1999 de uma autora premiada, conhecida e reconhecida nos meios acadêmicos, no entanto, apresenta algumas incoerências que pode desagradar o leitor infanto-juvenil. A primeira delas é o excesso de discurso indireto, não há quase diálogos, isso restringe ação da narrativa. Tudo é retratado pela visão reflexiva da personagem feminina narradora. Sendo assim, o leitor infanto-juvenil inserido num mundo virtual, dinâmico e rápido em que um simples toque o leva a diferentes lugares na Internet, teria dificuldades em lidar com o tom reflexivo desse livro.A segunda ocorrência que levaria o leitor ao enfado constitui-se na linguagem, a narrativa possui um tom farsesco, uma quase imitação da forma dos jovens falarem. As orações são totalmente entrecortadas por pontos finais, há, além disso, o uso excessivo de pontos de interrogação e exclamação, e não existe o uso de nexos de ligação entre as frases. O que torna o texto ruim para qualquer leitor. Acredita-se que os adolescentes dessa faixa etária (12, 13,14 anos), não são tão infantis lingüisticamente, apesar da vivência no universo virtual que induz a redução na maneira de escrever.

Por outro lado, a narrativa apresenta intertextualidade que é uma marca dos jovens e dos tempos virtuais do século XXI. A modernidade do texto está exatamente nessa concepção dinâmica quando dialoga com outros textos literários do universo dos leitores adolescentes e assim, ao mesmo tempo, o localiza num determinado espaço temporal. O narrador cita, As viagens de Gulliver, quando diz: “... com um único olhar, ainda menor do que os pequenos da terra de Gulliver”. Também o Sítio do Picapau Amarelo8 é uma projeção constante da personagem quando cita várias vezes “independência ou morte”, uma fala da boneca Emilia.

Do mesmo modo, as referências musicais que aprecem no texto, “Dormi ouvindo o Lulu cantar aquela música da onda no mar”9, também são um fator de aproximidade com o leitor infanto-juvenil. Sendo assim, termina-se essa apreciação enfatizando que a narrativa constitui-se em um texto leve, divertido, e principalmente adequado ao publico infanto-juvenil, sem voltar-se para nenhum ensinamento pedagógico.O livro possui com fim utilitário unicamente o prazer da leitura

BIBLIOGRAFIA

LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática, 1985.

LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Um Brasil para crianças: pra conhecer melhor a literatura infantil brasileira - histórias, autores e textos. São Paulo: Global, 1986.

TUTIKIAN, Jane. Alê, Marcelo, Ju & Eu. Porto Alegre: Ed. WS, 2000.

URBANO, Zilles. (Org). Gratidão do ser: homenagem ao irmão Elvo Clemente. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. p.75-83

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ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 1981. p.43-81.