Perguntas que eu quero demorar bastante pra saber as respostas
Frequentemente me pego refletindo sobre o processo da morte. E talvez seja bom dizer de antemão que esse não é um texto que almeja levantar reflexões de caráter religioso, ou questões muito sublimes. É um texto bem da matéria mesmo. Antes de sentar e escrever isso, tava lendo um trecho pequeno do Bakunin, e antes uma receita na internet sobre arroz de forno. Não tem nada de sublime aqui.
Dito isso, salto com força nesse abismo de possibilidades que eu particularmente conheço pouco. Aliás, pra ser sincero, acho que pouquíssima gente (ou ninguém) pode dizer com 100% de certeza o que acontece com você quando você morre. Simplesmente porque se você ta lendo isso, é porque ta vivo. Se ta vivo, não faz assim como eu, a menor ideia de como seja o processo da morte.
Pra falar do processo da morte, é preciso antes voltar uma casa e falar da vida. E basta pesquisar pra encontrar por aí uma infinidade de definições pra ela. Definições que abrangem todas as formas do pensamento humano: desde o mais pragmático, até o mais espiritual. Aqui me dou o direito de escolher um delees. Um só. Aquele que diz que vida é sentir. Sentir, não importa como. Os sentidos do corpo humano são, na minha opinião, a mais completa síntese da vida.
Definindo assim o que é a vida, avanço e começo minha jogada admitindo que um dos motivos que mais me motiva a escrever sobre morte, é que se você parar pra pensar, nota que esse é um dos poucos temas em que ta todo mundo bem nivelado. Tipo nivelado mesmo. Um indivíduo, ao escrever sobre a morte, esta basicamente falando sobre um assunto, para leitores que conhecem a mesma coisa que ele a respeito daquele assunto: nada.
E já que é um assunto que ninguém conhece muita coisa, me concebo mais uma liberdade: a de falar sobre os sentidos no processo da morte. Ora, quando morremos, deixamos de sentir? O que acontece com o nosso olfato quando paramos de respirar? Ele pare de funcionar?
A vida é esse treco tão intrínseco que a gente pensa como vivo:
“Será que vai doer quando eu morrer?”
“O que será que eu vou ver?”
Antes disso, volto e pergunto: quem me garante que eu vou continuar sentindo? Vendo? Tocando?
E supondo que continue, atualmente meus olhos são feitos para enxergar o banal. Meu teclado, a gaveta quebrada, a parede com infiltrações no quarto. Tudo isso. Como que de uma hora pra outra, esses mesmos olhos que hoje vêem tantas futilidades, passarão a ver o belo? Ou os anjos celestiais? Ou apenas a vida após a morte? Se é tão simples e rápido assim esse processo, deve ter um tutorial pronto.
Por enquanto não tenho nenhuma resposta. E não sei se quero tê-las tão breve. Como um bom jogo de azar, a vida te dá pouquíssimas dicas sobre o resultado final, mas te dá muita energia e vontade de continuar jogando. As vezes bate uma ansiedade. Outras vezes um medo bem forte, aí você vai ver e é apenas solidão. Você ri. Também tem felicidade, claro que tem. Assim como tem aqueles arroubos de compaixão.
Melhor parar por aqui, outro dia eu escrevo sobre essa outra definição de vida. Hoje é sobre a morte.