APENAS ÁGUA, PÃO E SUCO DE UVAS

Nem mais feios e nem mais bonitos, apenas mais convencidos!

Por Antônio F. Bispo

Quem já fez ou ainda faz parte de alguma igreja cristã (principalmente evangélica) poderá observar que há um tratamento diferenciado entre os frequentadores.

Além do fator dízimo e subserviência incondicional às lideranças, os que foram batizados nas águas e estão habilitados para tomar ceia são tratados de um jeito, e os que não o são, terão de submeter-se a um tratamento inferior aos tais.

Como a característica principal de uma igreja é tornar místico qualquer objeto ou ação simples em coisas de estimado valor, com o batismo não seria diferente.

Porém não há nada de extraordinário nisso. É apenas um simbolismo com valor restritivo (ou pelo menos deveria ser) aos frequentadores do grupo. É tão somente um rito de passagem, nada mais que isso!

Por mais que a igreja invente, aumente e acrescente, ninguém se torna o queridinho de deus por meio desse ato. Se a pessoa foi mergulhada ou aspergida; se em água corrente ou parada; se nas águas do Jordão ou se em um piscinão comunitário isso também não faz diferença alguma: e apenas um ato simbólico!

Ninguém se torna superior a outrem ao ser batizado ou tomar ceia. Será a mesmíssima criatura, as vezes até um pouco pior quando passar a pensar que esse rito lhes dará poder sobre as demais.

Uma ilusão aprendida em determinado grupo jamais deverá ser regra de fé e conduta a qualquer outra pessoa, muito menos aos que ainda cultivam alguma lucidez fora desses recintos.

O ato batismal é anterior ao cristianismo assim como o ato de comer simbolicamente o corpo e beber o sangue de uma divindade também é! O que eles chamam de um rito cristão, não passa paganismo, condenado por eles mesmo em outras crenças.

É comum porém, que os líderes religiosos digam que é no batismo que o velho homem morre com todos os seus pecados e ao emergir das águas um novo homem nascerá “branco como a neve”, puro, limpo e santo, como se tivesse acabado de surgir de algum útero celestial.

Mas é tudo mentira, pura balela!

Se isso fosse verdade, não haveria absolutamente nenhum abuso físico, sexual, moral ou financeiro em qualquer igreja de qualquer canto do mundo. Em certos recintos, o oposto disso é verdadeiro: quanto mais recluso e “santo” um povo for, um número maior de abusos poderá estar ocorrendo ali.

Afirmam ainda os tais líderes que após o batismo, a manutenção dessa santidade só será possível mediante um “canibalismo sagrado”, ou seja a “santa ceia” que nada mais é que um ritual praticado todos os meses dentro da igreja (ou todo os anos de acordo com cada uma), ministrado pela mais alta patente do recinto ou a quem por ela for ordenada.

No passado a ceia era uma ceia mesmo, no sentido de banquete, de comer para saciar-se.

Comer muito, alegrar-se e encher a cara até cair (o próprio Paulo falava sobre isso). Assim eram as ceias de acordo com os próprios relatos cristãos iniciais.

Com o tempo e absorção cultural de outros povos, deram um sentido místico a esse ato tão simples e tão natural de qualquer ser vivo. Então passou-se a usar apenas o pão e o vinho como ingrediente básico, simbolizando o corpo e o sangue daquele qual dizem um dia ter morrido num madeiro para remissão dos pecados do mundo.

De modo controverso, apesar de se declararem limpos e puros com este ato, os tais estão cientes que diariamente poderão pecar, já que o mundo “jaz no maligno” e eles ainda estão na terra, apesar de ditos cidadãos dos céus (como dizem).

Dizem que deus é perfeito e que criou um mundo perfeito ao mesmo tempo que atestam que tudo nesse mundo é pecaminoso por causa do diabo, que por sua vez era o mais perfeito de todos os anjos que vivia nos céus, ao lado de deus, o lugar mais perfeito de todo o cosmo. É tanta perfeição que tudo se torna imperfeito e controverso.

Ainda que esses novos salvos não venham se contaminar com os pecados do mundo ou desviar-se dos padrões da fé universal qual professam, eles sabem que cada igreja tem uma lista pessoal de “podes e não podes”. Sendo assim é impossível permanecer santo por um só dia nesse “mundo de cão”.

Além de “zerar o contador” no dia da convenção e no dia do batismo, eles passam a fazê-lo periodicamente pelo repetição desse canibalismo místico. Fora isso também tem os diversos devocionais diários.

É Só uma garantia extra! Vai que a confissão pública, o sangue do cordeiro, a cruz, a água, os dízimos e toda obediência aos ditames da igreja não funcione...

Pecadores remidos é como eles passam a se chamar (uns aos outros).

Isso é como se fosse uma licença permanente para cometer delitos com o perdão antecipado. Um tipo de foro privilegiado no “parlamento dos santos”.

Assim como na “política humana”, quem mais costuma fazer uso desse recurso nas igrejas são justamente as lideranças, ou seja os que deveriam ser exemplos de retidão e justiça!

Não é por que eles afirmam que o rito batismal muda e transforma o homem em um ser de luz que isso se torna real. É apenas uma fantasia para vender outro produto ainda mais fantasioso: a salvação eterna mediante a permanência até a morte “nos caminhos do senhor”.

Nada dito ou feito em nome de deus purifica o homem de nada!

Nada disso põe caráter em que não o tem ou não intenta ter!

Nada disso muda coisa alguma na vida de quem quer que seja!

São apenas ÁGUA, PÃO E SUCO DE UVAS e nada mais...

No mesmo lugar onde se compra esses ingredientes para o uso comum, encontrar-se-á também para fazer esse rito místico. Inclusive, a mesma padaria que vende o pão que alimentará um criminoso que matará um “servo de deus”, venderá o “pão sagrado” para alimentar os santos e zerar o contador dos pecados destes.

Um mesmo pão duas mágicas diferentes, ou melhor: mágica nenhuma há nisso!

Estando você dentro ou fora desse recinto, pertencendo ou não à membresia de uma igreja, jamais se deixe intimidar por qualquer santarrão que gosta de dar carteirada nos outros só por que tem essas “virtudes”. Ritos de passagem existem e sempre existirão em todas as sociedades, sejam elas avançadas ou “atrasadas”.

Costumamos achar que os ritos de nosso povo são os mais perfeitos e os demais não!

Porém, tanto um quanto outro pode ser apenas um método de tortura física ou psicológica ou realmente um marco para a independência física ou mental de um indivíduo.

Há bizarrice e estupidez em praticamente todos os ritos de culto de todos os povos, mas quando um cristão olha para os seus, costuma pensar que estar no topo da cadeia evolutiva e que isso é de fato um ato sagrado e que deus ira presentear realmente todos os que sujeitaram-se até o fim de seus dias a esse tipo de paranoia.

Pela liberdade religiosa cada grupo poderia fazer o que bem entendesse quando e onde quisesse. O problema é que os ritos sagrados, diferente do que se pensa, não envolve “seres sagrados” (pois eles não existem), antes sim, tais ritos envolvem pessoas, suas vidas, suas histórias e as projeções ritualísticas com o que se fará desta.

Em hipótese alguma ninguém verá deus (ou deuses) participando desses eventos. É o único tipo de evento no mundo onde o convidado principal nunca esteve e mesmo assim, todos os dias fazem festas em sua homenagem como se ele estivesse ali.

Quem participa de ritos e liturgias são pessoas e não deuses. Pessoas são mortais, diferente do que se dizem dos deuses.

Algumas pessoas perderão suas vidas ou os melhores dos seus dias lutando por algo que parecia ser real, para somente muito tempo depois descobrirem que era tudo uma grande ilusão arquitetada por mentes débeis ou diabólicas.

A vida, a honra, a liberdade e a sanidade das pessoas são os ingredientes que estão em jogo quando se trata de uma rito de fé que envolva mais de um crédulo.

Diferente do que se afirmam, são as pessoas que dão vida aos deuses e não o contrário!

São estas quem escrevem suas estórias, que criam seus poderes e todo o misticismo ao redor deles e não o oposto. Todos os deuses morrem quando os seus veneradores morrem ou migram para um deus mais “atualizado”.

Arqueólogos, antropólogos, teólogos e historiadores são as únicas pessoas no mundo com “poderes” de trazer de volta à vida um deus moribundo e decadente.

Vários deuses do passado, também “imortais, infalíveis e onipotentes” já nem são lembrados há milênios pois os seus veneradores sucumbiram com eles. Em vários casos sucumbiram contemplando a bandeira de fé que defendiam e deus nenhum veio salvá-los.

Uma pá, uma picareta e um pincel de um arqueólogo aliados à distinção de um bom linguista podem trazer de volta a memória desses seres, do mesmo modo que biólogos correm o risco de trazer de volta um vírus mortal ao tirar amostras de geleiras e de locais inóspitos do planeta.

E na memória do povo que os deuses vivem, e é por falta dela que eles morrem! Se realmente existissem, os deuses seriam os piores parasitas já registrado em toda história humana. Esse cargo porem, fica vago portanto aos seus representantes, à todos eles que de modo consciente faz do comercio da fé sua fonte de renda, poder e autoridade.

O que membros de uma igreja fazem dentro de 4 paredes não deveria importar ao mundo desde que as liberdades individuais das pessoas (que por milênios estamos tentando conquistar e manter) não fossem desrespeitadas. Quando o quesito é fé, nada é proibido, impossível ou anticonstitucional! Tudo é possível e permitido ou lascivo.

“A LEI DE DEUS ESTÁ ACIMA DE QUALQUER LEI HUMANA”! Eles sempre dizem isso!

Acontece que não há lei de deus, de deus nenhum, pois toda leia é humana.

Algumas foram criadas (ou aceitas) de modo democrático em uma assembleia e por representantes de um povo (nação, estado ou município) e outras (como no caso das leis das igrejas), pensadas de modo monocrático, por um só homem ou grupo hierárquico, visando somente o bem estar dessa elite e a manutenção do império da fé que toda igreja bem dirigida pode proporcionar.

Em outras palavras, basicamente toda “lei de deus” começa com uma só pessoa dizendo ter visto ou ouvido vozes, mandando que este fizesse ou mandasse o povo se submeter a tal coisa...

Loucura, ganancia, má fé, paranoia, corrupção, abuso de autoridade e megalomania precede toda “lei divina”. Nenhum rito religioso se salva disso! Quando não há todos esses elementos descritos inseridos nesse ritual ou nessa igreja, um ou outro haverá.

Pela percepção errada (propositalmente mentirosa) do batismo, todo tipo de segregacionismo e humilhações públicas poderá ocorrer dentro das igrejas.

Um casal monogâmico e totalmente fiel um ao outro por exemplo, será considerado um casal adultero por algumas igrejas ou membros destas se não forem batizados mesmo estando há 30 anos dentro da igreja, cumprindo todos os rituais.

Um pastor ou obreiro frequentador de surubas, por sua vez, será visto com um membro salvo e redimido pois o batismo o torna assim.

Em alguns casos, esse casal não poderá participar de nada da igreja: nem do coral, nem dos ofícios e nem do canibalismo místico. A única coisa permitida para estes será dar o dizimo e obedecer cegamente ao líder da igreja.

Quanto ao segundo, o pastor ou membro batizado, diante de um erro qualquer, basta dobrar o joelho, pedir perdão a deus e zerar o contador outra vez. Muito bom, não é mesmo?

A ideia de um texto como esse não é fazer com que as igrejas permitam que todos participem dos ritos litúrgicos sem distinção alguma. Longe disso!

A ideia é justamente informar que não vale a pena sujeitar-se a determinados tratamentos (desumanos) pensando estar fazendo algo realmente santo ou para deus, quando não está.

As coisas podem ter o real valor que você pode dar a elas.

Pão, água e vinho não valem o preço de sua vida, do seu tempo, da sua sanidade e da sua obediência cega a um líder ou grupo paranoico.

Se os deuses (ou deus) nunca apareceu num banquete desse para cear com o povo, pense por que você deveria estar ali. Se o dono da festa não vai e nem sabe que foi feito isso em sua homenagem, muito menos você deveria ir. Eles podem estar te enganando...

Pensem sobre isso. REVEJAM SEUS CONCEITOS.

Saúde e Sanidade à Todos!

Texto escrito em 23/8/21.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 23/08/2021
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