Entrevista parte 2
Parte#
O que é ser uma mulher?
É saber que será criticada. Parte das críticas acontecem por simplesmente ser mulher. É estar em um mundo masculino. É, antes de sair de casa, se olhar no espelho, se perguntar se a roupa está apertada demais (isso pode chamar atenção indesejada), se solta demais (desleixada), se está suficientemente arrumada. Tudo dentro de um limite que não chame atenção demais. É sentir necessidade de ser discreta. É cuidar para que tenha equilíbrio entre firmeza e delicadeza, pois no mundo masculino, uma mulher firme demais recebe muitos adjetivos baixos. Mas, acima de tudo isso, é ter atitude. Ser mulher é ter atitude. É bancar escolhas. Afinal de contas, nós temos um útero (“do tamanho de um punho”, como diz a Angélica Freitas) Nosso corpo produz alimento. Nutri outra vida, outras vidas. Porém, vamos acumulando paradigmas sobre como ser mulher. Como se comportar dentro das normas. Talvez, por isso, tenha tantas Normas. Risos. Saber sentar e cruzar as pernas. Rir, mas não muito. Falar, mas não muito. Ser mulher é estar preocupada com o seu próprio grito. Você vai se sentir suja, um lixo, se ficar preocupada com as palavras dos outros. O tempo todo preocupada, inclusive nas conversas entre as amigas. No fundo sabemos que somos avaliadas. Por isso, estou sempre em estado de alerta. Queremos ser compreendidas. Queremos cuidado. Queremos gentilezas. No fim, ser mulher é um misto de força e fraqueza, tristeza e alegria, fragilidade e resiliência. Ser mulher é saber que o amor não é perfeito. Amanhã é muito tempo e pode nunca chegar. Só tenho o hoje. É hoje que quero amar, rir, dançar, sentir meu corpo sentir o outro. É hoje. Arrependimento não é uma das minhas escolhas.
Como é ser mãe?
Ser mãe é aprender. É ter o coração batendo fora do peito. Em cada fase do crescimento de um filho uma nova habilidade em ser mãe é descoberta e colocada em prática. É ser quem caminha, corre, olha. Às vezes, quem procura um abraço. Às vezes sei quem acolhe quem, tanta coisa cabe dentro de um abraço. É sentir o dedinho delicado da criança tocando seu rosto, seu cabelo, descobrindo você. Mas a criança cresce. Esse contato vira outra coisa. Você vê o crescimento do filho e lembra do caminho que já percorreu. Você pensa no caminho que há pela frente. Provavelmente não verei todos os passos da vida deles. Haverá um tempo em que você não será o destino dos passos apressados do seu filho. Seu filho correrá para outros braços, fará abrigo em outros braços, e com sorte, será abrigo para o próprio filho.