Como conviver com a morte?
A veracidade da finitude humana é incontestável. Embora esse seja um fato comum e natural, o bem supremo da humanidade é a existência e, por isso, o ser teme a morte. Falta no ser humano uma aceitação da morte como, apenas, mais uma etapa da vida, mesmo que seja árduo conviver com tal certeza.
Essa dificuldade para acolher a morte de forma natural deve-se, principalmente, ao que Schopenhauer afirmava ser a essência íntima do homem, a vontade de viver. Assim, por esse desejo ser inconsciente, o ser humano lança mão de paliativos que ofusquem a chegada da morte: ideologias religiosas, tecnologias capazes de modificar os efeitos da velhice.
Dessa forma, o fim da existência do ser humano se transforma em uma perturbação para o ser deveras apegado à vida. Para aliviar esse tormento, a humanidade abriga em seu subconsciente a ilusão da imortalidade da alma e de um mundo melhor, após a morte. Com esse pensamento retrógrado, a humanidade inibe a vertente realista da morte.
Assim, a humanidade tem regredido na forma pela qual convive com a sua finitude, fato que não era comum nas sociedades pré-modernas, em razão da coletividade e da forma realista em que elas viviam. Com isso, nota-se que a individualização da consciência humana, desenvolvida no decorrer do século XX, em virtude do caráter competitivo apresentado pelo capitalismo, é o que mais atrapalha a aceitação natural da morte.
Portanto, é necessário que o ser humano admita sua vulnerabilidade diante de uma existência efêmera e repleta de incertezas. Para isso, seria imprescindível o desenvolvimento de uma conscientização mais coletiva e realista. Assim, seria possível, até, tratar a morte de forma humorada, como propôs Freud. Essa representaria, indubitavelmente, a melhor maneira para conviver com a morte.
Alexandre J. Nobre.