APENAS TINTA, PAPEL E PALAVRAS!
Há sacralidade na bíblia?
Parte 4 do texto: é possível estudar deus?
*Por Antônio F. Bispo
O primeiro erro cometido quanto a suposta sacralidade bíblica é sobre significado do próprio termo. Parte dos crentes foram levados à crer que esse vocábulo significa literalmente LIVRO SAGRADO.
Mas não é!
Outra parte vai ao cúmulo do exagero, ressignificando esse vocábulo como se o seu sentido fosse BOCA DE DEUS FALANDO AOS HOMENS.
Também isso é mentira!
O primeiro termo deriva da ignorância popular (falta de conhecimento).
Já a segunda mudança de sentido costuma ser intencional, pois ao dar esse sentido esdrúxulo a esse termo, fica muito mais fácil obter poder e obediência do povo, tornando-os servis à qualquer tipo de condicionamento usando esse livro como pano de fundo.
Essa segunda forma propositalmente errada do termo, faz com que o valor real desse produto seja superfaturado, já que as pessoas costumam pagar caro por objetos mistificados, acreditando que estes lhes tragam sorte e proteção.
No caso da bíblia, ao dar poderes místico a esse livro, dá pra cobrar até 200 vezes mais sobre o valor desse objeto sem que haja objeção por parte do comprador. Não é à toa que esse o livro é o mais vendido do mundo.
Apesar de ser o mais vendido, não é o mais lido. Torná-lo sacro (mistificado) é o meio mais eficiente de aumentar a procura por esse produto.
Na maioria dos casos esse lucro absurdo advém de uma estratégia simples: imprime-se o conteúdo padrão, põe entre as folhas uma foto de uma celebridade gospel ou alguns comentários de uma pessoa famosa, daí muda-se o nome para bíblia de fulano, cicrano ou beltrano e pronto: vende se o igual como se fosse o excepcional. É um meio “honesto” entre os crentes de surrupiar o dinheiro suado do povo sofredor.
Esse último método (de roubo) poderá ser praticado inclusive pelo mais imaculado dos homens e nenhuma suspeita de suas reais intenções será levantada, antes sim, provavelmente o mesmo será louvado e comparado a um Prometeu (o que traz fogo aos homens).
As pessoas costumam chamar de ladrão (ou aproveitador) um vendedor de rua que lhes vende um objeto quase inútil, mas chamam de santo os que cobram dezenas de vezes mais por um material igualzinho as outras (no conteúdo).
Para os mais ricos, adquirir modelos e versões diferentes desse livro faz aumentar seu próprio status. Quanto ao pobre (iludido), às vezes tira da boca para comprar esses novos modelos, achando que estará ainda mais protegido, pois julgam que deixando aberto esse livro em determinado versículo, a paz, segurança e saúde estarão em suas casas sempre.
Mas é puro engano. Não há nada de místico nesse livro: é apenas tinta, papel e palavras como qualquer um outro.
Voltando ao sentido original da palavra, o termo bíblia significa apenas: BIBLIOTECA OU COLEÇÃO DE LIVROS. Apenas isso e nada mais!
Se a sacralidade desse livro estivesse em seu termo, todas bibliotecas do mundo seriam igrejas e todos os bibliotecários seriam sacerdotes.
A ideia de sacralidade dos livros (não apenas desse mas de todos) era devido ao seu custo de produção e não somente pelo seu conteúdo.
No passado antes da invenção da prensa móvel, os livros eram escritos em papiro ou pergaminho (um tipo de couro).
Eram enrolados em espiral e ocupava e muito espaço para guarda-los em certos casos.
Um único livro poderia pesar até 50 quilos e ocupar cerca de 1 metro na prateleira. Por ser escrito à mão, um livro custava mais que um casa (ou um carro novo em nosso dias).
Esse era um dos principais motivos de torna-los tão preciosos, alguns ao nível de sacralidade. Somente reis, escribas e pessoas muito ricas poderiam obtê-los. Redigi-los era um “milagre” ainda maior, considerando que quase 95% da população não sabia ler ou escrever, quanto mais pensar (ter ideias próprias e capacidade de pô-las por escrito).
Quase todos que eram capazes de escrever um livro torvam-se célebres! Santos, profetas, bruxos, sábios ou filósofos... eram os termos mais comuns atribuídos aos tais.
Possuir um livro era uma riqueza. Possuir uma biblioteca (bíblia, conjunto de livros) era algo realmente extravagante, coisa digna de um imperador.
O próprio Alexandre (o grande), foi um dos idealizadores da bíblia com a temos hoje. Diferente dos outros imperadores, além de terras ele almejava cultura. De cada povo conquistado ele queria cópias dos principais livros desse povo traduzido para sua própria língua.
Ao conquistar Jerusalem, ele mandou reunir 70 dos melhores escribas judeus e ordenou que fosse traduzidos para o idioma grego alguns livros da cultura judaica. Entre esses livros haviam relatórios, genealogias, crônicas, salmos, provérbios e contos diversos (eram apenas livros).
Essa tradução ficou conhecida como SEPTUAGINTA por que fora traduzida por 70 pessoas diferentes num mesmo espaço de tempo. Nessa época ainda não havia o novo testamento e o mito Jesus ainda não havia sido fabricado.
Séculos depois, os romanos pegaram parte desses livros traduzidos e fizeram uma outra versão para sua própria linguagem. Essa nova versão chamou-se VULGATA LATINA que significa versão popular, já que o latim era a língua do povão.
Foi à partir daí que o misticismo em torno desse livro começou se formar. Ainda não havia bíblia (livros reunidos e canonizados). Eram apenas livros soltos sem nenhuma conexão entre si. Eram quase 5 mil deles e algo precisava ser feito para dar sentido ao que viria posteriormente.
A criação do mito Jesus (como conhecemos hoje) obrigou um malabarismo linguístico, histórico, exegeta e até biológico nunca antes visto para fazer surgir do nada (do cruzamento de uma virgem com uma pomba) esse personagem.
Foi necessário uma criteriosa de seleção para organizá-las de modo que o arranjo desse conjunto tivesse alguma ideia de linearidade, como se esse livro houvesse realmente sido ditado ou por algum deus aos ouvido dos escribas e profetas. Como se do Gênesis (criação) até o Apocalipse (revelação) fosse tudo uma grande obra divina.
Mas não foi! Foi tudo arranjado mesmo, tudo programado e feito por mãos humanas com materiais provenientes da terra. Anjo nenhum fora visto escrevendo tais obras e deus nenhum foi pego ditando ao ouvido do escrevente. O sentimento religioso faz com que o fiel se ache especial em relação a outros humanos bem como faz tornar místico qualquer objeto relacionado à sua fé.
Basta ter um pouco de bom senso para perceber tal façanha (o misticismo em torno da bíblia), nem é preciso ir muito longe. O simples fato de existir um deus-homem fruto de uma relação de zoofilia já invalidaria todo conceito de sacralidade, se visto sob ótica de um judeu do passado (povo que “inventou deus” segundo o antigo testamento). Jesus, segundo a lenda era judeu! Sendo assim, aquilo que os cristãos chamam de milagre divino, não passa de uma aberração, uma bestialidade se julgássemos por essa ótica.
Apesar de tudo, havia um propósito na confecção desse livro e não era o de vender uma bíblia à 900 reais uma unidade (como se essa fosse melhor que as outras) à fim de manter no ar um programa pessoal de TV. Era algo de menos malandragem, de cunho político. O objetivo maior era o de unificar um reino sob uma mesma flamula.
Constantino e alguns teólogos estavam fazendo seus primeiros ensaios para tornar o cristianismo a religião oficial do império. Havia entre o povo quase 30 versões diferentes para um mesmo messias.
Era preciso escolher um entre eles, dá-lhe uma forma “real” e assim unificar essa gente em torno de um deus comum, ainda que permitindo que de longe cada um mantivesse seus ritos ancestrais, desde que declarasse o cristo do império como o deus supremo.
Não é difícil empurrar goela abaixo nenhum tipo de “verdade” a um povo escravizado, conquistado e humilhado, capaz de trocar qualquer coisa pelo mínimo que alguém precisaria para sobreviver: um pedaço de pão, um pouco de água e uma chance de dias melhores para sua prole.
Em troca da vida eles aceitaram a nova religião e com ela todo o pacote que estava embutido, inclusive o “livro sagrado” dessa nova fé.
Quando os livros que compõem essa coleção foram selecionados canonizados e (ditos santos pela igreja) o termo original foi perdendo aos poucos o seus significado, dando-se a entender aos leigos que aquela obra sempre fora uma única peça. Isso era uma vantagem ainda maior quando o quesito era escravizar mentes. Até hoje continua sendo pelos mercadores da fé.
É preciso lembrar que a bíblia foi criado por católicos e para os católicos.
A palavra canonizar quer dizer medir, enquadrar (entendemos como sendo tornar algo sacro ou tornar santo). Porém a sacralidade é apenas um rótulo, assim também o são os temos: povo de deus, ungido de deus, profeta, pastor, etc....a essência das coisas não pode ser garantida pelo que está escrito em uma embalagem. Diz-se o mesmo desses rótulos.
A palavra católico que dizer universal (ou fé universal, já que esse foi o instrumento que o imperador conseguiu pra unificar o império).
Um rótulo é apenas um adesivo e não o produto em si.
Justamente por isso que a bíblia é um livro como qualquer um outro mesmo quando alguém atribui a ela poderes mágicos. Pior ainda: quando diz conter nela o destino inevitável (já escrito) para toda humanidade, dando a ideia de que nada podemos fazer para mudar nossa própria sorte, a não ser aceitar ser uma ovelha trouxe de pastores de exploradores.
Nem é preciso fazer muito esforço para notar que nos últimos anos a bíblia tem sido ainda mais usada (mais que antes) para esconder o falso caráter e más intenções de pessoas medonhas.
É preciso deixar bem claro outra vez que não há sacralidade alguma nesse livro: é apenas tinta papel e palavras arranjadas em um textos que refletem o pensamento de um povo em uma determinada época.
Não é um livro maldito (apesar de em grande parte da história ter sido usado para maldição, opressão e condenação) mas também não é um livro bendito.
Não servirá para nada se possuído apenas com objeto de enfeite. Servirá muito menos ainda se lido e interpretado para fins pessoais e egoístas.
Não é a boca de deus falando para quem quer que seja e nem tão pouco é manual da moralidade, ética ou bons costumes. Também não é um amuleto ou objeto de proteção.
Se você estiver em um país cristão, o porte e posse desse livro poderá até servir como símbolo de status ou ferramenta de mineração do bolso alheio.
Em um país politeísta, esse livro terá tanta validade quanto qualquer um outro livro “sagrado”. Nem mais e nem menos valerá!
Porém, em um país comunista ou avesso ao cristianismo, o simples ato de possuir ou ler um livro como esse poderá ter trazer sérios danos, inclusive a morte. E se isso acontecer, você não será morto porque a própria bíblia está se cumprindo ou “jesus está voltando”. Também não é um sinal que o maligno não gosta de deus, do seu povo ou de sua palavra. É apenas um sinal que naquele país há leis e tem ordens diferentes das nossas. Apenas isso!
Em sua casa você manda (quando manda).
Nas casas dos outros você não tem o mesmo poder. Isso vale também para outro estado ou nação. Cada um com suas crenças, cultura, apego ou aversão por algo. Sempre foi assim e sempre será.
O fato de alguém rejeitar um “livro sagrado”, não significa que esta pessoa ou povo seja de má índole ou aliados do capeta. Na maioria dos casos o oposto disso é verdadeiro!
Se essa pessoa não estiver agindo por conta de sua própria religiosidade, essa rejeição significa apenas uma coisa: dar o valor real que esse produto possui: o do papel, da tinta, dos impostos e da logística!
É preciso que fique claro uma coisa: quando alguém diz não acreditar na bíblia (no sentido de veracidade ou sacralidade), não quer dizer está te obrigando também a descrer ou ou te dizendo pra desprezar esse livro. A vida é sua, faça o que quiser, só não obrigue os outros a ser o que você é ou crer no que você acredita.
À grosso modo, a forma mais simples de responder sobre esse livro seria:
A bíblia existe? Sim, existe!
Ela é real? Sim, é real (você pega nela)!
Ela é verdadeira? Sim (você pode vê-la, senti-la, cheira-la, tocá-la...).
Ela é a verdade? Não, claro que não!
Ela contém a verdade? Sim, possivelmente! Depende de qual verdade você busca...
Ela foi escrita por deus! Não, claro que não! Absolutamente não!
Ela foi inspirada por deus? Também não, de forma alguma!
Ela é importante? Sim, para os religiosos ela poderá ser tão importante quanto qualquer um outro “livro sagrado” de outra religião, não mais e nem menos que isso. Para um estudioso ela será importante como fonte de pesquisa e não de devoção.
Ela é fonte de moralidade? Obviamente não!
Nela está contida orientações para uma boa convivência entre os homens? Sim, claro que sim! Há diversas dessas orientações, porém, infelizmente os que as tem preferem vê-la com um objeto místico, que como uma fonte de consulta conferindo os erros e acertos de povos do passado. Onde eles erraram devemos evitar e onde acertaram devemos repetir tais ações.
Sagrada mesmo é a relação entre duas ou mais pessoas que se respeitam mesmo quando não se entendem ou concordam entre si em alguma coisa. Fora isso, qualquer coisa pode ser tornar sagrado ou profano de acordo com o seu grau de ganancia ou ignorância.
Até breve!
Revejam Seus Conceitos!
Saúde e Sanidade à Todos.
Texto escrito em 13/8/21
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com