O TEATRO DA MORTE

Nessa peça eterna e macabra, se sair do personagem você morre!

Por Antônio F. Bispo

Imaginem a seguinte situação:

Um sujeito vai passando em frente a um teatro quando um figurante o convida a assistir uma encenação.

Ele entra, a dramaturgia começa e envolvido pelo enredo, a pessoa aceita o convite do diretor para ser parte do elenco.

Ele pensou consigo mesmo:

-Nada demais. Irei me divertir um pouco. Viverei apenas por um instante esse personagem e ao sair daqui, minha vida seguirá como sempre!

Parecia ser uma sábia decisão, uma excelente chance de ascender social e culturalmente.

Os atores mais antigos demonstraram um misto de alegria e piedade ao ver que mais um membro se juntara ao elenco. Outros deles demonstraram sadismo. O novato não entendeu o motivo de tal reação.

Ao findar a peça o visitante tira sua fantasia, a maquiagem e todos os apetrechos que davam vida ao seu personagem. Despede-se dos artistas e antes deixar o palco, ele descobre o terrível buraco em que se metera: o diretor do teatro é um louco que obriga todos os figurantes a viver o personagem 24 horas por dia, mesmo longe do palco e da plateia. Uma vez tendo atuado, a atuação seria eterna. A recusa seria uma declaração formal de guerra. Ele não teria aceito tivessem-lhe dito antes.

Com olhos e ouvidos por toda parte, esse dramaturgo maluco vigia todos que um dia pisou os pés em seu local de espetáculo para fazer destes um exército de fantoches e marionetes controláveis, dispostos a fazer tudo o que ele ordena.

Ele usa um tipo de “livro sagrado das artes cênicas” escrito por outros alucinados como ele e que por séculos mantem vivo aquele espetáculos às custas de tantos figurantes moribundos, que tiveram de abandonar suas vidas reais para viverem um roteiro de quinta categoria.

O novo ator percebe que aquele é um ambiente doentio, um é tipo um manicômio só que com nome nomenclatura enganosa para atrair os tolos como se fossem roedores a uma ratoeira.

O diretor é o louco principal e todo o elenco restante se tornou louco por indução ou opção.

Uma vez tendo aceitado um papel naquela peça, todos ali passaram a viver em uma realidade alternativa, fantasiando ser outra pessoa bem como possuir habilidades físicas e intelectuais inimagináveis.

O louco maior fantasia ouvir vozes de um ser místico de outra dimensão. Todos precisam reverenciar tal fantasia e obedecê-lo como líder. Faz parte do script imaginar que todos serão devorados por um ser terrível de rabo e chifre que mora num castelo de fogo, caso não obedeçam ao líder louco e ao “livro santo das artes cênicas”.

A peça é eterna. A encenação durará enquanto durar a vida dos figurantes.

Depois de algum tempo eles já nem conseguem distinguir a fantasia da realidade.

Já não sabem fazer nada por conta própria e nem são capazes de tomar simples decisões na vida, por menores que sejam a não ser consultando o cineasta ou o roteiro. Já perderam também a noção do tempo e do espaço e o ridículo para eles parecer ser um mérito.

Todos tiveram de desfazer-se de suas reais identidades, apagar suas lembranças e aos poucos esquecer-se de quem eram, de onde vieram ou o que vieram fazer ali. Passaram a uivar, latir ou morder à medida que o chicote do dramaturgo ensandecido estalava. Seus cérebros atrofiaram. A lógica e a razão foram substituídas por comando diretos e confusos.

Torturas físicas e psicológicas bem como ameaças de mortes e maldições eram reservadas à todos os que tentam sair da linha (do personagem). Calunias, difamações e injurias também eram ferramentas usadas pelo líder para intimidar a saída dos atores do teatro nefasto.

É imperativo fingir que o líder é infalível, que todos ali se amam e estão felizes por serem quem são. As demais regras derivam sempre da primeira e de tudo quanto o que encarna o deposta possa exigir.

Todos ali são ou foram obrigados à seduzirem seus familiares, parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho para caírem nessa mesma armadilha, tomando parte em todas as torturas psicológicas e humilhações em público pelo diretor maluco.

O novato percebe que esse tipo de negócio é lucrativo para o dono da peça. Esse é um dos motivos pelos quais ele passou a escravizar tanta gente, já que como dono, o lucro é total.

Todos são voluntários ali, menos ele (o diretor). Ele é o único que recebe para atuar e ainda cobra para que outros vivam (contra a própria vontade) o personagem que ele criara.

O lucro é infinito, já que a peça é infindável!

Em alguns casos o pessoal do “palco, som e iluminação” ganham alguns trocados também, mas somente o básico para sobreviver e mesmo assim não podem ignorar o roteiro.

Nessa longuíssima metragem, eles encenam a luta do bem contra o mal, só que numa visão medíocre, tosca, antagônica e conturbada da vida. O diretor louco juntou scripts de várias peças, locais e épocas diferentes fazendo com que as falas de seus personagens ficassem desconexas e sem sentido algum em relação aos dias atuais. Nem mesmo os atores sabiam quando era para rir, chorar ou simular outros sentimentos já que tudo era obscuro. Até por isso o chicote estava nas costas dos atores que mal sabiam por que estavam apanhando.

Esse enredo tosco tem sido adaptado e readaptado ao longo dos séculos por vários diretores de acordo com a época, local, ignorância do público e brecha nas leis locais. Todos esses diretores visam apenas o lucro, poder e influência sobre todos os cidadãos.

Há raras exceções em que alguns atores receberam também o papel de diretor, mas não sabem que estão no meio de uma atuação, vivendo um roteiro. Pensam ser real o que vivem. Estes, apesar de honestos e menos hostis, não deixa de ser também meros figurantes.

Houve uma época no passado em que esse teatro cresceu tanto que dominou o mundo. Seus diretores decidiam quem deveria viver ou morrer. Quem não entendia a peça morria. Quem fingia entender tinha de interpretar bem o papel, senão morria também. Quem ria ou aplaudia na hora errada também morria. O que se recusasse a viver tal fantasia morria da pior forma possível.

Negros e índios eram escravizados pelos dono desse circo para servir de “chapa”. Carregavam todo peso, montavam os palanques e em certos casos tinham de levar nas costas (literalmente) seus senhores. Tinham de fingir gostar do que faziam, senão eram executados. Eram ainda obrigados a entregar suas mulheres e filhas para a luxuria sexual desses despostas e outros atores famosos. Suas terras e pertences eram confiscados para custear o sonho de grandeza desses “deuses do olimpo”.

Gays e lesbicas eram perseguidos ou mortos para entreter a plateia de loucos que também era composta por outros oprimidos que fingiam entender o contexto.

Ruivas, albinos e quase todo tipo de deficiente físicos eram tidos como maldições, objetos místicos ou aberrações para entreter essa patota.

Desprezando o mundo real, essa trupe estava decidida a expandir cada vez mais os limites do seu picadeiro. Reza a lenda que o diretor supremo desse teatro foi ferido gravemente 5 séculos atrás e que os seus herdeiros repartiram a herança entre si, dividindo a empresa em milhares franquias que hoje existe por todo o globo. Mas isso é só uma suposição...

...

Teatro louco esse, não é?

Impossível existir um diretor, plateia ou atores que se sujeitem a esse tipo de situação, não é mesmo? Isso jamais aconteceria...

Pois bem, narrarei uma outra história e se houver quaisquer semelhanças com a situação acima serão meras coincidências. Não levem a sério pois o que descreverei aqui não existe, nunca existiu e nunca existirá...

Visualizem a seguinte situação:

Um rapaz vai passando em frente a uma igreja. Uma moça linda o convence a entrar e assistir ao culto.

Acreditando ter uma chance de flerte com ela, ele se deixa levar e entra no recinto.

Assiste ao culto até o final e depois de uma “pregação carinhosa”, cheia de purpurinas e palavras doces, o pregador o convida a aceitar a jesus.

Ele recusa. A moça sorri tentando convencê-lo.

Ele tenta ir embora, mas o pregador ameaça-o dizendo:

-Agora você é conhecedor da verdade! Você ouviu toda pregação, sabe que jesus é o único salvador e se você sair daqui hoje sem aceita-lo, o seu sangue não estará nas minhas mãos e quando você morrer irá direto para o inferno e se viver, enquanto não aceitar a jesus como salvador, tudo o que fizerdes dará errado, pois ouviu a verdade e rejeitou-a!

Que vexame, que situação constrangedora! Não foi pra isso que ele entrara ali.

O rapaz desejou nunca ter passado por aquela porta.

A jovem olha-o com um misto de angustia e piedade. Ela precisa fingir ser feliz e realizada para convencê-lo a juntar-se ao grupo.

O pregador ofende-o com palavras rudes dizendo estar cheio de um “espirito santo”.

Os crentes do recinto olham-no com olhar de quem está pedindo socorro mas não podem verbalizar o pedido e por isso fingem que são felizes e que tudo está bem.

Com esse apelo intimidador, amedrontado e confuso o jovem decide dizer sim, sem saber que à partir de então sua vida se tornaria literalmente um inferno.

Primeiro, diante de toda igreja ele precisa confessar crimes quais nunca cometera. Isso é um ato de loucura, além de ser uma tremenda humilhação.

Obrigam-no a dizer publicamente ser um pecador, miserável, condenado ao inferno e que precisa de deus, daquele lugar e do líder daquela seita para ser salvo. Logo ele que desde criança tem sido um menino exemplar para seus pais, professores e vizinhos...

Levam-no até o altar para confirmar o pacto na presença do “homem de deus”.

Nesse instante ele percebe que está de joelhos diante do cara mais picareta de toda cidade: o pastor daquele grupo! O mesmo fora preso pouco tempo atrás, acusado de estuprar uma criança, solto dias depois por um “milagre divino”.

Fora isso, pesa sobre os ombros deste “ungido” várias acusações de envolvimento com mulheres casadas dos fiéis, além de já ter sido exposto publicamente como articulador de propinas de um grande partido político.

O pastor olha-o como se ele fosse um verme nojento e o obriga a repetir palavras mirabolantes que dizem selar um pacto celestial e eterno entre o jovem e o criador do universo.

Seus problemas só começaram.

Um vida de fantasia, fingimento, fuga da realidade e abandono da própria identidade o aguarda. Fora assim com todos ali. Com ele não será diferente.

Ele precisará encarnar um novo personagem dali em diante até o fim de seus dias. Terá de fantasiar lutar com demônios diariamente e que todo os “nãos salvos” e “pessoas sem deus” conspiram para sua perdição. Nenhum minuto de paz terá mais em sua alma por declarar essa batalha inglória contra inimigos imaginários.

Após levantar-se da oração, deram-lhe títulos como: herdeiro de deus, cidadão dos céus, povo de deus, povo santo e cover do próprio Cristo. Baseado nesse novo emblema ele precisa viver tais personagens, mesmo sem ter um roteiro claro do que fazer. É como como se o leite virasse instantaneamente café só por que alguém adesivou a vasilha.

Todos ali precisam fantasiar (ainda que não queiram) que o seu líder religioso é um cara descente, honesto, verdadeiro e que o criador do universo fala diretamente aos seus ouvidos. Por isso todos lhe devem respeito, honrarias e obrigatoriedade de servi-lo sem questionar. Todos precisam também doar frequentemente para esse líder, parte dos seus bens e de tudo quando conquistam, caso contrário o mesmo invocará demônios e maldições diversas para os afligir.

Há uma infinidade de podes e não podes que ele terá de concordar (ou pelo menos fingir aceitar). Tudo isso só por que disse sim ao pacto “com cristo”.

Foi a pior decisão de toda sua vida. Ele pensou consigo mesmo:

-Maldita hora em que cruzei aquela calçada. Quem dera não tivesse sido atraído por aquele corpinho juvenil e aquele olhar sedutor que me levou “a cristo”.

Ele percebeu com o tempo que a moça (assim como ele) era também uma vítima.

Percebeu que todos ali eram obrigados a usar suas falas e habilidades bem como recursos financeiros para atrair outras pessoas àquele recinto e quem não o fizesse era duramente ameaçado.

A boa vida do chefe da igreja dependia disto: de todos dizimando, trabalhando ofertando e contribuindo para que ele pudesse posar de sábio, bem sucedido e ungido do senhor.

Aos poucos ele foi descobrindo muitas outras coisas:

Descobriu que a dirigente do círculo oração dali era uma pessoa de dar pena: desempregada, morando de aluguel, marido preso, todos os filhos nas drogas, mal tinha o que comer dentro de casa e mesmo assim tinha de ocupar outras 5 funções na igreja, todas sem remunerações, consumindo quase 6 horas diárias do seu tempo.

Ela nascera na igreja assim como o seu esposo e todos os seus filhos e nenhuma das “promessas de deus” em sua vida havia sido cumprido, antes sim, ela reconhecia ter uma vida muito mais desgraçada que qualquer pessoa ali do bairro. Reconhecia que qualquer “puta” bem resolvida tinha uma vida melhor que a sua. Ela porém precisa fingir estar nadando em bênçãos mesmo tudo provando o contrário. Jamais podia sair do personagem.

Para confortá-la e fazê-la trabalhar de graça ainda mais, o pastor dizia em público que ela era um dos sustentáculo da igreja por ser uma “mulher de oração” e isso a deixava empolgada, mas só naquele instante, depois caía em si, e virava à noite em prantos lamentando a vida que tinha. No outro dia tinha que menti, fingir que passou a noite orando pela obra de deus.

Cada vez que saía da igreja em direção à própria casa caía na real: todos aqueles títulos nada significavam e nenhum proveito real poderia tirar daquilo. Nada que fazia na igreja ou pela igreja lhe gerava dividendos ou outras compensações, pelo contrário, esse era o motivo principal pelo qual o seu lar, sua casa e sua família vieram a ruir...

-Entregue tudo a deus e trabalhe pela causa de deus que ele irá cuidar de ti, de sua família e de tudo o que te pertence!

Era isso que o pastor dela sempre dizia!

Baixinho ela respondia:

-Vai tomar no olho do seu c*, seu mentiroso dos infernos! É por mentiras como essas que hoje vivo essa vida miserável! Quem a via balbuciar de longe, achava que ela estava falando em línguas estranhas, mas só estava xingando mesmo.

O seu pastor incentivava todos ali a trabalharem de graça pela obra de deus como prova de amor às coisas santas. Ele era o único que não amava a deus, já que somente ele era remunerado.

Apesar de tudo, ela precisava fingir ser forte e virtuosa...

Além dessa irmã, o jovem percebeu que todos os “fudidos pela causa santa” precisavam demonstrar a alegria de quem acabara de ganhar na loteria. Todo dia pediam oportunidades para contar bênçãos que nunca ocorrera e “livramentos” que qualquer pessoa (até a mais burra) pode evitar se tiver o bom senso no ato de prevenir acidentes.

Mas esses testemunhos eram todos encenações para atrair outros patifes àquela casa.

Cada iludido que iludia outro carregava consigo mesmo a culpa pela miséria alheia. Outros sentiam prazer de saber que não se ferrou sozinho!

Ele viu todo tipo de neurótico nesse ambiente: o que recitava o dia inteiro o salmo 23 e não tinha nem sequer um ovo pra comer dentro de casa, vivendo de programas sociais e ajudas de pessoas de fora da igreja; O que confiou piamente no salmo 91 e viu toda sua casa, família, empresa e saúde ruir num piscar de olhos e agora em um cadeira de rodas contemplava toda vida que deixara de viver e lamentava pelo péssimo investimento que fizera de sua juventude e seus recursos naquele personagem que fora obrigado a interpretar.

Vira o cara “zen”, o irmão o “manso e humilde de coração” que estava respondendo processo por tentativa de homicídio; Vira o obreiro da igreja, cuja esposa engravidara do diácono local e mesmo assim ele teve de abafar o caso para não macular a imagem da igreja...

Ainda assim, todos tinham que fingir serem protegidos de deus, prósperos, equilibrados e gente da mais alta patente, inclusive ele que tinha sido inserido naquele local doentio.

O que ele mais notou ali foi crente vagabundo, caloteiro, fofoqueiro, preguiçoso e desorganizado, pondo a culpa no diabo, nos gays, nos maçons e nos iluminatis, como se estes fossem os responsáveis por suas mazelas e do mundo todo.

Ele notou também que quando um membro da igreja pedia para deixar o cargo, era ameaçado pelo pastor que usava de citações bíblicas para intimidar o fiel.

Este sempre dizia:

-Deus pesará a mão em quem se recusar a fazer sua obra! Doenças, acidentes e mortes inesperadas poderão acontecer à qualquer momento contra os tais. Não sou eu quem estou dizendo, é o próprio deus...

Assim, todos tinham de voltar ao personagem “entregar-se à obra de deus” e encenar satisfação em tudo, como se fossem felizes vendedoras de flores nas esquinas da vida em dias de primavera.

Aos que se desligavam da igreja era montado uma força tarefa para trazê-los de volta ao grupo.

Versículos de prosperidade eram selecionados para encorajar. Caso não funciona-se, usava-se outros métodos com teor macabro. Desviar-se era fugir do personagem. Era inadmissível.

Todos deveriam permanecer fingindo felicidade e equilíbrio até a “volta de jesus”. Deveriam voltar às pressas para a igreja, pois caso permanecem fora, vivos e bem sucedidos longe do “aprisco”, seriam também uma prova clara da fraude que os outros estavam vivendo.

Caso o fugitivo retornasse, alguns mimos eram-lhes oferecido nos primeiros dias. Depois era tratado com a hipocrisia de sempre, recebendo o tratamento de um reles serviçal emporcalhado.

Era como se o enredo do roteiro “Baú de Davi Jones” fosse revivido todos os dias ali naquele recinto doentio e que todos fossem obrigados a integrar seus corpos ao casco daquele navio (igreja).

-Parte do navio, parte da tripulação!

Era como se ele (o jovem rapaz) ouvisse aquela aberração em forma de marisco gritar em seus ouvidos todos os dias naquela igreja, proibindo que todos viessem deixar a “casa de deus”.

Como no filme, ele percebera que ao entrar ali havia condenado a si mesmo a pisar em terra firme outra vez somente dali à 10 mil anos...

Enquanto isso, ele fingia todos os dias lutar com demônios, falar com anjos e deitar no colo do próprio deus e quem saísse do personagem sofreria nas mãos do diretor maluco, que guiando os tentáculos do “polvo de deus”, faria sofrer os que pensassem em abandonar tal embarcação.

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Texto escrito em 6/8/21

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

*Contatos, sugestões, elogios ou outras solicitações podem ser feitas pelo e-mail: revejaseusconceitos@outlook.com

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 07/08/2021
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