Meu pai!
Era dos sonhos de menina que surgia o meu pai.
Dos sorrisos mais profundos que não lembro de ouvir, nem sentir
mas tenho a certeza de que um dia já estiveram por aqui.
Meu pai não tive o prazer de conhecer, de abraçar, de com ele apenas poder estar e saber o seu jeitinho de ser.
Mas sei, quando sorria sentia em plenitude a felicidade que por hora existia.
Era ele, o meu pai, um menino apelidado de gringo, era dançarino, um sonhador.
Aquele que buscava realizações no amor, descobriu na vida um novo sabor, tão doce e cheio de amargor.
Por tudo aquilo que um dia pensou ser apenas flor, viu seus sonhos de menino caminharem quase sozinhos.
Pensava em construir o seu futuro, ser mestre, o de capoeira.
No ritmo do berimbau dançava, brincava, era músico, o menino.
Nas escadas desmaiou, assim que a notícia de que seria pai se revelou.
Tão rápido cresceu o menino, décimo primeiro filho de apenas dezessete aninhos.
Na busca de seus sonhos realizar solicitou, investiu, implorou, até empreendeu... mas cansou, o pobre menino.
Não via seus sonhos emergentes se concretizar.
A felicidade por hora virou tristeza. Uma doença silenciosa tomou conta de seus sonhos, levou sua esperança e desejo de presença.
Foi embora o menino, partiu sorrindo e desejando que seguíssemos por ele o nosso caminho.
Implorou a lembrança de que sempre foi e será ele, o meu pai, o tal do gringo. Um amante de seus sonhos, o capoeirista, um bom menino.