Tempo bom que não volta mais
Meus olhos se enchem de lágrimas, enquanto escrevo este nostálgico texto ,lembrando dos dias felizes que passei na casinha simples de meus avós maternos ,numa chácara do interior.Até meus 12 anos,sempre passava as férias escolares naquele lugar modesto,porém aconchegante ,feito de tijolo e barro e chão batido.Lá não existiam luxo nem ostentação ,mas também não havia miséria ,pois nada faltava.Praticamente todos na vizinhança andavam a cavalo ou em carroças, e quase não se viam carros ou motocicletas .Não havia energia,a casa era iluminada por lampiões e velas ,e no inverno era aquecida pelo velho fogão campeiro da minha querida avó .Ali ela preparava as comidas mais saborosas da minha infância,e pela manhã esquentava o leite fresquinho, recém tirado das vacas ,e preparava o delicioso café com leite que eu adorava e sempre pedia bis. Lembro de meu avô tomando chimarrão com as visitas e mandando que eu brincasse na rua, porque "a sala era para os adultos" .Lembro também de brincar com meu gado de osso e fazer cuia e chaleira de sabugo de milho.Acreditem ,não eram necessários brinquedos caros para se divertir, pois a imaginação era nossa melhor amiga. Não esqueço do vovô me levando numa carroça com roda de ferro ,ao armazém do seu Ari ,onde comprávamos os mantimentos do mês. Lá se vendia de tudo: arroz ,feijão, farinha açúcar a granel e massa espaguete embalada em papel ,até ferraduras ,arreios , rações ,cordas ,veneno para pulgas e carrapatos ,roupas e até remédios.Voltávamos para casa abarrotados de bugigangas ,e no caminho eu me deliciava com as histórias incríveis contadas por ele. Foram momentos inesquecíveis que vivi naquela casinha humilde ,mas de gente feliz e batalhadora ,que suava na lavoura e cuidava dos animais, mas não deixava faltar nada para os filhos e netos como eu. Tudo acabou quando minha amada avó, já viúva e cheia de problemas de saúde ,teve de vender sua propriedade e mudar para a cidade,para morar conosco.Nunca mais vi a mangueira ( cercado onde o gado ficava confinado à noite ) lotada de animais.Sinto falta das ovelhas ,vacas ,bezerros,dos cavalos no estábulo, do paiol ( celeiro ) nos fundos da casa, cheio de milho ou feijão.Não esqueço o velho pé de Coronilha ,árvore que trouxe sombra e ar puro para gerações de nossa família. Também sinto falta da "sinfonia" dos porcos,galinhas ,patos ,gansos e outros animais,que pela manhã nos acordavam com uma espécie de coral ,felizes e ansiosos na hora da primeira ração do dia.Também lembro do meu avô ao fim das férias, nos levando naquela velha carroça puxada por dois cavalos, em direção à estrada principal,onde embarcávamos no ônibus que nos levava de volta à cidade grande. Não preciso dizer que a saudade nos acompanhava nesses momentos,e uma lágrima teimosa insistia em rolar pelo meu rosto. Tudo isso ficou para trás ,quando a casa de minha amada avó foi demolida ,e dela só restaram escombros .Mas as boas lembranças da infância privilegiada que ali vivenciei ,essas ninguém tira ,nem mesmo o tempo conseguiria, e elas irão permanecer para sempre em minha memória. Foi uma época muito feliz da vida deste outrora menino, que sequer sabia o quanto era rico,e hoje daria tudo para voltar no tempo...