Coisa do Mutarelli
Parte #
[11:15] Procuro um relógio. Intui ser tarde. O sol reflete em sombras. Tive outro sonho. Era um professor “serial killer”. Vivia um amor por uma professora. Ela o rejeitava. Matava quem a rodeava. Anota o sonho. Quem sabe o sonho vira um conto. Desiste. A ideia é ruim. Risca o escrito. Guarda só o rabisco. A imagem tem um charme. Tira uma foto. O sonho cabe na foto. A ideia é estranha. Apaga a foto. Rasga o papel. Fica aliviado. Procuro por comida. Na geladeira, sal e água. Quem guarda sal na geladeira? “O sal da terra”. Lembra da catequese. A mãe nunca aceitou ter interrompido. O pai não se importava. Do sal recorda da luz. A conta de luz está atrasada. Considera a hipótese de não pagar. A porta da geladeira segue aberta. A luz está acesa. Esqueceu o que procurava. Acende um cigarro. Ama fumar. Aprendi a ter medo do verso do maço. Coisa do Mutarelli. Evita não acreditar. Vai saber. O futuro pode estar nas cartas. O pai dizia saber ler a mão, não as cartas. Nunca ensinou. Falava de uma vida longa. Nunca acreditei. Todos desejam uma vida longa. Nunca entendi. O pai contava muitas histórias. Não tem fotos. Nunca leu a Bíblia. Ainda não sabe como ele desapareceu. Sente-se um natimorto. Apaga o resto do cigarro. A barriga ronca ou era a sua boca? Sente um cheiro repugnante. É o ralo. Coisa do Mutarelli. Espera o almoço ficar pronto. Faz sua prece.