Vacacaí

Acordo animado. Estranho. Ideias por toda a parte. Sonhei que estava no anexo secreto de Anne Frank. Não era ruim. Penso nos judeus. Penso nos escritores judeus. Quase todos com Nobel de literatura. Engraçados e inteligentes. Admiro a perseverança dos judeus. Sou um bugre. Minha avó era do Paraguai. Lavava roupa do patrão no riacho perto de seu casebre. Rezava, mas não sabia ler. O patrão era muitos. Pagavam por trouxas de roupas. Trouxa é uma palavra curiosa. Gostaria de saber se as pessoas rezam e se rezam para quem. Coisa do Mutarelli. Há livros sobre judeus. Muitos. Também sobre negros, homossexuais, futuro distópico e outras alegorias. Penso: livro de um bugre. Sem regionalismos. Uma narrativa de andanças. De todos os bugres daqui. Escreve. Escreve. Escreve. O protagonista tem nome: Jagunço. Nascido em uma Sodoma qualquer. Na andança, Jagunço descobre que é guarani. É tratado como uma aberração. Sujo. Selvagem. Pagão. No final da história, mergulha nas águas do Rio Vacacaí e some. Não parece distopia. Relê o escrito. Aprecia. Não é um Nobel. Coisa de colonial. Envia para muitos editores. Só um responde. Diz: queime-o. Cansado dorme como um burguês.