O LOBO MAU, OS TRÊS CRÉDULOS E O INTELIGENTE

Uma história ilustrada do período de quarentena

Por Antônio F. Bispo

Em certo país continental desse pálido ponto azul viviam 4 irmãos filhos de uma mesma mãe.

Eles cresceram e se multiplicaram formando famílias que agiam e pensavam de acordo com os seus antepassados. Mesmo diferentes, em uma ou outra ocasião a vida os juntavam sob algum ponto em comum. Catástrofes e misérias coletivas estavam nessa lista.

Três deles eram crentes (vivendo vivam pela crença, veneração, euforia e loucura) e outro se tornou um pesquisador, vivendo pela observação, pesquisa e métodos científicos.

Por não ter tempo e interesse de viver relacionamentos triviais, os filhos desse último grupo se reproduziu menos e poucas moças se interessava por eles, pois os julgavam antiquados e antissociais.

A mãe desses irmãos havia dito desde cedo que o mundo era perigoso e para se proteger das constantes ameaças, eles deveriam construir casas sólidas e desse modo deu a todos recursos suficientes para fazê-las. Eles construíram conforme a realidade em que estavam inseridos.

Três desses fizeram suas casas usando como matéria prima apenas suas crenças religiosas ou populares e se diziam protegidos para qualquer tipo de situação. O último decidiu fazê-la usando a ciência e sempre que necessário ele fazia reparos, enquanto os outros, achando-se em segurança absoluta pelas suas crendices, jamais se importara em rever os seus próprios conceitos.

Por milhares de anos vários monstros rondavam as casas dos 3 irmãos crédulos, devorava alguns de seus membros e mesmo assim eles se achavam seguros por que suas casas ainda continuavam de pé.

Em certa ocasião da história apareceu um grande lobo mau chamado Coronga19, que ameaçou devorar a todos de todas as casas. Esse monstro crescia e ganhava forma à medida que se alimentava das pessoas e dos seus medos. Quando ficou grande o bastante já não queria apenas devorar pessoas, mas derrubar suas casas e deixa-las desoladas e vulneráveis.

O primeiro irmão havia feito sua casa de AMULETOS: feijões mágicos; água, vassouras e chaves ungidas e tantos outros “produtos da vitória” que charlatões vendia nas redondezas.

“Pela fé, tudo venceremos”! Eles diziam ao comprar tais objetos.

Além disso, crendo na doutrina da prosperidade, essa família por longos anos estava pagando por um serviço de proteção invisível e especial. O vendedor dizia que o produto seria ativado somente quando necessário. Por esse serviço eles tinham de pagar 10% eternamente de tudo o quanto ganhavam ou produziam. Os vendedores ameaçavam desativar o serviço caso eles atrasassem o pagamentos. Eles garantiam 100% de proteção aos usuários que mantivessem seus pagamentos em dia. Carro, casa, família, casamento...eles diziam que esse seguro tinha proteção completa para tudo isso.

Mesmo com toda essa cobertura especialmente invisível, os filhos dessa casa ainda compravam por fora várias outras mandigas como dentes de alho, pés de coelho, rezas-brabas e um número sem fins de simpatias e horóscopos. Outros ainda pagam pelo caríssimo pacote da doutrina da prosperidade, que consistia em fazer apostas semanais em fogueiras santas e outros “fundos de aplicações” das igrejas cuja única pessoa a prosperar realmente com esse produto era o próprio idealizador e seus milhares de distribuidores espalhados por todo o mundo.

Quando o coronga chegou no mundo, essa foi a primeira casa que ele visitou e ameaçou devorar a todos dizendo:

-Vou soprar e soprar e essa casa cairá!

Os crentes dessa casa riram muito e disseram:

-Você é um bobão! Pode soprar o quanto quiser! Nossas crenças e nossa “seguro invisível” nos protegerão. Somos um povo escolhido e nenhum bicho papão nos fará mal algum!

E riram do lobo...

Com o primeiro sopro do lobo essa casa caiu.

Acontece que o serviço de proteção especial, além de invisível era também inexistente! Eles perceberam que por anos foram logrados por esses vendedores picareta.

Quando a casa tombou o lobo devorou vários desses irmãos, inclusive os que venderam ou fizeram propaganda enganosa dessa proteção especial.

Todos os sobreviventes dessa casa correram para a casa do segundo filho.

Estes por sua vez havia usado para construir sua residência outros produto da crença humana: frases de efeito, chavões, citações de famosos, provérbios e vários salmos bíblicos.

Eles se diziam mais independente e autônomos, afirmando que podiam ou não optar por comprar a proteção invisível da primeira casa.

Diziam ter a solução para qualquer tipo de problema na vida usando uma frase de impacto ou bordões mundialmente aclamados. Quanto mais repetida era uma citação, mais eles criam em sua eficácia.

Então o Coronga também bateu nessa casa e disse:

-Vou soprar e soprar, até derrubar...

Assim como os outros, esses crédulos também riram dele e disseram:

-Pode soprar. Não tem problema. Estamos zem! Temos pensamentos positivos e podemos vencer qualquer coisas com o poder de nossas fé, nossas boas vibrações e emanações de luz do nosso chacra.

Então o lobo começou soprar.

Eles usaram os salmos 91,23, 125 e tantos outros versículos bíblicos de impacto mas não surtiu efeito algum. Recitaram mantras, fizeram benzimentos mas também não funcionou. Fizeram citações isoladas de Buda, Confucios, Napoleon Hill, Dale Carnegie mas não deu. Citaram vários “coachings de sucesso” da atualidade e mesmo assim... Usaram frases lacradoras de várias celebridades da mídia moderna e nada!

Depois de alguns sopros então a casa caiu e o lobo devorou muita gente dessa segunda casa que já comportava irmãos da primeira.

Agora havia dois grupos de irmãos desiludidos. Uma parte deles grupo decidiu ir direto para a quarta casa depois da segunda decepção e outros foram para a terceira.

A terceira casa parecia ter uma solidez maior. Parecia estar embasada numa estrutura sólida, porém a maioria ali era movida pelos mais baixos sentimentos humanos, enquanto julgavam estar sendo politicamente correto. Ódio, raiva, paixão, perseguição e desejo de vingança era o principal produto consumido por eles. Podiam abraçar-se ou alfinetar-se pelos mínimos motivos.

A casa era sustentada por dois pilares: um pilar esquerdo que dizia que a melhor maneira de proteger a todos e espantar o lobo era banhando-se em álcool-gel, usando máscaras até no sovaco e fazer um lockdown eterno, sem data definitiva pra acabar ou meios lógicos de suprir outras demandas básicas da família.

A coluna direita da casa defendia que o bicho papão seria expulso pela cloroquina, ivermectina e com o sacrifício milhares de “bois de piranhas”. Para isso elegeram até um representante-mor e o aclamaram como o messias brasileiro.

Esses dois irmãos passaram meses digladiando-se, disputando o controle da casa e o melhor método para espantar o mal. Sempre movidos pela loucura e pela paixão e loucura de ambos os lados. Enquanto isso o lobo mau ia levando diariamente milhares de seus filhos.

O lobo decidiu não derrubar essa casa, mas usar a crença que eles tinham nesses métodos para traga-los em seu próprio território. A casa destes continuou de pé, porem com portas e janelas abertas e o lobo entrava e saia sempre todos os dias com dois milhares nos dentes.

Na primeira coluna (a da esquerda) notava-se muita hipocrisia: os que publicamente pregavam o isolamento, às escondidas promoviam festas coletivas e depois iam á público pedir perdão e fingir arrependimento.

Alguns desses causavam até ascos nos outros, pois viveram durante toda vida de modo louco e irresponsável e de uma hora para outra se tornaram mestres da moralidade só por que publicamente usava ou defendia o uso de máscaras e passavam álcool-gel até no olho do C*, como se isso encobrisse a burrice de toda uma vida anterior ou como se o uso desses dois itens transformasse um vigarista num santo em um estalar de dedo.

Alguns se tornaram desumanos e violentos contra quem por descuido (ou pirraça) não usava esses intens. Em defesa da vida, eles ameaçavam outros até com a morte.

Se revoltavam, faziam sermões, textões, ou postavam vídeos nas redes sociais mostrando o quanto eles eram santos. Defendiam que todos os tipos de comércios e serviços fossem fechados, acreditando que de forma milagrosa a comida e outros itens básicos iriam ser produzidas, embaladas e distribuídas por conta própria na casa de todos os povos da terra.

#fiqueemca# (hast tag fique em casa)!

Era esse o slogan principal desse grupo. #Foramito era o segundo!

Até os que enxiam o rabo de cachaça e depois ia dirigir bêbados provocando acidentes postava isso como se fosse um santo.

O cara que matou, roubou e estuprou, também; Os que defendiam o aborto deliberado também estavam lá defendendo a vida por meio da máscara e do isolamento. Até o político acusado de desviar milhões em verbas da saúde estava lá pousando de santo, surfando na ira e nas paixões alheias para se promover.

“Prisão, lixamento e espancamento a qualquer um que desobedecer o isolamento e for trabalhar para sustentar a própria família” ... Dizia o artista milionário, as celebridades virtuais e alguns servidores público com salários altíssimo.

A outra coluna (a da cloroquina) era apenas um versão besta e negacionista dessa outra, porém igualmente movida pela crença e paixão exagerada por algo, alguém ou uma ideologia.

A princípio eles negaram os fatos (dizendo que esse lobo mau não existia). Depois disseram que logo ele ia se cansar e iria embora. Depois, recomendou remédio milagroso como salvação universal para esse problema.

Mediante o número de vítimas, a ineficácia do produto e o tribunal montado para julgar as ações destes últimos, eles afirmaram nunca ter dito nada do que disseram e que sempre defenderam a ciência.

No tribunal, era como se o sujo estivesse falando do mau lavado, mas pelo menos isso serviu para que todos caíssem na realidade e procurassem a casa do quarto irmão, aquele que todos esqueciam, o que era antissocial mas que já tinha salvado a todas as outras casas diversas vezes.

Nos embates, o grupo A defendia o que a mídia reproduzia, enquanto o grupo B reproduzia o que o mito falava.

O grupo A dizia ao grupo B:

-Vai mostrar sua cloroquina pras emas!

O grupo B respondia:

-Envia sua máscara no C*!

Entre esses fecha tudo / abre tudo; o fique em casa e seja hipócrita; ou o salve-se pela cloroquina, o lobo mau levava sobrevivente dos dois lados de uma mesma casa todos os dias...

No momento em que o quarto irmão foi reconhecido como tendo a estrutura mais sólida para abrigar a todos, um novo horizonte surgiu.

....

Essa história ainda está em curso.

O surgimento desse “super lobo mau” fez com que todas as estruturas sociais fossem revisadas. Uma nova sociedade está surgindo. Os deuses e suas utilidades serão revistos e as formas de fazer política baseada nas paixões outras emoções primitivas ganharão outros rumos. Permaneça vivo e assistam ao novo capitulo!

Até breve!

Texto escrito em 25/6/21

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 25/06/2021
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