DEUS É UMA NECESSIDADE

Nas palavras de Ariano Suassuna, "Deus pra mim é uma necessidade".

"Eu não conseguiria conviver com essa visão amarga, dura, atormentada e sangrenta do mundo. Ou existe Deus, ou então a vida não tem sentido nenhum. Bastaria a morte pra tirar qualquer sentido da existência."

Fato corriqueiro em minha existência é pensar no fim dela. Penso em minha mãe, já de mais idade; em minha pequenina irmã, de idade completamente contrastante com a de minha mãe; penso em minha própria vida, repentinamente esvaindo-se.

Pensar no fim da vida é pensar também em seu sentido - ou na falta do mesmo. E esse pensar é de um insustentável pesar. Camus escreveu: "[...]O suicídio é apenas a confissão de que a existência 'não vale a pena'. Viver, naturalmente, nunca é fácil. Continuamos a fazer os gestos que a existência ordena, por muitas razões, a primeira das quais é o hábito. Morrer voluntariamente implica reconhecermos, mesmo instintivamente, o caráter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o caráter insensato dessa agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento".

Olhar para o mundo - não precisa-se olhar de forma geral, basta olhar ao redor - e ver a miséria alheia - e a nossa própria - é de uma inexplicável sensação de revolta e principalmente impotência; e essa sensação de impotência, muitas vezes, tira nossa razão e esperança de se viver. Por que (ou como) vou viver se não há o que fazer a respeito de absolutamente nada? A corrupção política, que tira incontáveis vidas ao longo de cada ano, vai continuar, sempre. A fome irá perdurar para o resto de nossas vidas. A pobreza será um eterno corolário da ganância do homem. Leandro Gomes de Barros diz, melhor do que eu jamais poderia dizer, o que almejo expressar:

"Se eu conversasse com Deus

Iria lhe perguntar:

Por que é que sofremos tanto

Quando viemos pra cá?

Que dívida é essa

Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também

Como é que ele é feito

Que não dorme, que não come

E assim vive satisfeito.

Por que foi que ele não fez

A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes

E outros que sofrem tanto?

Nascemos do mesmo jeito,

Moramos no mesmo canto.

Quem foi temperar o choro

E acabou salgando o pranto?"

O "único problema filosófico verdadeiramente sério", portanto, não seria o suicídio, como Camus propõe, o não único, mas talvez o mais sério, seja o problema do sofrimento e do mal.

Há como viver-se feliz vendo que o outro, com seus 7 anos de idade, já precisa embrenhar-se nos nossos despejos para conseguir achar algum resto de comida que porventura não mais nos satisfez em algum momento?

A vida, olhada fria e cruamente, de fato não tem sentido algum. Nascer, aprender a viver, estudar, trabalhar, formar família, aposentar, envelhecer, morrer. E nesse ínterim entre nascer e morrer, sofrer. A vida é um eterno ciclo completamente vazio e sem sentido.

Essa seria a visão de mundo mais melancólica possível, felizmente não é a minha. Agora, imagine todo esse caos sem a esperança de que existe alguém, mesmo em meio a todo esse pandemônio, no controle de absolutamente tudo. Imagine passar por isso tudo e achar que todo esse sofrimento tem um fim em si mesmo, que é simplesmente tudo em vão.

Aqui eu sou Suassuna: "Eu não conseguiria conviver com essa visão amarga, dura, atormentada e sangrenta do mundo". Pelo menos para mim, a loucura - ou o suicídio - seria um caminho irrevogável. Nesse sentido, por uma carência minha é que, para mim: DEUS É UMA NECESSIDADE.

Victor de Araujo
Enviado por Victor de Araujo em 18/06/2021
Código do texto: T7281346
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.