Aquilo que não se pede a um eclipse.

Das coisas que a vida nos tira a mais dura de aceitar é a inocência. É como um estalo. De repente, sem hora marcada, sem avisar a inocência boa deixa para dar lugar a uma ânsia maliciosa, quase um veneno. Este, por sua vez, nos verte em sigiloso compromisso como quem nos treina para um futuro ilusório. E assim, vamos vivendo, aprendendo, carregando culpas e escondendo para debaixo do tapete resoluções que nos aproximariam da criança que um dia fomos se, atentos, nos dispuséssemos a agir sempre no agora. Mas, imeditismos resolutivos não combinam com a ilusão. É preciso um tanto de postergação e autoboicote para sustentar-se no acordo tácito da normose. Ser adulto, talvez, signifique ser medíocre. Ser adulto, talvez, signifique também negar toda mediocridade. Quem está certo? Não sei. Toda verdade imposta é arrogância. Na grande maioria das vezes,estamos apenas lutando para sobreviver a cada dia de um modo que nossas escolhas não pareçam ofensivas. Quase tudo é medo, receio. Quase tudo nem é. E quase tudo é só uma tênue linha que divide as nossas águas internas e externas. Nos cabe escolher buscar. E ao encontrá-la, tomamos também a agulha para descobrir: Qual das marés nos domina mais? Aquela da saudade doce da nossa inocência, cujo o tempo trata de amargar ou aquela da amargura que se adoça com o tempo, depois de percebermos que a criança nunca nos abandonou? Luz e Sombras caminham juntas, em Equilíbrio. Nos cabe a coragem de enfrentar o desconhecido para descobrir o que está eclipsado em nós.