Como se deu ? (breve desabafo)
E foi assim. Tudo, desde que a luz foi apagada, recobriu-se de um mistério que ninguém ousava desvendar. Corria, à boca pequena, como se diz, sem querer dizer, que, de certa maneira, o ocorrido não é de todo desconhecido. Afinal não se pode dizer que determinado fato é ignorado quando, mesmo que referido de maneira transversal, dele, e a ele, se recorre mesmo nas mais comesinhas discussões. Porém, e, em nome da boa etiqueta, ninguém, mesmo que inundado de oceânica curiosidade, se dispunha romper a fronteira da discrição, como já disse, em nome da boa etiqueta, se dissimula com profissionalismo e a benção do Senhor. Por muito tempo, e por gerações que superavam a conhecida linha do tempo, o mistério se acentuava. Tanto tempo já se passara, que ninguém seria capaz de dizer donde tudo começou. Todavia, e para manter acesa a curiosidade, trechos menos comprometedores, começaram a aparecer no jornal local. Tanto assim se deu, que rodas de apostas se formaram. Cada qual, como num jogo de adivinha, passou a dar versão própria ao enredo que melhor atendia a premissa apontada. E quanto mais grupos se formavam, mais comprida, confusa e mirabolante a história ficava. Para uns, que se apresentavam como parentes dos envolvidos, a narrativa não era nada de nadinha como contada. Para outros, que se diziam interessados apenas, e nada mais, na verdade dos fatos, o negado por um grupo era, a bem da verdade, sempre a bem da verdade, um estratagema para ludibriar o esclarecimento do que ocorrera. Fato é, dizia um terceiro grupo, que ninguém sabia o que realmente ocorreu, mas..., e considerando as premissas apontadas, pode-se, com base em fortes convicções, dizer quê o que parece, só parece, portanto, de conclusão, somente aparências. Ao ouvir tais palavras, sem que delas, o magistrado pudesse sentenciar com clareza cristalina, e atendendo a pedido de facção amiga, determina que tal qual se observa do que convictamente se apresenta, os fatos seguiram como o apresentado pelo interessado. Porém, não sendo possível determinar com precisão, e carente de provas robustas, portanto, indeterminado, preciso se faz aceitar da maneira descrita, assim, para que o plano traçado não se perca em comesinhas desnecessárias, condena-se. Feita tais afirmações, o sentenciante, após breve período de protagonismo governamental, e se vendo a beira do abismo ético, foge para outras paragens. E a urbe, sem ter outro herói a se apegar, cega e perdida, vocifera seus arroubos em nome de certezas pandêmicas. Como órfãos abandonados pelos país, carentes de senso crítico e inundadas de preconceitos, se tornam sombras de si próprias, e como zumbis, perambulam atrás de mitos, porque sem alma e sem essência humana..