Por que a cultura japonesa encanta os brasileiros?

Por causa do temperamento que emana da sua tradição. Vejamos o ideal de um samurai. É um guerreiro corajoso que foca toda a sua vida na busca da perfeição da postura de guerreiro, na técnica marcial. Os rituais bem definidos demonstram isto. Eles não existem somente por um capricho mas porque não é possível chegar a um ideal sem uma rotina.

Para sabermos qual a postura ideal com relação a uma atividade precisamos praticá-la várias vezes seguindo uma rotina. Podemos tomar como exemplo o preparo de uma refeição. Alguém que nunca preparou um macarrão não saberá fazê-lo sem consultar uma lista dos passos (receita).

No ocidente isto foi desvalorizado. Filósofos e sociólogos revolucionários resolveram apontar as rotinas e rituais como formas de aprisionamento. Havia neles a intenção de reestruturar a sociedade e, para isso, é necessário alterar também seus alicerces. Divertir tornou uma palavra importante, principalmente ao esconder o que realmente significa. Origina-se do Latim divertere,”voltar-se em outra direção”, formado por des-, “ao lado”, mais vertere, “virar-se, voltar-se”. A idéia aqui foi a de “voltar a cabeça” para outro lado que não sejam as preocupações (site Origem da Palavra). Não preciso dizer que parte da classe “intelectual” brasileira abraçou isto com todas as forças.

O sentido original das palavras nunca pode ser ignorado. Aqueles que apelaram a uma sociedade mais divertida não ignoraram o fato de que para se divertir era necessário olhar para outro lado. O que quero que notem é que quando olhamos demais para o outro lado deixamos de ver justamente aquilo que está no centro e o que está no centro é justamente aquilo que os filósofos e sociólogos revolucionários não querem que você veja.

O que estava no centro para os japoneses do tempo dos samurais não era apenas hábitos criados por patriarcas com o objetivo de “amarrar as asas” das pessoas de sua sociedade. Era sim a única forma de garantir a sobrevivência. Qualquer aldeia que fraquejasse seria dominada por outro clã que poderia não ter misericórdia dos antigos moradores. Para os ocidentais outra coisa, ou melhor, pessoa deve estar no centro e, caso você não saiba de quem estou falando, não adiantará em nada eu dizer-lhe.

Agora, olhando pela teoria dos 4 temperamentos temos como método a resposta a duas perguntas para colocar cada pessoa em determinada categoria, sendo elas colérico (um tipo muito ativo e focado), sanguíneo (um tipo muito ativo porém sem foco), melancólico (um tipo de pouca ação e muito foco) e fleumático (um tipo sem ação e foco). Há diversas formas de questionar alguém na tentativa de classificá-lo, usarei as seguintes; quando algo te impulsiona a agir este impulso é forte? Quando algo te impulsiona a agir este impulso é duradouro? Conforme a resposta podemos ter uma idéia do tipo de temperamento dominante daquela pessoa.

Agora, quando pensamos em um brasileiro médio, qual seu comportamento? Justamente pensamos no brasileiro como aquele sujeito que está acostumado a deixar tudo para lá. E isto encaixa-se perfeitamente no temperamento fleumático. O que parece um povo muito cordial e conciliador é, em muitos momentos, apenas um povo que, em vez de querer agradar, simplesmente teme o conflito e o desgaste que ele traz.

Já o guerreiro samurai tem o comportamento oposto, é um colérico. Tem muita energia e foco. Que aquele que não faz sempre admira o que faz é um lugar-comum que chega a não ser percebido por tão comum que é. Quem nunca, quando criança, parou para admirar aqueles que trabalhavam? A admiração da cultura japonesa é, em boa parte isto, um fraco que desejaria ser poderoso.

Justamente por isto que tipos como Neymar, Maradona, Mike Tyson ou Pablo Escobar são, em parte, admirados. Por causa da impressão de que chegaram ao topo levando uma vida leviana. No fundo este é o sonho de muitos brasileiros, chegar ao topo sem fazer esforço. O sonho do samurai, por seu esforço, ser útil na hora da batalha. E o sonho do santo, qual é? Mostrar que o mérito é do Onipotente.

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