Um Mundo Composto de Eventos e a Ausência do Tempo

Tema – Ciências Físicas

Mudança é o que o Cosmo é. A concepção de um “Cosmo” estático e até certo ponto ordenado, expressão esta que tem a significância transliterada do grego para nosso idioma, para “ordem”. Representa uma conceituação errônea e que não representa a realidade apresentada e coadunada com a experimentação prática. Seguramente em se tratando da dimensão cósmica “tempo”, denotamos que ela não é uniforme, pelo contrário é cotejada e sofre ação direta da matéria que curva o espaço cósmico, não tem direção (pois na física atômica denotou-se que as partículas vão do presente ao passado e vice-versa em movimentos de spin). Nada do colocado aqui, evidentemente de uma forma superficial, caracteriza e desfigura a identidade de que o Cosmo é uma rede intrincada de acontecimentos que basicamente agem no sistema causa-efeito. O tempo é uma coisa, e está imbuído de suas particularidades e determinações físicas, a relatividade é uma delas claro; outra coisa totalmente diferente é de que as coisas (fenômenos) não são, elas simplesmente acontecem.

As equações fundamentais da física nem sempre levam em conta a variável tempo. Evidentemente tais equações não retratam uma realidade de um mundo (Cosmo) estático, parado. Representam um mundo em mudança constante e que não necessariamente depende do tempo, pois os acontecimentos não se sucedem em perfeita ordenança retratando uma realidade newtoniana, eles ocorrem desordenadamente, num caos criativo e incessante.

A ocorrência dos eventos naturais, tem particularidades difusas, dispersas, mas não são estagnação. Relógios colocados lado a lado num mesmo ambiente e sincronizados, andam juntos na marcação horária, mas quando afastados, cada qual marca o “seu próprio tempo”; como se cada corpo seria uno no macrocosmo e mergulhasse na sua própria realidade física temporal, mas da ótica quântica do microcosmo, estivesse ligado com tudo, e em constante interação molecular. Evidentemente um paradoxo violentador dos sentidos mais aguçados.

Aristóteles afirmou que o tempo; é a medida da mudança. Podemos escolher diferentes variáveis para medir o tempo, mas nenhuma retratará o tempo que conhecemos, e isto não elimina o fato de que o mundo está sempre em processo de mudança.

A evolução científica atingida pela civilização, indica o fato cada vez mais clarificador de que o tempo é mudança e não estagnação, e que os eventos acontecem e não são. O mundo não é um conjunto de coisas, mas sim de eventos que sucedem-se nem sempre ordenadamente. As coisas têm a faculdade de permanecerem no tempo, a sua temporalidade a faz propriamente existir ante nossos olhos e sentidos; ao ponto de os eventos têm uma duração limitada e transcendes os sentidos e a questão temporal.

Uma “coisa”, é uma pedra por exemplo. Ela está localizada na dimensão tempo e podemos visualizá-la hoje e questionarmos se ela estará amanhã no mesmo local de hoje. É um questionamento totalmente pertinaz de ser feito e possível de ter uma resposta “plausível”, diria eu, do ponto de vista sensorial humano. Um evento é algo que escapa a percepção materialista sensorial, ele é dotado da eternidade enquanto ele dura, o tempo não tem domínio sobre ele. Um evento podemos exemplificar como, um gesto de amor de carinho de um indivíduo para com outrem, ele não pode ser quantificado e é totalmente sem sentido perguntar onde ele estará amanhã. O fato é que ele simplesmente aconteceu e não pode ser capturado pela dimensionalidade temporal.

Fonte: A Ordem do Tempo – Carlo Rovelli

Daniel Marin RS
Enviado por Daniel Marin RS em 26/04/2021
Código do texto: T7242029
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