A falha de Nassim Nicholas Taleb: O Paradoxo da Antifragilidade

NASSIM NICHOLAS TALEB

É sensacional quando encontramos algum autor capaz mudar a maneira com que vemos o mundo, ao longo da minha vida me deparei com alguns. O último, o mais prolífico, de leitura mais agradável e o mais influente é o Nassim Nicholas Taleb . Ele publicou uma série de livros que me apresentaram a diversos conceitos interessantíssimos como Cisne Negro, Fragilidade/Antifragilidade, Pele no Jogo, Iatrogenia, Mediocristão/Extremistão, Cauda Longa/Cauda Curta, Efeito Vencedor Leva Tudo, Viés do Sobrevivente, Falácia da Narrativa… Segundo Taleb todos os livros da série Incerto giram ao redor de um mesmo tema: como sobreviver em um mundo governado pela aleatoriedade. Mas a série Incerto também pode ser vista de outra maneira, como um grande esforço contra uma maneira de ler o mundo, uma maneira representada pela visão Platônica (a qual ele acusa de ser fragilista). Se apoiar em práticas consagradas pela experiência (por heurísticas coletivas ou privadas e bom senso) é prudente, ao passo que se apoiar em teorização leva à sensação de segurança, esconde a aleatoriedade do mundo e nos torna frágeis. Neste ensaio mostrarei que mesmo considerando a advertência de Taleb é válida sua teoria tem uma falha central.

SKIN IN THE GAME - PELE NO JOGO

Meu desconforto com Taleb veio no primeiro livro que li dele, Skin in The Game (pele no jogo). A tese do livro é a de que as pessoas que tem a pele no jogo são habilitadas para falar sobre o que está em jogo, pois elas sentem o peso de suas decisões. Mas em diversas áreas os tomadores de decisões (ou mesmo os acadêmicos que os influenciam) não tem a pele no jogo. O Estado, por exemplo, é governado por quem não sente as consequências diretas de suas decisões. Um general dos EUA que lidera uma guerra confortavelmente de sua poltrona, está longe de uma granada, de um míssil ou da visão do sangue das vítimas inocentes. O CEO de um grande banco recebe bônus quando o banco tem grandes lucros, mas quando toma prejuízo o Estado vem salvá-lo. Na crise de 2008 os bancos que foram socorridos (caso contrário iriam quebrar) deram bônus aos seus CEOs.Taleb defende que os “ternos vazios” não deveriam ser os responsáveis pelas tomadas de decisões uma vez que sua pele não está no jogo. Ou eles poderiam tomar as decisões, mas apenas se sofressem suas consequências (caso em que deixariam de ser “ternos vazios”). Para entender meu incômodo em relação ao livro é importante notar o lugar de fala do autor.

AS CREDENCIAIS DE TALEB

Taleb trabalha como gerente de riscos, por muito tempo ele operou na bolsa. Lá ele percebeu que o conhecimento acumulado e passado na prática era mais usado que o conhecimento empírico. Seu principal objetivo era permanecer no jogo (primeiro não ir à falência). Seu olhar ganhou muito destaque a partir da crise de 2008, especialmente porque ele detectou fragilidades no sistema e passou a alardear (inclusive para o governo) tal situação. Assim passou a ser conhecido por “prever” a crise de 2008. Curiosamente em uma entrevista em 2020 também o “acusaram” de ter previsto o coronavírus - pois em um livro ele adverte sobre os riscos de uma nova pandemia como a de, por exemplo, a de um novo coronavírus. Mas, como veremos neste ensaio, Taleb é avesso a previsões e, portanto, nega tê-las feito. Creio que aceitaria que se dissesse que ele “apontou fragilidades no sistema.”

MEU INCÔMODO

Taleb tem a pele no jogo no sistema financeiro. Mas em seus livros ele fala a respeito de educação, saúde, economia, arte… Será que sua pele no sistema financeiro o habilita a falar de temas tão diversos? Neste ensaio veremos porquê e em que medida ele se sente habilitado a falar sobre tais temas. Também veremos porque apesar de estar certo a respeito das orientações em geral sua tese tem uma falha central.

CONVERSA DE BOTECO/WHATSAPP

Tive uma conversa de boteco, mas devido à pandemia não encontro meus amigos fisicamente, então a conversa foi por whatsapp. Na conversa defendi que déficits fiscais são inaceitáveis como política pública. Meus amigos defendem que responsabilidade fiscal é uma desculpa para retirar direitos de trabalhadores. Defendo a possibilidade de déficit fiscal durante um ano no caso de uma situação extrema (como a pandemia), mas entendo que como política pública é inaceitável. As dívidas fragilizam uma empresa, uma pessoa, um país. Como resposta um amigo me enviou uma análise profunda e bem fundamentada da Mônica de Bolle dizendo que o Brasil, no contexto global de 2020 (e, supostamente, dos anos seguintes) pode incorrer em tais dívidas. No cenário deste ano e dos próximos o comportamento dos bancos centrais ao redor do mundo torna viável incorrer em déficits que seriam inaceitáveis na década de 90.

PREVISÕES FRAGILIZAM

A previsão da Mônica é o exemplo perfeito do que Taleb diz que os fragilistas fazem. A análise da Mônica é extremamente profunda e bem embasada. Mas, segundo Taleb, tais previsões só levam em conta situações que já ocorreram. Entretanto a economia é um sistema extremamente complexo, diversas variáveis afetam umas às outras. Desta maneira existem diversos eventos extremamente improváveis, mas que afetam o mundo todo. Tais eventos (os cisnes negros) ficam fora de qualquer previsão. É claro que as previsões da Mônica podem dar certo durante alguns anos… mas as consequências de um erro são tão danosas que não justificam os benefícios de muitas décadas de acerto. As previsões fazem parecer que o futuro é previsível e tornam as pessoas confiantes a se arriscarem, a se tornarem frágeis (por exemplo, incorrendo em consistentes e grandes déficits fiscais).

O QUE FAZER AO INVÉS DE SE FIAR EM PROJEÇÕES

Taleb diz que o futuro não é mensurável, mas (ao menos comparativamente) a fragilidade é. Sabemos que uma taça de cristal é mais frágil do que uma xícara de grosso plástico. Sabemos que minha vó (85 anos e obesa) é mais frágil que eu, que tenho menos de 40 e estou em forma. Então a sugestão de Taleb é buscarmos ser menos frágeis, de maneira que eventos aleatórios tenham menos chance de nos prejudicar. Taleb vai além, ele sugere que sejamos antifrágeis, de maneira que eventos improváveis tenham mais chance de nos beneficiar do que de nos prejudicar. Ele dá diversos exemplos do que nos torna antifrágeis e diversos exemplos do que nos torna frágeis. Dívida é exemplo do que nos fragiliza.

COMO TALEB SE PERMITE A FALAR SOBRE ASSUNTOS EM QUE NÃO TEM A PELE NO JOGO - VIA NEGATIVA

A maneira com que Taleb se permite a falar sobre os mais diversos assuntos - mesmo aqueles em que não tem a pele no jogo, como a educação - é que ele fala a respeito dos temas via negativa. Uma orientação positiva é falar o que fazer, a via negativa consiste em falar o que não fazer. Por exemplo, evite tomar remédios caso esteja saudável. O corpo humano é um sistema complexo e os especialistas podem perceber os efeitos de primeira ordem de tomar o remédio (o benefício imediato). Mas dificilmente vão perceber os efeitos de segunda ordem que decorrem deles. Uma orientação via negativa é aquela em que sugerimos o que NÃO se deve fazer (ao invés de dizer o que fazer). Para alguém com pressão alta, por exemplo, é mais seguro retirar excessos de alimentos ultraprocessados do que sugerir um remédio para diminuir a pressão, pois não sabemos os efeitos de segunda ou mesmo de terceira ordem que o remédio trará (e que pode se manifestar apenas muitos anos depois).

SE TORNANDO ANTIFRÁGIL - ESTRATÉGIA DOS PESOS ASSIMÉTRICOS

A estratégia que Taleb mais enfatiza para se tornar antifrágil é a estratégia dos pesos assimétricos. Em termos de exercícios físicos, ao invés de passar duas horas malhando pesado, Taleb sugere que é melhor para a saúde malhar com pesos pesados trinta minutos e fazer um exercício leve (como caminhar por um parque) uma hora e meia. Ao invés de botar todo o dinheiro em investimentos moderadamente arriscados, Taleb sugere colocar uma grande parte (digamos, 95%) nos investimentos mais conservadores e o restante em investimentos extremamente arriscados. A ênfase é se manter no jogo, caso perca todo o valor dos investimentos arriscados a maior parte do patrimônio está garantido. Mas estes 5% que estão submetidos a risco podem dar um retorno sem limites. Ser anjo de uma startup, por exemplo, é um investimento extremamente arriscado. Mas imagine se esta startup vira a próxima Google ou Amazon? As possíveis perdas são limitadas (apenas o que se investiu na empresa) e os possíveis ganhos são ilimitados.

SE TORNANDO ANTIFRÁGIL - OPÇÕES

Quanto mais obrigações uma pessoa tem, mais frágil ela é. O exemplo mais simples é o de um empréstimo cujas parcelas vencem todo dia 10. Todo mês ela terá que pagar aquele valor. Esta obrigação leva a outras (como, talvez, arrumar um segundo trabalho), não pagar tem consequências graves. O exemplo oposto é o de ter opções. Ter uma poupança guardada é um exemplo do que proporciona opções. Caso apareça uma oportunidade incrível (como um imóvel barato ou o convite para a viagem dos seus sonhos) é possível desfrutá-la. Qualquer compromisso fragiliza, qualquer opção antifragiliza. O exemplo que Taleb dá é o de um convite para uma festa. Digamos que alguém ligue e diga, “Vou dar um jantar hoje à noite lá em casa pontualmente às 19:00. É necessário confirmar, você quer?”. Temos a opção de ir ou de recusar, estamos melhor do que se não tivéssemos convite algum, mas uma vez confirmado, teremos o compromisso de ir. Caso o convite seja, “Vou dar uma festinha lá em casa a partir das 16:00 até mais tarde. Qualquer coisa apareça, pode até chamar alguém.” Neste caso o convite proporcionou muito mais antifragilidade, pois há mais opções - se encontrar algo melhor posso nem ir, posso ir a qualquer hora e ainda levar convidados!

A FRAGILIDADE/ANTIFRAGILIDADE É SUBJETIVA

Taleb não sugere que a fragilidade ou antifragilidade seja algo que se possa mensurar objetivamente. A fragilidade pode ser mensurada comparativamente, minha vó é mais frágil que eu. A fragilidade também pode ser avaliada em termos de sua convexidade: caso alterações negativas tragam danos exponenciais, a fragilidade é intensa. Caso as alterações positivas tragam benefícios exponenciais, a antifragilidade é intensa. Em qualquer caso, entretanto, a fragilidade/antifragilidade é relativa. O exercício submete estresse em um músculo e o faz ficar mais forte - até certo ponto. Depois de um limiar o estresse passa a se tornar prejudicial para o ganho de músculo e, no extremo, pode ocasionar uma contusão. Até que ponto o aumento do estresse ocasiona crescimento do músculo? Isto depende da capacidade de cada músculo, ou seja, é subjetivo.

FRAGILIDADE/ANTIFRAGILIDADE COMPARATIVAMENTE

Já vimos que confiar em previsões fragiliza, também vimos que não existem indicadores objetivos para a fragilidade/antifragilidade. Desta maneira um problema se apresenta, como tomar decisões na vida prática? Simples, através da comparação. Não sei o montante de fragilidade ou antifragilidade que vai resultar objetivamente da minha ação, mas sei que minha ação me tornará mais frágil ou mais antifrágil. Se ao sair do trabalho eu aproveito que não terei mais relações com meus colegas e mando todo mundo tomar no cú, neste caso, eu me torno mais frágil. Será extremamente difícil eu voltar a este trabalho caso as minhas outras opções falhem. Caso eu me despeça de cada um, trate todos com respeito, talvez eu mantenha a porta aberta (uma opção) para o caso das minhas outras opções se revelarem ruins.

SENDO PAUTADO PELA FRAGILIDADE/ANTIFRAGILIDADE: O PARADOXO DA ANTIFRAGILIDADE

Viver sendo pautado pelo cálculo fragilidade/antifragilidade apresenta suas dificuldades. Tenho um trabalho de carteira assinada que me dá uma certa estabilidade, uma renda fixa. De acordo com a estratégia das escolhas assimétricas é interessante conjugar com outro trabalho que apresente altos riscos mas uma renda possivelmente infinita (abrir meu negócio, vai que eu crio o próximo Google!). Ter dois trabalhos é mais antifrágil que ter apenas um! Agora vamos pensar em férias. O que vai me deixar mais antifrágil, viajar para a Austrália e visitar meu irmão (pela primeira vez) ou vender as férias?? Certamente é mais antifrágil guardar o dinheiro! Certamente a maneira de viver sendo pautado apenas por questões financeiras não é o que Taleb tinha em mente ao escrever seus livros, existem outras ponderações a serem feitas. Mas, tendo como referência apenas a fragilidade/antifragilidade chegamos a este paradoxo em que tomar as decisões que nos tornam antifrágeis se tornam um compromisso (e o compromisso fragiliza). O objetivo de ter dinheiro é justamente ter opções! Como fazer para tomarmos decisões, uma vez que se pautar exclusivamente pela fragilidade/antifragilidade leva ao paradoxo? Taleb não se dá conta do paradoxo em que entrou, mas suponho que ele seria simpático a usar o conhecimento adquirido pela experiência ao botar a pele no jogo.

HEURÍSTICAS

Taleb defende heurísticas, conhecimentos individuais (ou mesmo conhecimentos tradicionais) acumulados ao longo do tempo para decidir o caminho a tomar. Por exemplo, ao longo da minha vida tem se mostrado bastante razoável viajar com o dinheiro que tenho na conta. Não me endivido, mas tampouco tenho dinheiro guardado. Sei que deveria guardar uma poupança, a minha é extremamente baixa, mas ao longo de minha vida nunca me trouxe grandes problemas gastar o que tenho. Muito raramente entro no vermelho. Minha heurística tem sido viajar com o dinheiro que tenho guardado, nunca me faltou para o aluguel. Esta heurística vale para a situação que vivo. Sou funcionário de uma empresa centenária, sou razoavelmente bom no que faço e trabalho há dez anos nela. Tenho muita segurança de que meu salário entrará todo dia 20. Ter o dinheiro na minha conta no dia correto é a hipótese na qual acredito e na qual toda minha experiência me mostrou que é adequada.

PERU DA CEIA DE NATAL

Caso eu me fie apenas na minha experiência posso acabar sendo o peru da ceia de natal. Taleb sempre conta a história do peru que todo o dia durante sua vida recebeu alimentos de um homem. Até que no dia 24 de dezembro o homem ao invés de alimentar o peru o degola para transformá-lo na ceia de natal de sua família. Toda experiência que o peru acumulou mostra que é possível ter a segurança de ser alimentado e que o homem é fantástico! Toda minha experiência mostra que irei receber meu salário no dia 20. Mas como posso ter certeza de que será sempre assim?

CENÁRIO NOVO

A partir da percepção de que quase todo o trabalho que faço os clientes poderiam fazer a partir da internet, da percepção de que diversas pequenas empresas estão começando a oferecer serviços que a minha empresa oferece e da notícia em jornais que grandes empresas de tecnologia (como o facebook) estão mirando no mercado da minha empresa passo a me questionar: será que devo gastar meu dinheiro em férias?

HIPÓTESE NULA É PREVISÃO

Se eu me comportar como sempre, pautado por minhas heurísticas, estou fazendo uma previsão. A previsão de que as coisas continuarão como foram ao longo dos meus dez anos de trabalho, a previsão de que a segurança que tenho (de receber salário todo dia 20) se perpetuará. Racionalizando ou não, teorizando ou não, vou me posicionar em relação a uma situação com base no que espero que aconteça. A solução de Taleb para evitar a previsão é pautar as decisões de maneira a nos tornarmos antifrágeis. É uma excelente recomendação! Mas se pautar exclusivamente por ela nos leva ao paradoxo da antifragilidade. De maneira que em situações práticas as previsões se fazem não apenas necessárias, mas inevitáveis.

CENÁRIOS

O que nos traz à resposta que meus amigos me deram ante minha indignação ante ao consistente déficit fiscal: a construção de uma construção de cenários para 2021 bem elaborada pela Mônica de Bolle. Ela defende que dado o cenário do ano que vem é seguro incorrer em gigantes déficits, situação que seria inaceitável na década de 90. Sua análise é elaborada e aborda diversos aspectos da economia mundial. Minha avaliação é a de que além das análises de cenário deveríamos também fazer uma análise da convexidade do déficit da situação. Isto é, caso algum dos aspectos da conjuntura que ela prevê não se concretize, os danos são exponenciais? Se é o caso, devemos nos preparar para nos tornarmos menos frágeis (ou seja, o Estado deve deixar de gastar mais do que arrecada). Certamente não tenho a capacidade técnica de avaliar se a previsão da Mônica De Bolle é provável ou não, como não tenho a capacidade técnica de avaliar a convexidade das consequências de errar tal cenário. Percebo que desqualificar as previsões à priori (sem entrar nos méritos de suas consequências) é impossível. Mas também percebo que este tipo de previsão é a do tipo que o Taleb mostrou que leva à fragilidades e - especialmente quando a previsão nos orienta a sermos mais frágeis - devemos ser extremamente cautelosos em relação às previsões.

SKIN IN THE GAME DE TALEB

Taleb se põe no jogo e tem o contato com o mundo empírico, isto lhe apresenta muitas oportunidades de aprendizado e o risco de ser excluído do jogo. O jogo em que Taleb entra é no mercado financeiro, particularmente no gerenciamento de riscos. Taleb extrapolar os conceitos de maneira a transmitir seu aprendizado para o público em geral (pelo que sou muito grato). Entretanto sua perspectiva anti academicista é contraditória. Ao criar conceitos e generalizar sua experiência no mercado financeiro ele está teorizando - da mesma maneira que os “platonistas” fazem. No próximo ensaio veremos como a exigência da "skin in the game" se relaciona com o problema da identidade e como se faz necessário qualificar "skin in the" game sob a alternativa de incorrer em outro paradoxo.

CONCLUSÃO

Taleb é um dos autores a partir do qual mais interpreto minhas experiências. As reflexões da coleção Incerto (em que ele cria o conceito skin in the game) são extremamente pertinentes e as críticas, especialmente as feitas em relação aos “ternos vazios” se aplicam e, inclusive, se encaixam perfeitamente na orientação de acadêmicos influentes como a Mônica de Bolle. Não quero diminuir a importância das advertências de Taleb! Entretanto é impossível descartar a priori (sem levar em conta os méritos da fundamentação) qualquer previsão pois: 1) substituir as previsões exclusivamente por ponderações quanto à antifragilidade incorremos no Paradoxo da Antifragilidade; 2) ao descartar as previsões (feitas por teorizações) em favor apenas de heurísticas também corremos o risco de sermos os próximos perus de natal (vítimas dos cisnes negros). O foco deste ensaio foi mostrar o paradoxo da antifragilidade e como é impossível descartar previsões, num próximo ensaio veremos o paradoxo de skin in the game.

OBS: Uma vez que Taleb crítica teorias e tenta se apoiar em heurísticas em detrimento a elas creio que não gostaria que eu chamasse o que ele defende de teoria. Tentaria colocar de uma forma negativa como “Não acredito em crenças.” Entretanto sua teoria pode ser posta da seguinte maneira: teorias levam à segurança, escondem riscos e, portanto, levam à fragilidade. Em seu lugar é mais seguro seguir o acúmulo de comportamentos aprendidos e testados na prática.

OBS: CONVERSA DE BOTECO/WHATSAPP: Segundo a Mônica a forte expansão do balanço dos grandes bancos centrais permite que o Brasil faça o mesmo sem levar o Brasil à falência.

OBS: PREVISÕES FRAGILIZAM: O exemplo de Taleb é o de gestores de fundos que passam décadas tendo retorno baixinhos, mas que quando chega uma crise perdem todo o dinheiro do fundo. O ponto em se ter em vista não é a se a chance da Mônica acertar a previsão é de 90% (até porque os verdadeiros riscos, cisnes negros, não são calculáveis). Mas sim a convexidade da situação. Qual é a consequência do erro?

OBS: VIA NEGATIVA: Gosto da orientação da via negativa. Repare que a diferença entre a via positiva é brutal, embora tal diferença possa escapar a um exame rápido. A orientação “Não minta” é bem diferente da orientação “Fale a verdade.” Pois na orientação de não mentir você pode ficar em silêncio. Na orientação de falar a verdade o silêncio não é uma opção.

OBS: A FRAGILIDADE/ANTIFRAGILIDADE SE PERCEBE COMPARATIVAMENTE:

A fragilidade pode ser mensurada de acordo com sua convexidade. Entretanto mesmo neste caso a fragilidade/antifragilidade é relativa. O estresse em um músculo o faz ficar mais forte - até certo ponto. Depois o estresse o faz ficar mais fraco e, no extremo, pode ocasionar sua destruição. Qual o ponto que o estresse beneficia o músculo? Isto depende da capacidade de cada músculo (ou seja, é subjetivo).

OBS: PERU DA CEIA DE NATAL

Taleb usa a metáfora do peru de natal para mostrar como é impossível, a partir do conhecimento acumulado, prever eventos que nunca aconteceram (cisnes negros). Mas Taleb enfatiza que a teorização disfarça as incertezas e dá segurança. No meu exemplo (dinheiro gasto nas férias ao longo da minha vida) apenas mostro que apenas seguir heurísticas também nos torna vulneráveis a cisnes negros.

Mais ensaios com as ideias de Taleb:

A ciência de Popper de acordo com o jargão de Nassim Nicholas Taleb

https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/6509718

Fragilidade - Robustez - Antifragilidade - Nassim Nicholas Taleb

https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/6506117

Thomas Piketty x Nassim Nicholas:

Talebhttps://www.recantodasletras.com.br/ensaios/6499969