VOCÊ NÃO PRECISA ANDAR SOBRE AS ÁGUAS PARA SER BOM!
Comentários sobre o aprendizado de habilidades inúteis dentro das igrejas em uma sociedade moderna.
*Por Antônio F. Bispo
Conta-se que um certo sábio estava se aproximando de um pequeno vilarejo e um discípulo o abordou dizendo:
-Mestre, depois de 20 anos de práticas exaustivas, finalmente eu aprendi a andar sobre as águas!
Levitando, o jovem foi de uma à outra margem do rio sem afundar em seu leito.
Todo orgulhoso, o moço olhava para o ancião esperando receber deste sua aprovação e com isso um status público que o comparasse a uma divindade.
Por se tratar de um povo místico, esse tipo de reconhecimento era comum em sua região. Pessoas com habilidades sobre humanas ou capazes de suportar dores, fome, frio, calor ou sofrimento intenso eram tidas como deuses e o simples fato de estarem ali paradas, sem nada fazer ou dizer, apenas meditando por longos períodos expondo suas auto mutilações, fazia atrair a atenção de devotos que iam em busca destes a fim de lhes rogar por bênçãos e curas de todos os tipos.
Este discípulo era um guru deste tipo, que após tantos anos de investimentos “a causa do senhor”, esperava ser reconhecido por um mestre maior. A aquele era o grande dia tão aguardado.
Aquele sábio era uma pessoa de difícil acesso, muito disputado por toda aquela gente iludida. Era conhecido por ser ríspido e diferente dos outros, costumava falar coisas que o povo não queria ouvir.
O moço aspirante precisava impressiona-lo pois não teria outra chance e caprichou no que fez, sendo rápido e sucinto. Julgou ter feito bonito e agora esperava ouvir do mestre as palavras mágicas de consagração.
Ao invés disso, como o olhar de pesar (não de desprezo), o mestre parou, balançou a cabeça, olhou para o aluno, sentiu pena dele e disse:
-Que lástima! Você perdeu 20 anos do seu precioso tempo tentando aprender algo tão fútil. Eu farei o que você fez agora pagando apenas 1 dólar.
E tirando uma nota do bolso, pagou ao barqueiro, entrou na canoa deste e pediu que o levasse à outra margem do rio.
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O atual comportamento religioso da maioria dos féis das mais diversas religiões se assemelham à desse jovem. Achando que estão “abafando”, aumentando sua “moral com deus”, ou reservando o próprio lugarzinho nos céus, sem perceber, eles obterão justamente o oposto do que esperam.
Houve um tempo na história primitiva dos homens que pessoas de todas idades e classes sociais queriam ser um representante das divindades ou ao menos estar ao lado de um deles.
Os primeiros ritos de cultos giravam em torno das estações do ano ou do plantio e colheita de cereais. Com o passar do tempo, a caça e a pesca foram incluído nesses festivais e os rituais de culto aos poucos foi amplificando. Tudo girava em torno do medo.
Não havia uma estação meteorológica fornecer dados sobre o clima, nem um calendário detalhado e nem tão pouco livros escritos ensinando aos homens que depois da primavera vem o verão, depois o outono e por fim o inverno.
Quando se tornaram nômades essa constatação ficou ainda pior, já que suas andanças mundo à fora por comida e abrigo trazia uma certa confusão em relação ao espaço e tempo por estarem sempre se deslocando.
Quando havia seca (período sem chuva), eles achavam que esta seria eterna. Então sacrificavam aos deuses pedindo chuva.
Quando a chuva chegava, achavam que esta não mais iria embora e morreriam todos afogados por uma grande enchente. Então sacrificava aos deuses para que estes tivessem piedade deles.
Quando o calor ou a chuva cessavam, eles achavam que era um favor dos deuses e que isso só fora possível mediante seus sacrifícios e devoções.
Quando a caça era farta, achavam que era os deuses abençoando, então agradeciam.
Se os bichos se tornavam escassos, ele não eram capazes de deduzir que isso era devido suas próprias ações. Achavam que alguém da tribo entristecera os deuses por isso a caça ora embora. O malfeitor deveria ser punido como ato de justiça divina e apaziguamento.
Sempre havia um bode expiatório. Sempre era o menos crédulo, o mais questionador e o menos dedicado aos ritos da tribo o culpado. Eles eram os “ateus de sua época”.
Os crédulos acreditavam que sacrificando aos deuses teria caça em abundancia outra vez.
Sacrifícios humanos eram muito comuns nessa época, porém frutos e animais também eram usados para esse apaziguamento.
Quando aprenderam a agricultura e pecuária, os ritos de culto se intensificaram, pois perceberam que em diferentes épocas do ano poderiam plantar culturas diferentes ou criar diferentes tipos de bicho de acordo com o clima e o solo.
Nesse período já havia diversos agrupamentos humanos sobre esse planeta, cada um com o seu modo distinto de cultuar suas divindades. O ritos de culto evoluíam à medida que novas tecnologias e técnicas eram descobertas.
Agora, além do sacrifício humano, de animais ou oferendas de sementes, o vinho e o sexo grupal também fazia parte de alguns rituais de culto de povos antigos. A bíblia está cheia de relatos como esses. Outros “livros sagrados”, também.
Desde sempre, o medo e o suborno foram os pilares principais de todo o rito litúrgico. Nunca foi o amor como quase todos afirmam. Com tais povos não eram diferente.
Com o crescimento populacional e vislumbre de uma vida mais longa, os interesses foram mudando.
Antes, a preocupação maior era a de permanecerem vivos mediante as adversidades que diariamente encontravam. Agora, como uma sociedade maior, mais rica e mais forte, as pessoas passaram a pedir tronos, reinos, pedras preciosas, terras, herdeiros e as filhas e mulheres de outros homens. O domínio sobre o outro sobrepujava agora o desejo de uma vida longa.
Com a criação de tantos deuses, cada um podia fazer um “á sua própria imagem e semelhança” e a este devotar sua fé. A devoção aos deuses agora podia ser pessoal e os pedidos também. Desse modo cada um pedia aos deuses por si e não pelo grupo todo como era antes.
Intenções pessoais afloravam em todos os que “falavam com os deuses”. A ganancia, a inveja, a ira e a falta de diplomacia regiam as mãos e as vontades das divindades.
Não havia limites para conquistar um objetivo pessoal. Eles fariam o que fosse preciso para sentirem-se contemplados pelos deuses.
Como sempre, deus nenhum nunca foi visto por homem algum! Nunca nenhum deles apareceu diretamente falando seus desejos e exigências à ninguém. Sempre houve um sacerdote para intermediar tal contato e a fala deste era a fala do próprio deus.
O esse “escolhido por deus” falava poderia erguer ou destruir um reino, bem como todos os seus habitantes. Política e religião estavam intrinsicamente ligadas.
Estar ou crescer ao lado de um sacerdote era um privilégio de poucos.
Era certeza absoluta de sucesso, fama, poder e autoridade. Não apenas ao principiante, mas à toda família deste também.
Faltar com respeito a estes, era atrair a ira dos deuses.
Eles eram inquestionáveis e sempre diziam-se infalíveis. Alguns aprenderam segredos alquímicos ou desenvolveram pequenos aparatos tecnológicos que os faziam parecer virtuosos e com poderes sobre humanos. Mas era só pirotecnia barata (como nos dias de hoje).
Em certos casos, eles pagavam para que boatos sobre eles mesmo fossem divulgados à fim de que sua áurea mística fosse ampliadas e desse modo o temor e subserviência do povo fossem garantida.
Tem sido assim desde sempre: crianças, jovens, adultos e idosos são ensinados a temer, venerar ou obedecer a tudo o que um sacerdote ou “representante de deus” ordena ou tem como verdade. Rejeitar a este ou aos seus ensinamentos, faz recair sobre qualquer povo (ou sobre o mundo inteiro) a ira divina. Se eles estão alegres, deus também estará (direta ou indiretamente dizem isso o tempo todo).
O problema é que jamais você irá conseguir de fato agradar em totalidade uma “pessoa de deus” ou um “ungido do senhor”. Elas são como sacos furados que nunca enchem!
Se conseguem obediência de um povo, eles querem mais! Querem expandir suas fronteiras para além das 4 paredes de um templo. Querem toda sociedade aos seus pés e se permitirmos, a nação e o mundo todo.
Se conseguem arrancar dinheiro com facilidade dos crentes, eles também querem mais...muito mais, ao infinito e além! Quando o judiciário fecha os olhos, eles podem extorquir o povo, deixá-los de esmolas e dizer que o devorador só fez aquilo por que o fiel não teve fé o bastante para receber em dobro as bênçãos divinas (há milhares de relatos desse tipo nas mais variadas mídias, aumentando cada vez mais com os neopentecostais. Que o dia a Srta. Urach).
Quando conseguem convencer suas vítimas ao sexo consensual ou furtivo, eles não param, querem mais, outra vez e ainda mais (que o diga o João de Deus e tantos outros recém revelados).
Como se isso tudo não bastasse, quando um fiel não é prejudicado no bolso, na moral ou na sexualidade por gente desse tipo, eles podem estar sendo exploradas de outra forma, inclusive por gente ordeira e bem intencionada nesses agrupamentos.
O tempo é o bem mais preciso que um ser humano possui e é o que mais a igreja desperdiça. Nossa vida é curta, podendo se esvair de diversas formas pelos mais variados meios, e quando de causas naturais, raramente chegaremos aos 100 anos de idade.
Os ritos de culto dentro de igrejas modernas são verdadeiras fábricas de inutilíssimo.
Elas fazem com que os fiéis desperdicem seu maior patrimônio, com rituais litúrgicos diários e intermináveis (todo dia e o dia todo), que além de repetitivos não teria validade alguma se fosse levar ao pé da letra tudo aquilo que dizem à cerca das qualidades do suposto deus que veneram.
Receber adoração (ainda que voluntária) é coisa de gente tola, babaca, que não se garante, quem não sabe o que é ou o que faz e por isso precisa que outros inflem seu ego constantemente.
Se a adoração for forçada, na base do “me adora ou morre”, isso fica ainda pior. Seria caso de polícia (caso houvesse uma para punir esse tipo de crime).
Diretamente, os crédulos dizem que deus é o ser mais puro, fino e auto suficiente que já existiu. Indiretamente, com tanta melosidade e puchação de saco, eles reduzem o próprio deus à figura de um mortal imbecil, infantil ou a de um déspota nojento, que é capaz de matar, escravizar ou fazer sofre perpetuamente todos os que não lhe renderem louvor.
Quem tem um deus desse tipo nem precisa de demônio!
Se isso não for um rum aprendizado inútil de uma era primitiva, não sei o que pode ser.
Outra constante muito incentivada nesses recintos é a busca por supostos dons espirituais, que para nada serve além de inflar o ego de quem o “recebe”.
Ao “receber”, o fiel julga ser uma pessoa melhor e mais preparadas que todas as outras e que o próprio deus “encarnou” nela para vários propósitos, mas no fim o que “recebe” tal virtude é semelhante a um tolo que usando uma roupa feita de papel higiênico, acha que vai ser capaz de enfrentar uma tempestade sem se molhar ou passar por dentro do fogo sem se queimar.
Vejam bem: um ser humano comum, “falho e pecador”, após passar de 4 a 7 anos em uma faculdade, quando aprovado poderá se tornar um médico, um advogado, um engenheiro, um cientista, um grande administrador e gerador de empregos, alimentos, produtos ou serviços realmente úteis à muita gente.
Já uma “pessoa santa” que passa o mesmo período na igreja, as virtude mais comum que adquirem são a paranoia e a arrogância.
Por meio de tanto ritual chato e repetitivo e de tantas conversas paralelas de indivíduos que só por que sabem recitar de memória se acham se acham profetas, o indivíduo inserido nesse tipo de recinto poderá desenvolver as seguintes habilidades: fazer jejuns e orações prolongadas a fim de aplacar a ira deus, achando que isso seja mais proveitoso que pesquisas cientificas; ver o diabo escondido em rótulos de comidas, filmes, roupas e outros produtos; rodar, pular, cair, bater a cabeça e urrar feito um animal enquanto fala “a língua dos anjos”; dar seu tudo ao senhor e viver à beira da miséria, achando que está dando a deus (que o diga quem já fez tal besteira); ralar feito burro, evangelizando, pregando, enchendo a igreja de crentes para depois o pastor ficar com todo o lucro e meter o pé em sua bunda no seu primeiro ato de “rebeldia”; passar parte de sua vida sendo “testado”, humilhado, pisado e cuspido pelo seu líder religioso, para depois de 30 anos de serviços prestados ele te mandar pra um campo com 30 crentes, cuja renda local da igreja não dá nem pra pagar o leite de seus filhos e assim viver de doações de crentes, achando ser um real missionário e que é deus provando; passar a vida inteira como mensageiros do apocalipse, procurando triângulos e outros “símbolos iluminatis”, enquanto “desmascara o diabo” revelando os seus planos, mesmo sendo deus onisciente e vendo tudo sem importar...
Entre centenas de casos, essas são algumas habilidades inúteis mais comuns que você aprenderá em algumas dessas “casas de deus”.
O direito ao culto é livre e garantido por lei! O direito à liberdade de expressão, ciência, cultura e a outros meios de obter cultura e diversão além da igreja também. O direito de um termina onde o do outro começa. Acontece, que “à mando de deus”, os abusos de um líder religioso ou de seus súditos só terá limite quando encontrar obstáculos.
Por outro lado, se as pessoas são livres para frequentarem os espaços que quiserem sem serem coagidas, obrigadas ou intimidadas para isso, a igreja fere esses princípios ao ameaçar com inferno e pragas diversas, todos os que não querem mais permanecer nos “caminhos do senhor”, ou os que ainda desejam permanecer em tais “caminhos” usufruindo do livre direito de se expressar e dizer o que pensa sem que “deus” pegue o microfone e o humilhe em público depois.
Como no exemplo do conto acima, a verdadeira evolução de muitos não virá mediante a aprovação de um líder (babaca) que incentiva e apoia o inutilismo como virtude ou meio de ascensão. Esse tipo de mentoria tem levado muitos ao buraco, a depressão, ao suicídio ou a uma vida de farsas.
Em certos casos, o mentor que realmente deseja sua evolução irá te chacoalhar, te sacudir, te dizer coisas incômodas, mas que no fundo querem dizer apenas: “Larga de tu ser besta omi! Tomi prumo na vida! Vá procurar uma coisa mais útil pra fazer”!
O reconhecimento em público por algo inútil ou indigno é como ter um diploma comprado: para nada serve, pois se posto diante de um problema, ficará comprovado que o portador de tal título não terá as habilidades nela descritas.
Chega um dia na vida de toda criatura em evolução que ele precisa decidir se segue a manada apenas para parecer normal ou se entende que os falatórios de quem os condena por ser diferente não os fazem ser pessoas melhores e virtuosas, apenas tolos iludidos.
Uma revolução interior não é uma declaração de guerra (como convém) contra uma pessoa ou um grupo inteiro. É apenas uma mudança de consciência, do modo como vemos o mundo e interpretamos os seus sinais.
Uma mudança de paradigma, da ideia de um destino pronto, selado, traçado por um deus e que nada podemos fazer para muda-lo, para uma percepção de que nós mesmos podemos fazer nossa própria história, e que os anjos e os demônios estão bem mais perto do que pensamos (pessoas).
Não é preciso sequer dar um soco ou um tiro para que todos saibam disto! Quanto mais silenciosa esta for, mais fácil será o processo de transição até que o “recém-nascido” tenha força o suficiente para suporta as represálias dos que vivem e lucram por meio da fé alheia.
Saúde e sanidade à todos.
REVEJAM sempre SEUS CONCEITOS!
Texto escrito em 18/4/21
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.