DO "O SEGREDO".

O texto de auto-ajuda mais vendido ultimamente – “O Segredo” - é charlatanismo deslavado, ao menos em certo sentido. Minha leitura, claro, passa pela ciência. Nada ali, embora Rhonda Byrne ateste o contrário, prova sua tese. Apropriar-se de conceitos científicos é garantia de que certos fenômenos sejam “verdadeiros”?

O título, sem dúvida, é tentador. Quando o sujeito descobre que a chave é fazê-lo concretizar todos os desejos, haja curiosidade. Não nos esqueçamos: quantos de nós não possuem outra ambição senão a material!

Vamos ser francos e diretos: Byrne e seu grupo tentam pôr remendo novo em um pano velho e manjado. No lugar de compromissos religiosos, esotéricos e coisas do gênero, entra a ciência. Assim, envolve o leitor num dédalo composto de “conhecimento” e contemporaneidade.

Afirmar que o mundo material é produto do que temos em nossas mentes – “lei da atração” - é pura falácia. A lei da atração, garante Byrne, é uma lei da natureza e tão imparcial e impessoal quanto a lei da gravidade. É precisa, exata.

No campo filosófico, o “naturalismo animista”, que em tudo vê vida e alma, pode servir como encapotamento da perspectiva Beyneana. Não há a mínima evidência de que nossa mente afete a matéria Os estudos mais profundos, neste particular, apontam desprezíveis 0,3%. Nem mesmo a física quântica, segundo autoridades, corrobora os fundamentos de “O Segredo”. Neste caso, a relação de causa e efeito é uma impossibilidade.

Afinal, qual o mistério deste livro? Partindo de crendices no que conhecemos por “Nova Era”, oferece um sutil, sagaz e matreiro coquetel cultural adaptado, é lógico, à vida contemporânea, centrado em dois grandes pilares: “autonomia intelectual e riqueza”. Andrew Dawson esclarece: “A Nova Era diz que não há problemas em possuir a riqueza e a estabilidade que a classe média de todos os países já tem. Nem em procurar mais riqueza e sucesso”.

A parte “boa” da proposta, mesmo reconhecendo o engodo, fica no incentivo à imaginação e em provocar no leitor aquela espécie de motivação necessária para agir, fazer alguma coisa a fim de mudar uma situação desfavorável. Como diz Pablo Nogueira: “Muita gente tem uma grande vontade de acreditar que de fato exista um segredo que possa mudar a vida. É essa expectativa de que algo pode melhorar que realmente pode causar transformações e melhoras”. Sem essa de que somos torres irradiando pensamentos.