A RELIGIÃO COMO PANO DE FUNDO PARA EXPLORAÇÃO E OPRESSÃO!
“Atentai-vos para todos que veementemente pretendem te salvar por meio da fé”!
*Por Antônio F. Bispo
A primeira missa no Brasil fora celebrada em 26 de Abril de 1500, apenas quatro dias após a data oficialmente aceita como sendo a da descoberta de nossas terras.
Os que ali estavam presentes diziam que com aquele ato, deus (o deus cristão) estava tomando posso daquele povo e daquelas terras para abençoar e reger como fazia em outras partes do mundo, sempre por meio dos clérigos e suas comitivas.
A revolução protestante ainda não havia acontecido e o cristianismo oficial era basicamente divido em apenas duas vertentes: a latina e a grega. Os que vieram ao Brasil nessa ocasião fora os da versão latina, governada por Roma, cujos ditames até hoje em nossas terras permanecem.
Ao executar esse ato religioso nesse “solo pagão”, os que vieram aos nativos diziam trazer consigo a liberdade, a paz e salvação das almas para a estes povos. Mas era apenas pretexto para explorar, escravizar e matar legalmente essa gente enquanto exploravam seus recursos.
Se no velho mundo (Europa) o conceito de leis e civilizações já estavam bem avançados, trazendo severas penalidade para certas barbáries, em terras descobertas e “sem leis”, sob a bandeira da fé tudo era permitido! Cada um portando uma bíblia, uma arma ou liderando outros peões escravizados, podia fazer suas próprias leis.
Mediante uma denúncia grave, uma boa quantidade de pedras preciosas ou escravos para serviços braçais e sexuais do clero ou realeza, fazia mudar qualquer versão da história, e de genocida, o infrator poderia ser até canonizado como santo.
A reforma protestante ocorreu em 1517 e a partir de então, dezenas de versões do cristianismo iria surgir nos 500 anos seguintes no mundo inteiro, tendo como grande mãe a própria igreja católica.
Era como trocar 6 por meia dúzia no que diz respeito aos principais dogmas da igreja que eram o credo em um cristo ressurreto, nascido de uma virgem e parte de uma trindade; e a obediência total e irrestrita aos comandantes das igrejas. Esses eram e ainda são os principais pilares do cristianismo em suas principais versões até os dias de hoje. Os conceitos de moral e direitos humanos permaneceriam os mesmos quanto aos menos favorecidos e não contemplados pela realeza.
A salvação por meio da fé (em cristo) continuou então sendo pregada pela maioria dessas vertentes, mas até mesmo essa (a salvação) só será possível mediante à sujeição ao patriarcado religioso e aos respectivos apetrechos que estes anexaram aos antigos dogmas, sendo que cada nova vertente que surgia tinha sua própria interpretação da bíblia, rejeitando aquilo que não concordavam e firmando verdade absoluta aquilo que lhes favoreciam as diferenciam das demais.
No meio dessa disputa acirrada estavam (ou estão) todos os que por opção ou imposição seriam (ou são) atraídos de uma ou de outra forma pelos mercadores da fé ou temerários da ira divina.
Apesar de tantas variedades de igrejas cristãs, todas elas tem ofertado o mesmo cristo parametrizado por Constantino e os concílios, porém cada uma delas como um portfólio próprio de PODES e NÃO PODES. Todas disputando a atenção e obediência dos fiéis desde sempre até os dias de hoje.
Estima-se que a primeira igreja protestante apareceu em nosso solo à partir de 1630 com chegada dos holandeses, especificamente no estado de Pernambuco. Era apenas mais do mesmo! A mesma trindade ofertada por uma vertente da igreja que não devia sujeição absoluta ao papado. Assim era o protestantismo.
O povo que até então era considerado sem alma (os índios), e apenas visto como objeto de uso e descarte, agora passou a ter um valor um pouco maior. É a reação natural de todo tipo de empresa quando se sente ameaçada pela concorrência: elas passam ver o cliente com outros olhos, a fazer mimos ou procuram vender os mesmos produtos com uma nova embalagem, ou por meio de um vendedor mais carismático. Caso contrário irão perder clientes e irão à falência.
Enquanto que os sacerdotes católicos faziam o “contato” entre deus e o homem parecer uma barreira intransponível, dando muito importância a veneração de símbolos sagrados e rezando suas missas em latim, os sacerdotes protestantes diziam estar ali justamente para facilitar esse contato, falando a língua do povo, pregando de modo que pudessem ser entendidos, sem endeusarem em demasia a figura dos chefes principais da igreja (até por que esse foi um dos motivos principais do grande racha).
Apesar de tudo, ambos os grupos (católicos e protestantes) concordavam mediante a bíblia, que a escravidão dos homens era aceitável e permitido por deus, sendo que toda a bíblia estava repleta de tais práticas, contendo inclusive detalhes específicos de como possuir ou descartar um escravo.
O estupro e violações às negras mães que quando saudáveis eram usadas como “vacas parideiras” não era questionado e nem considerado crime e abuso por nenhuma vertente. O mesmo aplicava-se aos negros viris.
Explorar uma criança à partir dos 4 anos de idade ou um velhinho à beira da morte com pesadíssimos trabalhos, também não era ilícito. Não era crime! A bíblia dava respaldo para esse tipo de atitude.
Incitar uma tribo indígena contra outra para que eles mesmo se dizimassem, era considerado um ato de inteligência divina. Assim, ambas ficavam mais frágeis e fáceis de dominar depois.
Era apenas uma estratégia militar “dirigida por deus”. Tais militares também eram cristãos e não havia mal nenhum em provocar a carnificina de certos povos, afinal, eliminar os pagãos era também parte dos planos de deus. Isso também tem respaldo bíblico!
Até os dias de hoje essa estratégia militar é amplamente utilizada, e segundo eles mesmos, deus assina em baixo de suas decisões quando o assunto é acabar com os hereges e encher a terra de “gente de bem e de família”, mesmo que esses tenham valor moral menor que a merda de gato teria se vendida como perfume.
Entre o “povo de deus” tudo é legal, permitido e aceitável se houver respaldo bíblico!
Não há nada proibido, imoral ou vergonhoso se biblicamente algum “herói da fé” já o fez, usou ou citou. Mesmo quando tal acontecido fora dita de forma narrativa e não como mandamento (imperativo), eles tomam isso como permissividade e quando um comando direto é dado (não roubar, não matar, não adulterar), eles levam isso para o lado opcional ou respaldam-se na constante “fraqueza humana”, essa inseparável companheira de todo líder religioso vagabundo, oportunista, amoral e sem honra alguma!
Nesse grande “buffet de sacralidades”, cada “servo de deus” pega o que desejar, saboreia o que agrada ao seu paladar, cospe o que não quer seguir e depois diz: “assim falou deus”!
Mesmo entre os mais esclarecidos (teólogos), quando o assunto é picaretagem, se estão se beneficiando de alguma forma, eles fazem vista grossa e não separam os costumes de uma época com as atuais legislações vigentes de cada país. Usam a credibilidade e o “conhecimento de deus” que possuem de forma errada, quando poderiam valer-se disso para influenciar para o bem o caráter e a boa conduta dos homens, valendo-se das mesmas “brechas bíblicas” que os ignorantes e oportunistas usam para o mal.
“Se a tua consciência não pesa é por que não é pecado”! É o que diz o salafrário!
Já houve isso milhares de vezes entre o “povo de deus”, principalmente dita por líderes “de rabo preso” tentando tranquilizar suas presas em pleno culto, quando os gestos corporais e outros sinais físicos da vítima estavam prestas a delatar o abuso sofrido.
O hedonismo na antiga Grécia também dizia o mesmo sobre qualquer coisa que proporcionasse prazer aos homens.
Cem anos atrás, Alex Crowley também dizia: “faça o que tu queres e serás tua própria lei”!
A realidade é que a falta de peso na consciência jamais será uma balança fiel para medir equidade de seu ninguém e nem tão pouco para promover uma sociedade mais justa, até por que, a depender do regime em que uma pessoa fora criada, que está inserida ou que da crença que acredita, essa pessoa jamais terá peso algum na consciência independente do que faça ou deixe de fazer (omissão).
Desse modo esta, esta irá sentir-se sempre livre e abençoada para fazer o que quiser, com quem quiser e do modo que bem entender. Ainda assim, se o tal for um cristão e quiser achar embasamento bíblico para sua conduta, seja ela qual for, o achará!
A exemplo de um julgamento de um réu num tribunal, promotor e advogado de defesa usam a mesma constituição (além das provas ou falta delas) para incriminar ou liberar um acusado. Nela (constituição) há centenas de artigos, milhares de parágrafos e dezenas de milhares de interpretações (pessoais) que visam de fato fazer justiça ao oprimido ou por em liberdade o mais hediondo dos criminosos, retratando-o posteriormente como uma vítima da sociedade.
Nota-se que a constituição é a mesma, porém a retórica e a índole dos envolvidos no processo poderão fazer com que nos sintamos nos caminhos de uma verdadeira evolução social ou que digamos juntos: “a humanidade não merece mais esse planeta”!
A paixão de quem acompanha o julgamento poderá ver de forma distorcida o resultado final de um julgamento se esse não vier lhe favorecer ou não atender às suas (pobres) expectativas.
Assim também é com a bíblia e com as religiões no que diz respeito as “leis divinas” e suas licenciosidades para ludibriar, oprimir e extorquir aos que por ela se validam e de seus representantes dependem.
De modo nenhum a bíblia ou a igreja está acima da moral e nem tão pouco poderá ser um norte inabalável para qualquer sociedade. A sua justiça e a sua moral dependerá exclusivamente do que assiste (preside) o oficio de chefe e dos que com ele comungam.
A ganancia, ignorância ou paranoia desse chefe é que será a base a tomada de decisões quando um crente (ou o mundo todo) estiver sendo julgado. Quando não, a obediência dos súditos e os recursos que esses oferecem serão também pesados quando quesito for ser justo em favor de quem nada tem a oferecer.
Todos os conceitos de verdade e justiça contido na bíblia, podem e são interpretados segundo os interesse de quem os manipula. Sempre foi assim! NUNCA FOI OU SERÁ DEUS! SEMPRE FORA OS HOMENS!
Quanto maior for o corpo manipulador (igreja), maior será a influência dessa sobre a sociedade para o bem ou para o mal. Deus nenhum criou, controla ou dita regras de livro nenhum, por mais que se diga isto dos “livros sagrados”.
Não há sacralidade nenhum em livro algum!
Sagrado é relação e a consciência de duas ou mais pessoas que se respeitam e por meio da lógica e da razão procuram viver em paz, compartilhando de forma justa, os recursos disponíveis para ambos no ambiente em que vivem, tendo-se em conta porém, que se as suas benesses pessoas não possa ser o motivo da desgraça alheia.
Toda lei é humana! Não há leis divinas ou leis demoníacas!
Pelo homem, para o homem e em favor do homem é que os “livros sagrados” são ou foram feitos.
Do mesmo modo que “quem dá comida aos meninos lambe os dedos” (ditado popular no Nordeste do Brasil), quem cria ou manipula as leis, tendem a se beneficiar primeiramente delas para que depois, outros possam fazer o mesmo.
Basta comparar os salários de grandes magistrados (em países em desenvolvimento) com os salários de grandes políticos e grandes líderes religiosos e verão que são equivalentes!
Os três acima citados, criam, manipulam ou executam as leis e dessa forma, por serem os “portadores da verdade”, serão os primeiros a tirar delas benefícios pessoais, principalmente quando não as vivem, ou deixam brechas propositais para interpretações particulares.
Provavelmente vocês nunca verão banquetes de professores e outros funcionários públicos regados à lagostas, queijos finos, caviar e vinhos da melhor qualidade. Por outro lado....
Do mesmo modo, a maioria dos políticos acham que tem o direito de falar o que quiser contra qualquer pessoa ou de cometer crimes comuns, valendo-se da prerrogativa do fórum privilegiado.
Líderes religiosos também, mesmo diante de um flagra evidente de um caso grave, não aceitam perder seus ministérios e nem tão pouco serem julgados ou criticados por qualquer pessoa. No mínimo eles querem ser julgados por páreas que no máximo o irão transferir de localidade. Outros porém nem a isso se sujeitam, dizem que somente deus no dia do juízo final os julgará.
É importante salientar que a igreja faz entender que “as leis de deus” estão acima das “leis dos homens”, e isso faz com que qualquer conceito de justiça social ou moral esteja intrinsicamente ligada à interpretação dos líderes religiosos.
Por isso é tão fácil incitar legiões inteiras de crentes contra o congresso, o supremo ou qualquer outro alvo que esteja no caminho dos interesses dos grandes mercadores da fé.
Os que promovem as guerras santas valem-se também dessa mesma fórmula!
A intenção de qualquer pessoa lúcida que procura desmistificar a sacralidade e intocabilidade dos supostos homens de deus, não deve ser jamais a de provocar um outra NOITE DE SÃO BARTOLOMEU (pesquisem sobre o assunto). Antes sim é importante dosar as palavras para que ao invés de inflamar as paixões dos iludidos, levando-os a uma ira descomunal e ataque à forças que não estão preparados a enfrentar, é mais importante que lhes despertem a razão, a necessidade própria de libertação para depois afetar o coletivo.
Toda revolução externa, duradoura e de sucesso só foi ou será possível se os seus integrantes forem metódicos, pacientes e estrategistas o bastante para entenderem que na luta pela liberdade, mesmo não lutando contra forças sobrenaturais (deuses e demônios), estão ou estarão lidando com a ira, a inveja, a ganancia e a soberba dos que fazem, manipulam ou se beneficiam de algum padrão de lei já estabelecido. Um discurso bem formulado, implantado à conta gotas sempre terá mais serventia que uma revolução caudalosa. Essa última só faz tirar o poder das mãos de um tirano para entrega-lo a outro ainda pior.
Do mesmo modo que é uma covardia tirar a muleta de um aleijado sem lhe proporcionar outro sustento (no caso um dependente exclusivo da religião), é impossível querer que todos alcem voos como águias, quando suas estruturas atuais são semelhantes a de minhocas rastejantes. Além de tempo, todo processo evolutivo requer que certos predadores desaparecem para que outras espécies floresçam, caso contrário isso nunca ocorrerá!
Se começarmos a diminuir ou os predadores do medo, que usam a fé alheia como forma de poder e sustento pessoal, a própria leia das probabilidades cuidará do resto.
Pensem nisso! REVEJAM SEUS CONCEITOS!
Saúde e Sanidade a Todos!
Texto escrito em 11/4/21.
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.