ONDE DE FATO ESTARIA O SEU DEUS?

Análise parcial das premissas que intentam justificar a reabertura das igrejas como sendo serviços essenciais!

*Por Antônio F. Bispo

Está acontecendo essa semana na suprema corte de nosso país, um debate entre os ministros para decidirem se as igrejas (ou locais de culto) retornam ou não as atividades mesmo em meio a essa terrível pandemia, cujo número de mortos tem superado a casa dos 3 mil nos últimos 20 dias.

Os grandes líderes religiosos e donos de mega templos tem lutado com todas as forças desde o início dos primeiros decretos de fechamento para que os templos se mantenham aberto, alegando ser esse um serviço essencial, um refúgio para a alma humana em tempos de calamidade.

Alguns fieis acreditam nisso e defendem essa possiblidade, condenando ou ofendendo os que argumentam contra a reabertura desses tipos de eventos. Dizem que a prática de sua fé é como uma farol em noites escuras.

Que seja!

No desespero, as pessoas são capazes de agarrarem-se ao que estiver ao alcance delas e isso é compreensível até certo ponto.

Direta ou indiretamente a cultura local empurra os cidadãos a agirem dessa forma, aplaudindo os que na aflição dizem palavras mirabolantes relativos à crença como se fossem evidencias de uma providencia exata, enquanto menosprezam os que mantem a calma e buscam soluções lógicas para resolverem seus problemas.

Os mais fanáticos chegam a afirmar que enquanto todos (incluindo os ateus), não se arrependerem, confessarem seus pecador, e aceitarem a esse deus como criador e redentor, essa desgraça não passará.

Esse tipo de comportamento é muito antigo e assim será assim até que coletivamente a sociedade amadureça. Caso contrário, ficaremos ancorados nesse mesmo patamar pelo medo de uns e ganancia de outros.

O objetivo desse texto não é afirmar se as igrejas devem ou não permanecerem funcionando nesse período, antes sim analisar os termos de uma relação entre os crédulos e o seus deus, sob luz da crença dos próprio fies, usando as próprias qualidades de deus como ponto de partida.

Segundo a bíblia e a crença cristã, entre tantos atributos deus é onisciente e onipresente. Ele sabe de tudo e ocupa todos os lugares simultaneamente. Do interior de um átomo até o mais extremo de uma galáxia, mesmo onde a visão ou os recursos humanos não alcançem, até ali ele estaria...

Desse modo, mesmo se não nos dirigíssemos a ele, ele já estaria presente aqui, ali ou em qualquer lugar vendo, ouvindo, fazendo ou sabendo de tudo. Ele não se deslocaria para lugar nenhum pois ele já estaria lá.

Sendo assim, para que um fiel lhe renda louvor ou lhe peça algo é desnecessário que um fiel se desloque no intuito de encontra-lo em uma igreja, caverna, monte deserto. O deslocamento e estadia seria relativos apenas aos humanos e não a ele.

Como ser onisciente, dizem que ele conhece todos os nosso pensamentos, sonda o nosso entendimento e sabe de tudo o que vamos falar em qualquer tipo de linguagem mesmo antes que formulemos o pedido. Dizem ainda que ele é capaz de suprir todas as nossas necessidades e prover tudo o que precisamos sem que o peçamos.

Desse modo, orar e ele pedindo algo, além de ser redundante, seria uma ato de extrema desconfiança do seu zelo, de sua sabedoria e de sua onisciência. Clamar, sacrificar e jejuar não seria um sinal de firmeza, de uma fé inabalada, antes sim de dúvida. Seria uma maneira disfarçada de dizer: “não creio em nadinha daquilo que dizem sobre ti, por isso estou reforçando, só por garantia”!

Por outro lado, se deus sabe de tudo, pode tudo e nada faz para ajudar aos seus servos (ou ao mundo inteiro), podemos concluir que ele não quer ajudar, ele não pode ajudar, ele não sabe ajudar, ou tudo o que dizem ao seu respeito não passa de fábulas.

Nada impediria que um crente sozinho em sua própria casa praticando os seus ritos devocionais se sentisse atendido por deus sempre precisar de intermediário algum.

Uma igreja seria assim a mais inútil de todas construções obras já criadas pelo homem se o intuito real fosse apenas o de prestar culto a um ser onipresente. Porém esse não é o principal intuito.

As pessoas vão às igrejas por que precisam da companhia umas das outras. Esse é o principal motivo do agrupamento! Não é deus, nem jesus, nem anjo nem alguma outra criatura mítica qualquer. Se deus fosse a razão principal, eles o teriam em qualquer lugar à qualquer hora se fosse o caso.

As pessoas costumam ir as igrejas por que sentem vontade de conversar, desabafar, distrair-se, rir, gargalhar, flertar, procurar parceiros para acasalar (de forma legal ou duvidosa), compartilhar sentimentos e acima de tudo para sentirem-se como parte de algum grupo social.

Acontece que esse mesmo tipo de satisfação para as necessidades humanas podem ser encontradas em qualquer outro tipo de agrupamento onde duas ou mais pessoas se reúnem e nem por isso, esses outros agrupamentos são tidos como atividades essenciais.

Tudo o que citei acima pode ser encontrado também em um bar, em um salão de boliche, em uma aula de música, em uma palestra de negócios, em um clube de leitores e em praticamente todos os lugares onde tem gente reunida com objetivos específicos

Sendo assim, a igreja nada mais é que um clube social, admitindo os seus líderes ou não!

O templo é apenas um local de encontro com outras pessoas e não com divindades.

Quando vão as igrejas, não é deus que as pessoas procuram. No fundo elas apenas buscam a companhia umas às outras, tendo como lastro desse encontro, o compartilhamento de uma fala, de uma crença que são melhores que os outros grupos de outras fé, dos que não tem fé alguma, ou que são melhores inclusive que outros de seu próprio grupo.

Não há nada de especial em igreja alguma de lugar nenhum! Igreja que não tem pessoas não é igreja. São as pessoas que dão vida, razão e propósito a esses lugares e não os deuses. Do mesmo modo que se alguém pode tornar um lugar bom ou ruim, são os seus frequentadores.

Assim, justificar que uma igreja pode abrir por ser um serviço essencial por que conforta o ser humano em dias dia de sofrimento não parece ser uma justificativa muito honesta.

O garçom do bar também faz esse papel (de confortar) ao emprestar o próprio ouvido para o bebum que ficou embriagado por perder o emprego, por pegar sua mulher com outro cara ou a alguém que está com sérios problemas financeiros não sabe como sair deles.

O motoristas de taxis por dezenas de anos tem feito o mesmo (sendo solidário) ouvindo cada passageiro que entra e sai do seu veículo todos os dias. Cada um com seus problemas, indo do riso ao choro em questão de segundos quando descrevem a situação em que estão passando. E o taxista está ali...ainda mais presente que um deus virtual e mais prestativo que certos líderes religiosos, já que quando cobram alguma coisa é por reais serviços prestados, sem precisar fazer nenhum tipo de ameaça para conseguir dinheiro de ninguém.

Já foram a uma escola de música? Uma aula de dança? Um clube de assuntos filosóficos? E a um treino de artes marciais...? Só quem já esteve ou faz parte desses lugares sabe o quanto isso é reconfortante, revigorante e importante em dias turbulentos (e em dias felizes também).

Se um crente (ou líder religioso) justifica a abertura de seu clube social pelo fato de este trazer esperança e bem estar ao ser humano (ou aos seus membros), os líderes ou membros desses outros lugares que citei também poderia fazer o mesmo.

A única diferença é que quem vai a uma balada afirma honestamente o proposito pelo qual está alí, enquanto que quem vai a uma igreja mente ou disfarça dizendo ser deus a razão principal dos seus encontros, quando na verdade é a busca pela companhia do outro que os levam a tal recinto, já que para encontrar deus nem precisa procura-lo.

A outra diferença é que e a polícia ao chegar para desmanchar um culto, certamente será de modo ordeiro e respeitoso, enquanto que para desmanchar algum outro agrupamento, incluindo de camelôs que lutam para ganhar o pão, poderá ser na base da porrada, sem levar em conta que o motivo que leva um a aglomerar-se é o mesmo que leva o outro.

A grande questão é que pelo fato de a religião ser algo milenar, estima-se que um ato litúrgico seja mais importante que qualquer um outro, mais importante inclusive que a própria vida, esquecendo-se que sem vida ou sem fiéis também não há culto. Porém, o que mais pesa na “balança dos político” quando o quesito é a licença ao ritos de cultos, é que não há rebanho sem pastor ou seja: onde há um pastor, certamente haverá um rebanho, e desse modo haverá voto!

Enquanto o líder religioso se beneficia com o prestigio e rendimentos que o grupo pode oferecer, os líderes políticos se beneficiam do tráfico de influência, para que por meio desse apoio ao líder, obtenha aceitação do rebanho à sua própria pessoal ou que manipule a repulsa contra o opositor de ambos.

Os magistrados quando se deixam influenciar por esse jogo de interesses, podem ficar cegos à ponto de entenderem que uma igreja capaz de aglomerar 10 mil pessoas em um único culto, seja menos prejudicial à saúde pública nos dias em que vivemos do que o boteco da esquina que não consegue aglomerar nem 10 pessoas num total, tanto pela estrutura ou falta de atração e que mesmo assim tem servido de alívio para o tédios dos seus frequentadores.

As Pessoas não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Deus (segundo a crença cristã) pode!

Se um templo (que é apenas um clube social usando outro nome) não é um perigo é necessário repensar que outros agrupamentos poderiam ter suas atividades regulamentadas.

Se um templo é importante por que vai permitir que um pastor lucre (ou tire seu sustento), uma feira livre, um comércio, uma loja, ou qualquer outra atividade comercial ou cultural também é. Ou todos são importante ou nenhum será!

A justificativa para permissão de aglomerações sob pretexto da fé é um disfarce, uma mentira ou um evidente sinal de ignorância. É um desconhecimento da própria fé e um desprezo pelos atributos da própria divindade ou pela vida humana em tempos de crise.

Em pleno século 21 é importante que um crédulo repense os atributos do seu próprio deus e passa a usar mais “os seus serviços” que ele pode oferecer, solicitando inclusive atendimento domiciliar já que não estão podendo ir as igrejas.

Por outro lado, os não crentes ou qualquer um que sinta-se lesado ou injustiçado pelos políticos ou por legisladores que “declinam para onde vai o voto” deve também manifestar-se. Esperar pela justiça divina é que não dá! Formar um grupo grande com o mero intuito de chantagear os poderes como é comum aos que comercializam a fé, nos tornariam iguais a eles.

Planejar e apresentar argumentos sólidos ou projetos de leis que procurem igualar os cidadãos no que diz respeito aos direitos iguais para todos é o melhor caminho.

Enquanto nenhum deus descer dos seus e pessoalmente declarar sua vontade ao seu povo escolhido, nenhum homem nessa terra será maior que o outro pelo simples fato de acreditar em uma divindade e grupo nenhum deverá ter privilégios especiais em dias tenebrosos.

Pensem nisso! REVEJAM SEUS CONCEITOS!

Saúde e Sanidade a Todos!

Texto escrito em 7/4/21

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 08/04/2021
Código do texto: T7226889
Classificação de conteúdo: seguro